Quadros, Bíblia rara e peças de ouro: veja o que sumiu de museus da Ucrânia
O conselho da cidade de Mariupol, grande ponto de resistência à invasão russa no leste da Ucrânia, anunciou que mais de 2.000 objetos que estavam expostos em museus da cidade desapareceram e acredita-se que foram levados pelo exército russo para a cidade de Donetsk, no leste separatista dominado pela Rússia.
Entre as peças retiradas da cidade ucraniana estão trabalhos dos pintores Ivan Aivazovsky, um dos grandes nomes da arte romântica russa, conhecido como um dos mestres das pinturas de temática marítima, e Arkhip Kuindzhi, natural de Mariupol e conhecido como um dos principais expoentes da arte realista na Rússia —além de Andriy Yalansky, Oleksandr Olkhov, Mykola Hlushchenko, Tetyana Yablonska, Mykhailo Derehus, entre outros.
Em março, o museu dedicado a Kuindzhi na cidade foi destruído após um bombardeio russo, segundo a mídia ucraniana. Lá estavam expostos cartas, fotografias, documentos bem como a fonte em que o pintor foi batizado e cópias de suas pinturas. As telas originais, no entanto, não estavam no museu no momento do ataque, disse o chefe da União Nacional dos Artistas da Ucrânia, Konstantin Chernyavsky.
Também teria sido levada uma coleção de mais de 200 medalhas de metal, que estava exposta no Museu de Arte de Mykolaiv —último reduto da resistência ucraniana em Mariupol.
As peças eram do acervo do artista Yukhym Harabet e foram doadas pela esposa do artista, Svitlana Otchenashenko-Harabet, que morreu neste mês, durante o cerco russo à cidade.
Um pergaminho da Torá, o livro sagrado do Judaísmo, e um exemplar da Bíblia datado de 1811, feito por uma casa de impressão veneziana para os gregos da cidade, também constam na lista de itens retirados da cidade.
O conselho está preparando um documento para iniciar um processo criminal e um apelo à Interpol para que auxilie na recuperação destes objetos valiosos.
Até o momento, a Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) já contabilizou danos a mais de 110 locais culturais diferentes desde o início da guerra.
Destes, 16 se localizam na cidade de Mariupol, sendo que, além do Museu de Arte Kuindzhi, o Museu de História Local também foi destruído em um bombardeio russo.
O Palácio da Cultura de Mariupol foi danificado, além de diversas igrejas e ruínas históricas localizadas na região.
Museus esvaziados em Melitopol
Em Melitopol, cidade na mesma região, a zeladora do Museu de Lore Local, Leila Ibrahimova, disse ao jornal The New York Times que soldados russos com metralhadoras teriam roubado 198 itens, incluindo várias peças de ouro de 2.300 anos que datam do Império Cita.
O museu possui "uma das maiores e mais caras coleções da Ucrânia", segundo o prefeito de Melitopol, Ivan Fyodorov.
Os relatos são de que um homem de jaleco branco com "pinças longas e luvas especiais" selecionou os objetos escondidos no porão do museu junto com um grupo de soldados russos.
Guerra destrói símbolos
Desde o começo da guerra, em 24 de fevereiro, a cidade portuária de Mariupol, na beira do mar Negro, foi uma das mais atacadas. Em 4 de abril, o prefeito afirmou que 90% da cidade estava destruída e 40% de suas infraestruturas eram "irrecuperáveis". Em seguida, o complexo siderúrgico de Azovstal foi dominado.
Para os russos, a conquista total da cidade portuária de Mariupol permite unir os territórios conquistados no sul, em particular a península da Crimeia, anexada em 2014, com as repúblicas separatistas pró-Rússia de Donetsk e Lugansk ao leste.
O exército russo focou os esforços nessa região para garantir que ela fosse anexada à Rússia.
Embora a maioria dos museus e galerias tenha sido fechada logo que se iniciou a invasão, os funcionários de cultura têm se empenhado para salvar obras de arte e objetos valiosos que seguem expostos a ataques incendiários.
Instituições culturais importantes foram destruídas. Como o Teatro Dramático de Mariupol, transformado em escombros depois que centenas teriam procurado abrigo em seus porões.
Poucos dias antes, também o Mosteiro Rupestre de Sviatohirsk, na região oriental de Donetsk, o mais antigo convento da Ucrânia, datando de 1526, foi seriamente danificado pelos bombardeios comandados por Moscou.
Agora a proteção dos bens culturais se torna uma parte crescente dos esforços humanitários para mitigar a guerra, tanto a partir da Ucrânia quanto em âmbito internacional.
Desde o primeiro dia da invasão, o coletivo de artistas Asortymentna Kimnata (Sala Variada), sediado na galeria de arte contemporânea Ivano-Frankivsk, no oeste do país, se apressa em evacuar e salvaguardar obras de quem conta com pouco patrocínio ou apoio.
Em locais não revelados, o coletivo criou diversos bunkers de armazenamento, e tem recebido pedidos de assistência para evacuação de galerias de Kiev, Mariupol, Odessa, Zaporíjia e outras cidades.
"Cuidamos para não perder objetos de arte visual, nem na retaguarda, nem perto do front. Afinal de tudo, esta guerra é também, claro, uma guerra de culturas", afirma Alyona Karavai, uma cofundadora do coletivo.
Quase 20 museus de quatro regiões receberam ajuda financeira para salvar seus objetos de exposição, com prioridade para as instituições de pequenas cidades e vilarejos do leste e sul a Ucrânia, epicentros da agressão militar russa.
O Fundo Emergencial para a Arte também foi criado para "lidar com as consequências da invasão russa e as ameaças que a guerra representa para a comunidade artística ucraniana".
Bienal de Veneza
A obra Fonte de exaustão, do escultor Pavlo Makov, de 63 anos, baseado em Carcóvia, é a peça central do Pavilhão da Ucrânia na Bienal de Veneza —se constitui de 72 funis de cobre organizados em forma de pirâmide, por onde água flui com dificuldade.
Ela foi transportada de Kiev para a Áustria, a fim de garantir que a exposição possa se realizar em abril, mas o artista ainda se encontra num abrigo da cidade bombardeada.
Carcóvia
Com uma das mais valiosas coleções de arte da Ucrânia, o Museu de Arte Carcóvia foi alvo de bombas russas e está exposto à umidade e a extremos de temperatura.
Funcionários tentam salvar cerca de 25 mil objetos, distribuindo-os em armazéns. Muitas das obras são de artistas russos.(Com informações da AFP)
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