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Macron acena à esquerda, impede vaia a Le Pen e diz ser presidente de todos

Do UOL, em São Paulo

24/04/2022 17h32

Reeleito presidente da França, Emmanuel Macron acenou para a esquerda e impediu vaias à candidata derrotada, Marine Le Pen, em seu primeiro discurso após a vitória.

Com uma abstenção quase recorde e a extrema-direita representada por 41,25%, Macron alcançava 58,55% dos votos, por volta das 22h40 (horário de Brasília).

Acompanhado da mulher, Brigitte Macron, o presidente se dirigiu ao Campo de Marte, em frente à Torre Eiffel, em Paris, para seu primeiro discurso. Ele iniciou sua fala agradecendo aos eleitores e equipe de campanha, informa o jornal francês Le Monde.

"Depois de cinco anos de transformações, de momentos felizes e difíceis, de crises excepcionais também, neste dia 24 de abril de 2022, a maioria de nós escolheu confiar em mim para presidir nossa República pelos próximos cinco anos", afirmou, sob aplausos.

A reeleição de Macron ocorreu em meio a forte descontentamento entre os jovens e os eleitores desiludidos do esquerdista Jean-Luc Mélenchon, que recebeu quase 22% dos votos no primeiro turno. A abstenção, entre 27,8% e 29,8% segundo as estimativas, atingiu o seu nível mais elevado em um segundo turno desde 1969 (31,3%).

Segundo o diretor de pesquisa da Ipsos France, "Macron é reeleito com cerca de 38% dos votos dos eleitores registrados, ante 43,6% há cinco anos".

"Este é o nível mais baixo desde Pompidou em 1969", escreveu no Twitter.

Voto útil

Macron não demorou muito para admitir que venceu graças ao voto útil da esquerda, que preferiu reelegê-lo a entregar o país a uma candidata de extrema-direita.

Sei que muitos de nossos compatriotas votaram em mim hoje não para apoiar as ideias que tenho, mas para bloquear a extrema-direita"
Emmanuel Macron, presidente reeleito da França

"Quero dizer a eles que estou ciente de que esse voto me prende nos próximos anos", continuou. "Sou o guardião do sentido de dever, do apego à República e do respeito pelas diferenças que se manifestaram nas últimas semanas."

Ainda em aceno à esquerda, Macron prometeu "uma nova era" que "não será a continuidade do mandato de cinco anos que está terminando".

Ele afirmou que os franceses votaram a favor de "um projeto republicano em seus valores, um projeto social e ecológico, um projeto baseado no trabalho e na criação, um projeto para libertar nossas forças acadêmicas, culturais, empresariais". Disse ainda que pretende "trabalhar por uma relação mais justa entre mulheres e homens".

Macron interrompe vaias a Le Pen

Macron impediu que os cerca de 3.000 apoiadores presentes vaiassem Le Pen com assobios.

Desde o início, pedi para vocês nunca assobiarem porque, a partir de agora, não sou mais o candidato de um campo, mas o presidente de todos."
Emmanuel Macron, presidente reeleito da França

A admissão de que parte dos votos que recebeu mirou "bloquear a extrema-direita" foi também uma resposta à ambientalista Sandrine Rousseu.

Assim que Macron foi considerado vencedor do pleito, ela cobrou o presidente reeleito.

"Acho que a pergunta é 'ele percebe que foi eleito com votos de esquerda? Ele está consciente?", questionou. "Fomos responsáveis 1.000 vezes [pelos votos recebidos por ele] nos dois turnos, mas ele mudará sua política?"

Ela pediu que os franceses renovem a Assembleia Nacional nas eleições legislativas, marcadas para junho, para que "o novo mandato de Macron não se assemelhe ao anterior e que, em última análise, este governo seja um governo de coabitação".

Promessas para segundo mandato

O primeiro mandato de Emmanuel Macron foi marcado por crises —protestos sociais, uma pandemia com milhões de pessoas confinadas e o retorno da guerra na Europa com a invasão russa à Ucrânia— que transformaram a França que ele assumiu em 2017.

Agora, suas promessas de transformar o país incluem mais investimento na energia nuclear, a neutralidade de carbono até 2050 e sua impopular proposta de aumentar a idade de aposentadoria de 62 para 65 anos. Essa medida, contra a qual milhares de pessoas já se manifestaram no início de 2020, anuncia novos protestos massivos, como os que abalaram seu primeiro mandato, especialmente o dos "coletes amarelos".

A guerra às portas da UE sobrevoou a campanha, mas a principal preocupação dos franceses era seu poder de compra, num contexto de alta dos preços da energia e dos alimentos. Embora Marine Le Pen fosse percebida pelos eleitores como a que melhor entendia os problemas da população, no fim, optaram pela experiência de Macron para lidar com crises, segundo observadores.

Sobre a guerra na Ucrânia, Macron foi sucinto em seu discurso de vitória. Ele afirmou que a Ucrância "está aí para nos lembrar que estamos passando por tempos trágicos" e que, por isso, seus apoiadores precisam ser "benevolentes e respeitosos (...) porque nosso país está mergulhado em tantas dúvidas, tantas divisões".

(Com informações da RFI)