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Estamos presos com 25 kg de manga, dizem brasileiros em lockdown em Xangai

Casal de brasileiros estoca comida em meio ao lockdown rigoroso da China - Reprodução/CNN.com
Casal de brasileiros estoca comida em meio ao lockdown rigoroso da China Imagem: Reprodução/CNN.com

Do UOL, em São Paulo

12/04/2022 10h41Atualizada em 12/04/2022 19h36

Rodrigo Zeidan e Melissa Nogueira, brasileiros que vivem e trabalham em Xangai, na China, relataram dificuldades e a nova rotina do casal em meio ao lockdown decretado pelo governo local devido ao surto de casos de covid-19. A cidade tem 26 milhões de moradores e, somente na última sexta-feira (8), registrou o recorde de 21 mil casos de coronavírus.

Originalmente programado para terminar em 5 março, o confinamento foi ampliado e estendido indefinidamente, o que pegou muita gente despreparada —parte da população, por exemplo, não tem comida suficiente estocada em casa. Também houve correria a supermercados e mercearias.

À rede de TV americana CNN, os brasileiros disseram que o rigor do lockdown chinês os pegou de surpresa e que ambos precisaram recorrer a aplicativos de mensagens e a redes sociais, além de contar com a ajuda de vizinhos, que passaram a montar barracas na área comum do condomínio, para a troca de produtos e alimentos.

Não tivemos essa chance de comprar em massa. Nem nossos vizinhos. O rigor do bloqueio nos pegou despreparados, sem tempo para estocar. Mudamos para o modo de sobrevivência. (...) A comunidade se uniu para coordenar as compras diretamente dos produtores. Para cada categoria, havia um bate-papo em grupo: frutas, verduras, arroz, ovos, leite, etc. Melissa Nogueira, instrutora de idiomas

Rodrigo e Melissa passaram então a estocar os produtos —não para dias, mas para meses.

"Os limites mínimos de pedidos variaram muito. Fizemos um pedido de mangas e morangos. Eles chegaram. Fruta bonita e saborosa, mas o que você faz com 25 quilos de mangas, 6 quilos de morangos e 10 quilos de arroz para três pessoas?", questiona

O casal, que viveu a época da hiperinflação no início dos anos 1990 no Brasil, diz que a experiência também tem os ajudado a enfrentar o lockdown rigoroso da China.

Ajuda o fato de sermos ambos filhos da hiperinflação da América Latina. Da noite para o dia, nossas mentes correram para as lições aprendidas com o Brasil no início dos anos 1990. Naquela época, gastar o salário mensal o mais rápido possível era a norma. Como os preços podiam subir 10% ou mais a cada mês, todo mês não havia sentido em guardar dinheiro. Tem algum dinheiro no bolso? Gaste tudo antes que perca todo o seu valor. Relato de Melissa Nogueira à rede de TV CNN

"Assim, estocar comida era uma aventura familiar recorrente, em que o objetivo era gastar cada centavo, garantindo que a comida durasse até a chegada do próximo salário. As famílias compartilharam lições sobre como preservar alimentos a granel e usar o mesmo ingrediente de maneira diferente."

Nós nos perguntamos se isso é semelhante à nossa experiência de crescer sob hiperinflação no Brasil no início dos anos 1990 ou se é apenas nossas mentes nos pregando peças. Mas voltando à realidade. Há mangas para durar alguns meses - 25 quilos da fruta, para ser mais preciso. Melissa Nogueira

Recorde de casos de covid-19

Na última sexta-feira (8), Xangai anunciou um recorde de 21 mil novos casos e o terceiro dia consecutivo de testagem de covid-19, enquanto o lockdown imposto a seus 26 milhões de habitantes não mostrou sinais de arrefecimento.

Autoridades de Pequim decidiram intervir em Xangai após o fracasso em isolar a Covid com a aplicação do lockdown em etapas, e insistem que o país mantenha sua política de tolerância zero para impedir que o sistema médico entre em colapso.

O instituto Nomura estimou esta semana que 23 cidades chinesas implementaram lockdowns totais ou parciais, locais que coletivamente abrigam cerca de 193 milhões de pessoas e contribuem com 22% do PIB da China. Isso inclui Changchun, um importante centro de fabricação fechado por 28 dias.

Caso o lockdown de Xangai continue ao longo de abril, a cidade sofrerá uma perda de 6% no PIB, o equivalente a uma perda de 2% do PIB para a China como um todo, disse em nota a economista-chefe do ING para a Grande China Iris Pang.