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Gripe aviária: Inglaterra investiga galinhas que viram canibais em lockdown

Galinhas em fazendas do Reino Unido deverão permanecer confinadas durante surto; criadores alertam que restrição as tornam mais agressivas e as fazem adotar comportamento canibal   - Getty Images/iStockphoto
Galinhas em fazendas do Reino Unido deverão permanecer confinadas durante surto; criadores alertam que restrição as tornam mais agressivas e as fazem adotar comportamento canibal Imagem: Getty Images/iStockphoto

Mateus Omena

Colaboração para o UOL, em São Paulo

07/11/2022 12h41

Os criadores de frango de uma fazenda em Cotswolds, no Reino Unido, alertaram que manter as aves em espaços confinados para controlar surtos de gripe aviária pode resultar em canibalismo. O governo inglês investiga o comportamento para decidir os próximos passos para a prevenção da doença.

A revelação surgiu depois que o governo britânico anunciou que todas as aves devem ser mantidas em cativeiro a partir de hoje, em razão de um aumento expressivo no número de casos detectados de gripe aviária em aves selvagens e naquelas criadas em fazendas, informou o jornal britânico The Telegraph.

De acordo com a vigilância sanitária, esse é o maior surto de gripe aviária de todos os tempos no país.

Diante da determinação, todos os criadores de aves são obrigados a manter os animais em ambientes fechados e implementar medidas rigorosas de biossegurança para ajudar a protegê-los da ameaça, independentemente do tipo ou tamanho dos animais.

Em entrevista à rádio BBC, o fazendeiro Anthony Allen, proprietário da Cotswolds Chickens, alertou que forçar as aves, especialmente as galinhas, a permanecerem em um espaço fechado pode afetar o comportamento delas, deixando-as mais agressivas.

"O regulamento estipula um tipo de lockdown, no qual galinhas devem ser mantidas dentro de um espaço confinado. Sem tentar ser muito detalhado e técnico sobre isso, forçá-las a viver nessa condição pode trazer todos os tipos de problemas, resultando em canibalismo. Portanto, não é o ideal, mas claramente temos um desafio e temos que fazer algo a respeito", declarou.

Allen também criticou o governo por não ter elaborado uma estratégia mais eficiente, apoiada na aplicação de vacinas para controlar o surto.

Christine Middlemiss, diretora do departamento de medicina veterinária do Reino Unido, esclareceu o motivo para as vacinas não serem a principal solução para a gripe aviária.

Segundo a especialista, anteriormente a vacinação só acontecia em "circunstâncias muito excepcionais" na Inglaterra para aves de zoológico, porque a vacina disponível no momento não é "eficaz contra esta cepa atual" do vírus.

Christine também apontou que há uma dificuldade para distinguir as aves que foram infectadas e aquelas que foram vacinadas. Esse procedimento é importante quando se trata de declarar se um país está livre de um vírus.

Ao reforçar que a vacina disponível não seria capaz de lidar com o surto de gripe aviária no momento, Christine insiste que manter as aves confinadas reduziria o risco de infecção de aves selvagens em duas vezes.

Ela explicou que o bloqueio total do contato entre as aves de fazenda e as selvagens também reduziria em 44 vezes o risco de infecção. De qualquer modo, também seriam necessárias medidas rígidas como o uso de roupas de proteção e controle de água e ração para manter o vírus longe das propriedades.

Os profissionais da vigilância sanitária estão realizando simulações de emergência para que estejam prontos para agir, caso o vírus da gripe aviária também se torne perigoso para humanos.

"Como esta é uma doença zoonótica, ela tem o potencial de infectar pessoas. Nós, do Departamento de Medicina Veterinária, estamos nos preparando, junto à Agência de Segurança da Saúde do Reino Unido, para esse cenário", finalizou Christine Middlemiss.