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Sri Lanka tem invasão de TV e de sede oficial após fuga de presidente; veja

Do UOL*, em São Paulo

13/07/2022 09h44Atualizada em 13/07/2022 11h59

O Sri Lanka, país insular ao sul da Índia, vive meses de protestos, que culminaram na invasão da sede do governo e do canal de TV estatal por manifestantes.

Hoje, o presidente Gotabaya Rajapaksa, fugiu para as Maldivas. O país declarou estado de emergência e o primeiro-ministro, Ranil Wickremsesinghe, foi nomeado presidente interino.

Veja o que está acontecendo no Sri Lanka:

Crise econômica

O Sri Lanka enfrenta uma das piores crises econômicas desde a sua independência, em 1948. Há escassez de alimentos e combustível, longos apagões e inflação crescente após o país ficar sem reserva de moedas estrangeiras para importações.

A tensão e o descontentamento aumentaram na ilha no final de março, quando as autoridades impuseram cortes de energia de mais de 13 horas, o que levou a população a sair às ruas para exigir a demissão do governo. Desde então, centenas de manifestantes se instalaram nas proximidades da sede do governo na capital Colombo, e protestos são constantes em todo o país.

Em maio, pela primeira vez na história, o Sri Lanka deixou de pagar sua dívida externa de US$ 51 bilhões e está em negociações de resgate com o FMI (Fundo Monetário Internacional).

As autoridades também proibiram a venda de gasolina e diesel para consumidores privados, pedindo que a população de 22 milhões trabalhe remotamente. As escolas fecharam.

Polícia usa gás lacrimogêneo para dispersar os manifestantes que exigem a renúncia do presidente do Sri Lanka, Gotabaya Rajapaksa, em Colombo - AFP - AFP
9.jul.2022 - Polícia usa gás lacrimogêneo para dispersar os manifestantes que exigem a renúncia do presidente do Sri Lanka, Gotabaya Rajapaksa, em Colombo
Imagem: AFP

O governo atribui as dificuldades à pandemia, que freou o setor de turismo, um dos mais importantes da economia local. Entretanto, o país importa US$ 3 bilhões em produtos a mais por ano do que exporta, motivo pelo qual as reservas de moeda estrangeira teriam acabado.

Fuga do presidente

No último fim de semana, o presidente do país, Gotabaya Rajapaksa já havia prometido que renunciaria ao cargo, após milhares de pessoas invadirem a residência oficial na capital Colombo. Ele estava escondido desde então.

Nesta manhã, ele, a esposa e dois guarda-costas embarcaram em uma aeronave militar, e pousaram em Malé, capital das Maldivas.

Como ainda não renunciou ao cargo, ele tem imunidade. Acredita-se que ele queria ir para o exterior antes de deixar a função para evitar a possibilidade de ser preso por um novo governo. A família de Rajapaksa governava o Sri Lanka há décadas.

Manifestantes nadaram na piscina da casa oficial do presidente do Sri Lanka - Dinuka Liyanawatte/Reuters - Dinuka Liyanawatte/Reuters
Manifestantes nadaram na piscina da casa oficial do presidente do Sri Lanka
Imagem: Dinuka Liyanawatte/Reuters

Festa popular na residência oficial

Rajapaksa deixou a residência oficial na última sexta-feira (9), após o anúncio de que haveria protestos no fim de semana.

Isso não impediu, porém, que os manifestantes marchassem rumo à casa do presidente para reivindicar que ele renunciasse. Imagens mostram milhares de pessoas cercando o local.

Pessoas entram na casa do presidente depois que o mandatário Gotabaya Rajapaksa fugiu, em meio à crise econômica do país, em Colombo, Sri Lanka - ADNAN ABIDI/REUTERS - ADNAN ABIDI/REUTERS
13.jul.22 - Pessoas entram na casa do presidente depois que o mandatário Gotabaya Rajapaksa fugiu, em meio à crise econômica do país, em Colombo, Sri Lanka
Imagem: ADNAN ABIDI/REUTERS

Depois que conseguiram entrar, os cingaleses fizeram a festa dentro da mansão da era colonial. Vídeos publicados nas redes sociais exibem pessoas nadando na piscina, tocando piano e até tomando banho no chuveiro e dormindo no sofá.

Invasão da TV estatal

Hoje, mais cingaleses insatisfeitos conseguiram entrar na sede do principal canal de televisão público do país e apareceram por alguns minutos no ar.

Um homem não identificado entrou no estúdio do canal Rupavahini durante uma transmissão ao vivo e afirmou que só deveriam ser exibidas notícias relacionadas com os protestos.

A transmissão foi interrompida e substituída por um programa gravado.

O que acontece agora

Manifestantes comemoram após entrar no prédio do escritório do primeiro-ministro do Sri Lanka, Ranil Wickremesinghe, em meio à crise econômica do país, em Colombo, Sri Lanka - ADNAN ABIDI/REUTERS - ADNAN ABIDI/REUTERS
13.jul.22 - Manifestantes comemoram após entrar no prédio do escritório do primeiro-ministro do Sri Lanka, Ranil Wickremesinghe, em meio à crise econômica do país, em Colombo, Sri Lanka
Imagem: ADNAN ABIDI/REUTERS

O presidente do Parlamento, Mahinda Yapa Abeywardena, disse em declaração por vídeo que conversou por telefone com o presidente nesta quarta-feira, e que Rajapaksa lhe garantiu que enviará uma carta de renúncia até o final do dia.

Nomeado presidente interino durante a ausência de Rajapaksa, o premiê Wickremesinghe também assume automaticamente o cargo em caso de renúncia do presidente, mas ele próprio anunciou sua disposição de renunciar se houver consenso sobre a formação de um governo de unidade.

O processo de sucessão pode levar entre três dias - o tempo mínimo necessário para o parlamento eleger um deputado para assumir o mandato de Rajapaksa, que termina em novembro de 2024 - e um máximo de 30 dias permitidos pelo estatuto.

É provável que o presidente do Parlamento assuma o comando do país até que um novo presidente seja eleito. A votação deve ocorrer no dia 20 de julho.

O líder do principal partido da oposição, Sajith Premadasa, que perdeu as eleições presidenciais de 2019 para Rajapaksa, disse que disputará o cargo. Alguns membros do atual partido no poder também sugeriram a ideia de Wickremesinghe concorrer oficialmente à presidência.

A ideia, porém, não agrada os manifestantes, que invadiram o gabinete do primeiro-ministro e pediram que ele renuncie também.

O primeiro-ministro Wickremesinghe, designado como presidente interino pelo Parlamento, pediu ao exército e à polícia que "façam o necessário para restabelecer a ordem", em um discurso exibido na TV. "Os manifestantes querem impedir que eu cumpra minhas responsabilidades como presidente interino. Não podemos permitir que os fascistas tomem o controle", disse.

Manifestantes olham pelas janelas após entrarem no prédio do escritório do primeiro-ministro do Sri Lanka, Ranil Wickremesinghe, em meio à crise econômica do país, em Colombo, Sri Lanka - ADNAN ABIDI/REUTERS - ADNAN ABIDI/REUTERS
13.jul.22 - Manifestantes olham pelas janelas após entrarem no prédio do escritório do primeiro-ministro do Sri Lanka, Ranil Wickremesinghe, em meio à crise econômica do país, em Colombo, Sri Lanka
Imagem: ADNAN ABIDI/REUTERS

*Com Deutsche Welle e AFP