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Diana, guerras, crises: 6 vezes em que reinado de Elizabeth 2ª foi abalado

Rainha Elizabeth 2ª - Toby Melville
Rainha Elizabeth 2ª Imagem: Toby Melville

Lorraine Perillo

Colaboração para o UOL

09/09/2022 11h44Atualizada em 12/09/2022 09h10

Morreu ontem, aos 96 anos, a rainha Elizabeth 2ª, chefe de Estado do Reino Unido e da Commonwealth. Após preocupações constantes com a sua saúde, médicos pessoais da monarca convocaram membros da família real para irem até o palácio de Balmoral, na Escócia, a fim de ficarem ao lado da rainha em seus últimos momentos.

Durante 70 anos de reinado, a rainha Elizabeth 2ª viu sua monarquia chegar à beira de um colapso em diversos momentos. Ao longo das décadas, Sua Majestade Real enfrentou crises que variam de troca repentina de primeiros-ministros em seu Parlamento; o pós-Guerra Mundial; a repercussão envolvendo o divórcio e a trágica morte da princesa Diana; e o Brexit — saída do Reino Unido da União Europeia.

Rainha Elizabeth 2ª

1. Império em pedaços após Segunda Guerra Mundial

Coroada em 1953, após a morte repentina de seu pai, George 6º, a rainha Elizabeth 2ª foi a chefe de Estado do Reino Unido e de quatorze Estados independentes chamados de Commonwealth (Reinos da Comunidade de Nações). Logo no início de seu reinado, a rainha precisou restabelecer seus países após a devastadora Segunda Guerra Mundial (1939-1945), que deixou o império aos pedaços.

De acordo com arquivos da rede televisiva britânica "BBC", em sua mensagem de Natal do ano de 1953, Sua Majestade Real explicou que a "Commonwealth não é como os impérios do passado" e reconheceu que a monarquia precisava se adaptar à nova realidade do pós-guerra.

"É uma concepção completamente nova, construída sobre as mais altas qualidades do espírito humano: amizade, lealdade e desejo de liberdade e paz.", comunicou. "A esta nova concepção de uma associação igualitária de nações e raças me entregarei de corpo e alma todos os dias da minha vida", prometeu.

2. Crise inflacionária de 1974 e ataques do IRA

Ao longo dos anos 1970, o Reino Unido sofreu com mais uma crise inflacionária que deixou os nervos à flor da pele e gerou uma onda de ataques sangrentos cometidos pelo grupo extremista IRA (Exército Republicano Irlandês). Um dos principais atentados ocorreu em 21 de novembro de 1974, em dois pubs em Birmingham, na Inglaterra, deixando 21 mortos.

À época, os "seis de Birmingham", como ficaram conhecidos os autores do atentado, foram absolvidos dos ataques em 1991, após revelações de que eles foram coagidos a confessar. No entanto, em 2020, após incessantes investigações, o autor foi preso aos 65 anos.

3. Escândalos com os filhos: casamentos conturbados e acusação de abuso sexual

Casada por 75 anos com príncipe Phillip (1952-2021), Duque de Edimburgo, a rainha Elizabeth teve quatro filhos: Andrew, Anne, Charles e Edward. Tanto príncipe Andrew quanto príncipe Edward se envolveram em escândalos com seus respectivos casamentos, sendo que o primeiro é acusado de abuso sexual.

O príncipe Andrew se envolveu em um dos maiores escândalos da história da monarquia britânica atual. Uma ação movida por Virginia Roberts Giuffre, suposta vítima do duque de York e do também acusado por crimes sexuais, Jeffrey Epstein.

Segundo uma reportagem apurada pela "CNN", Giuffre disse publicamente que "foi forçada a praticar atos sexuais com o príncipe Andrew da Grã-Bretanha, dizendo ainda à BBC em 2019 que foi traficada por Epstein e forçada a fazer sexo com o duque quando ainda era menor de idade." Todas as acusações foram negadas por Andrew, mas gerou uma crise no palácio, fazendo com que o Duque precisasse ser afastado de seus deveres reais.

Em declaração oficial para a CNN à época, o Palácio de Buckingham negou veemente todas as afirmações contra o Duque: "Negamos enfaticamente que o duque de York teve qualquer forma de contato ou relacionamento sexual com Virginia Roberts. Qualquer alegação em contrário é falsa e sem fundamento."

O escândalo de Andrew, no entanto, não foi o primeiro enfrentado pela monarquia britânica, que teve que lidar com o irmão do rei George 6º, pai de Elizabeth. Edward 8º abdicou do trono logo após a morte do irmão para casar-se com uma socialite norte-americana, deixando a coroa para Elizabeth.

4. Incêndio no Castelo de Windsor

Em 20 de novembro de 1992, a residência real, o lendário Castelo de Windsor localizado em Berkshire, na Inglaterra, foi tomada por fogo. A Ala Superior, onde ficam os Apartamentos de Estado, foi reduzida a cinzas em um incêndio que durou mais de 15 horas, mas o prejuízo não foi muito grande já que boa parte dos aposentos havia sido esvaziada em decorrência de uma obra na Capela Privada.

5. Princesa Diana: casamento, divórcio e morte

Rainha Elizabeth no casamento de Princesa Diana e Príncipe Charles - Wally McNamee/Corbis via Getty Images - Wally McNamee/Corbis via Getty Images
Rainha Elizabeth no casamento de Princesa Diana e Príncipe Charles
Imagem: Wally McNamee/Corbis via Getty Images

Príncipe Charles, herdeiro direto ao trono britânico, casou-se com Diana Spencer em 1981, transformando a terceira filha do 8º Conde Spencer em princesa de Gales. Seu casamento durou 14 anos e gerou dois filhos, William e Harry. Em 1996, foi anunciado o divórcio dos dois e a vida de Diana, que já era monitorada de perto por conta de seus feitos, passou a ser constantemente vigiada.

Lady Di tornou-se um dos principais símbolos da luta contra a Aids e seu auxílio a centenas de organizações filantrópicas e de caridade fez com que ficasse conhecida como "a princesa do povo", tornando-a um dos membros mais caridosos da realeza britânica. No entanto, sua passagem pela monarquia foi marcada por polêmicas devido ao seu casamento conturbado com Charles.

Além de não seguir protocolos reais bastante rigorosos, como o uso de certos vestuários, Diana não se incomodava em dar declarações, principalmente sobre o envolvimento do marido com Camilla Parker, Duquesa da Cornualha e atual esposa de Charles. A crise maior se deu quando Lady Di se envolveu com Dodi Al Fayed, empresário e herdeiro das lojas Harrods. O envolvimento aconteceu um ano após o divórcio de Diana com príncipe Charles, mas deixou a monarquia britânica em alerta por conta de suas aparições na imprensa.

Em 31 de agosto de 1997, Lady Di morreu após um acidente em Paris, após um jantar no hotel Ritz com Al Fayed. Dodi e seu motorista também morreram após o carro em que os três estavam colidir com as paredes do túnel Pont del L'Alma na Cidade-Luz. À época, os paparazzi que perseguiam o casal foram culpados pelo desastre, mas depois de meses de investigação foi constatado que Henri Paul, motorista do veículo, estava alcoolizado e muito acima do limite de velocidade. Apenas o segurança pessoal de Al Fayed, Trevor Rees-Jones, sobreviveu ao acidente.

A morte de Diana causou um impacto gigantesco no Reino Unido, devido ao carinho que o povo britânico sentia pela princesa. A crise na monarquia se instalou por omissão da rainha Elizabeth em prestar homenagens à princesa. Passando as férias escolares dos netos em Balmoral, na Escócia, no momento da morte de Diana, a rainha tentou ao máximo não perturbar seus dois netos com as notícias.

Enquanto isso, tanto o Palácio de Buckingham quanto o Palácio de Kensington, em Londres, amanheceram tomados de flores e homenagens.

À época, o jornal britânico "The Sun" também reportou que, além do silêncio real, a ausência da bandeira a meio mastro — ato de respeito em que o país decreta luto pela morte de um representante — foi considerada "um insulto cruel à memória de Diana". Somente um dia antes do funeral, realizado no dia 6 de setembro de 1997, a rainha se manifestou em rede televisiva prestando sua homenagem à ex-esposa de seu filho.

Durante o funeral, centenas de milhares de pessoas foram às ruas para lamentar a morte de Diana e prestarem uma última homenagem.

6. Brexit: a saída do Reino Unido da União Europeia

Iniciado em referendo em 2016, o processo de saída do Reino Unido da União Europeia gerou uma crise sem precedentes para a monarquia britânica. Sendo o primeiro país a sair, em 2020, o Reino Unido encarou uma série de controvérsias, uma vez que boa parte dos políticos não concordava com os termos e o processo só seria iniciado após aprovação do Parlamento britânico.

Theresa May, então primeira-ministra pelo Partido Conservador (2016-2019), foi a responsável por seguir com a vontade de sair da União Europeia, após seu predecessor, David Cameron, abandonar o posto. May, então, foi obrigada a pedir uma nova data para a conclusão do Brexit mas, após perder apoio de seu próprio partido, ela se demitiu do cargo. A lei britânica, no entanto, não prevê novas eleições em caso de demissão, então um novo primeiro-ministro foi escolhido dentro do próprio Partido. Boris Johnson ocupou o cargo e deu seguimento ao processo.

Após meses de intensas negociações, o Reino Unido conseguiu, enfim, um acordo para a saída do bloco econômico em outubro de 2019. Como consequência, a libra esterlina (moeda local) sofreu uma enorme queda, assim como a bolsa e o mercado imobiliário, causando uma perda de contribuição monetária do Reino Unido.

Errata: este conteúdo foi atualizado
O casamento do príncipe Charles com Diana aconteceu em 1981. O texto já foi corrigido.