Rússia toma Mariupol, amplia ataques no Donbass e corta gás da Finlândia
No 87º dia de guerra, a Rússia anunciou a queda de Mariupol e intensificou os ataques na região separatista do Donbass, no Leste da Ucrânia. Ao mesmo tempo, retaliou a Finlândia pela decisão de entrar na Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) e cortou o fornecimento de gás para o país escandinavo.
A guerra na Ucrânia pode ser encerrada somente por meios "diplomáticos" - declarou o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, neste sábado (21), embora as negociações entre Moscou e Kiev estejam em ponto morto. "O fim [do conflito] será diplomático", disse ele em entrevista a um canal de televisão ucraniano. A guerra "será sangrenta, haverá combates, mas terminará, com certeza, por meio da diplomacia", acrescentou.
Após um longo cerco, o porta-voz do Ministério da Defesa russo anunciou a queda das defesas ucranianas no complexo siderúrgico de Azovstal, onde as últimas defesas da cidade se concentraram. Segundo o representante da Rússia, o presidente Vladimir Putin foi informado que a área havia "passado para o controle total das forças armadas russas", após a rendição dos últimos soldados ucranianos.
Imagens divulgadas por Moscou mostraram grupos de homens em equipamentos de combate saindo da siderúrgica, alguns com muletas ou bandagens, após uma longa batalha que se tornou um símbolo da resistência ucraniana à invasão russa.
"O alto comando militar deu a ordem de salvar a vida dos soldados de nossa guarnição e parar de defender a cidade", disse em um vídeo no Telegram o comandante do regimento Denys Prokopenko, com um grande curativo no braço direito, e no que parecia ser uma sala subterrânea. Kiev rejeita o termo rendição, e o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky refere-se à operação como "o resgate de nossos heróis".
A tomada de Mariupol era considerada prioridade pelo comando russo tanto por uma questão estratégica, quanto de propaganda. Esse avanço garante às tropas russas total controle do Mar de Azov —que liga por via marítima a própria Rússia, a região da Crimeia (tomada da Ucrânia em 2014) e o sul ucraniano, que tem em Mariupol seu principal porto.
Por outro lado, a cidade é o berço do Batalhão Azov —grupo ultranacionalista de origem paramilitar. Entre os componentes dessa tropa há muitos neonazistas, fato utilizado por Putin para justificar a invasão da Ucrânia. Em diversas ocasiões, o presidente russo disse que iria "desnazificar" a Ucrânia.
Avanço no Donbass
Os esforços militares russos agora se concentram na região do Donbass, no extremo leste ucraniano parcialmente controlada desde 2014 por separatistas pró-Rússia. O ministro da Defesa russo, Sergei Shoigu, garantiu que a conquista da região de Lugansk estava "quase completa".
"As forças russas e a milícia popular das repúblicas populares de Lugansk e Donetsk continuam mantendo o controle no território do Donbass. A libertação da República Popular de Lugansk quase acabou", declarou o ministro, citado pelas agências russas.
Já o porta-voz do Ministério da Defesa ucraniano, Oleksandre Motouzianyk, revelou que a situação "mostrou sinais de piora" e que "as forças de ocupação russas estão conduzindo fogo intenso ao longo de toda a linha de frente".
O Ministério russo da Defesa anunciou que suas forças destruíram, usando mísseis de longo alcance, um grande carregamento de armas enviado pelos Estados Unidos e por países europeus. Segundo a pasta, as armas estavam destinadas às forças ucranianas estacionadas no Donbass.
Corte do fornecimento de gás para a Finlândia
A Rússia também concretizou a interrupção do fornecimento de gás natural para a Finlândia. A decisão ocorre em retaliação à entrada do vizinho escandinavo na Otan.
A justificativa para o corte do gás —utilizado para o aquecimento de casas e demais imóveis durante o inverno — foi a recusa dos finlandeses de pagar pelo fornecimento em moeda russa. O rublo sofreu forte desvalorização após os embargos econômicos impostos pelos Estados Unidos e a União Europeia após a invasão da Ucrânia.
"As entregas de gás para a Finlândia sob o contrato de fornecimento da Gasum foram cortadas", disse a empresa finlandesa em um comunicado, acrescentando que, a partir de agora, o abastecimento será feito pelo gasoduto Balticconnector, que conecta Estônia e Finlândia.
Pouco depois, a gigante russa Gazprom confirmou a interrupção do fornecimento, indicando que havia "parado completamente as entregas de gás (...) no fim do dia 20 de maio", porque a Gasum não havia feito seus pagamentos em rublos.
Ajuda americana
O presidente do Estados Unidos, Joe Biden assinou hoje (21) um pacote de ajuda de US$ 40 bilhões à Ucrânia - financiamento destina-se a apoiar o país do Leste Europeu pelos próximos cinco meses e deve ser utilizado, entre outras coisas, para assistência militar, apoio econômico geral, e para enfrentar a escassez de alimentos.
O auxílio, aprovado com o apoio dos democratas e da grande maioria dos republicanos na Câmara e no Senado, aprofunda o compromisso dos EUA com a Ucrânia num momento de incerteza sobre o futuro da guerra, prestes a entrar em seu quarto mês, e que promete se estender.
O governo russo anunciou que proibiu a entrada de 963 norte-americanos, incluindo o presidente Joe Biden, informou a agência Interfax. A lista publicada pelo Ministério das Relações Exteriores da Rússia também veta o acesso ao território russo do secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, e o chefe da CIA, William Burns.
As proibições têm apenas um impacto simbólico, mas foram decretadas em resposta às sanções aplicadas pelo governo americano a Moscou por causa da guerra iniciada no dia 24 de fevereiro na Ucrânia.
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