COP27 tem crítica a Bolsonaro e dobradinha entre Macron e Maduro
No segundo dia da COP27 (27ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas), o presidente Jair Bolsonaro (PL) foi criticado de maneira indireta no discurso do ambientalista Al Gore, ex-vice presidente dos Estados Unidos. Em sua fala no evento, ele disse que o Brasil "escolheu parar de destruir a Amazônia", em referência à vitória do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), na eleição do último dia 30.
Já o presidente da França, Emmanuel Macron, chamou a atenção por uma conversa nos bastidores da conferência com o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro. Em uma interação amistosa, de um minuto e meio, ele convidou o líder venezuelano a "realizar um trabalho bilateral útil" para a América Latina.
Nesta segunda (7), além de Al Gore, Macron e Maduro, também participaram do evento o secretário-geral da ONU (Organização das Nações Unidas), António Guterres, e chefes de Estado de países como Alemanha, França e Itália. Eles fizeram pronunciamentos no encontro, sediado na cidade de Sharm El-Sheik, no Egito. O evento, que começou ontem, vai até o próximo dia 18.
Al Gore celebra derrota de Bolsonaro. Sem citar diretamente o nome do presidente brasileiro, o ex-vice-presidente americano Al Gore (que ocupou o cargo na gestão de Bill Clinton, de 1993 a 2001) comemorou a eleição de Lula. Segundo ele, a mudança de poder no Brasil é um motivo de esperança.
Nós precisamos de mais, mas temos a base para a esperança. Apenas dias atrás, o povo do Brasil escolheu parar com a destruição da Amazônia
Al Gore, ex-vice presidente dos EUA, em discurso na COP27
O americano citou a proteção à floresta amazônica ao falar sobre os desafios que o mundo precisa enfrentar para interromper o aquecimento global e reduzir o uso de combustíveis fósseis. Al Gore instigou os países a tirarem "o pé do acelerador" para combater as mudanças climáticas.
"Precisamos tirar o pé do acelerador. Precisamos obedecer a primeira lei dos buracos: quando estiver em um, pare de cavar. Temos que parar de piorar essa crise", afirmou.
Cobrança do presidente francês. Em seu discurso oficial, Macron cobrou medidas dos EUA e da China no combate às mudanças climáticas, já que, segundo ele, os países europeus "são os únicos que pagam" para que os países pobres reduzam emissões. O presidente francês afirmou que as nações emergentes "têm que abandonar rapidamente" fontes de energia como o carvão.
Estreia de Giorgia Meloni. A primeira-ministra da Itália, Giorgia Meloni, fez hoje sua estreia no evento. Eleita para o cargo no final de outubro, ela usou a tribuna para confirmar o compromisso de seu governo na luta contra as mudanças climáticas.
A premiê italiana disse que o país "continua fortemente convencido do compromisso com a descarbonização, em conformidade com os objetivos da COP de Paris [em 2015]", e ressaltou que é necessário "desenvolver a energia diversificando-a em estreita colaboração com os países africanos".
Meloni, que também teve encontros bilaterais com outros chefes de Estado, chegou à COP27 em meio a críticas da oposição por ter defendido novas concessões para perfurações de poços de gás e petróleo no Mediterrâneo.
Guterres fala em "suicídio coletivo". O secretário-geral da ONU, António Guterres, fez um discurso de alerta para a urgência no controle global do clima. Em seu pronunciamento, ele pediu esforço dos países ricos e instituições privadas para reduzir danos ao planeta e evitar um "suicídio coletivo".
A humanidade tem uma escolha a fazer: cooperar no clima ou morrer, caminhar para a solidariedade no clima ou o mundo corre o risco de suicídio coletivo
António Guterres, secretário-geral da ONU, na COP27
Scholz pede controle aos combustíveis fósseis. O chanceler da Alemanha, Olaf Scholz, pediu à comunidade internacional que não perca de vista suas metas de energia renovável, apesar do impacto sobre o mercado de energia causado pela guerra entre Rússia e Ucrânia.
"Não pode haver um renascimento mundial dos combustíveis fósseis. Em relação à Alemanha, eu posso dizer: não haverá", garantiu Scholz. A Alemanha, que tem sofrido com a queda na importação do gás russo, teve que reabrir usinas de carvão.
Scholz afirmou, contudo, que a medida será adotada por "um período curto", de forma emergencial. "Estamos decididos a abandonar o carvão", assegurou.
Lula deve ir na semana que vem. Enquanto Bolsonaro não tem previsão de ir à COP, Lula deve viajar ao Egito no dia 15, na segunda semana do evento. Antes, ele vai a Brasília para uma série de encontros políticos, inclusive com os chefes dos Poderes Legislativo e Judiciário.
Como presidente eleito, Lula foi convidado pelo presidente do Egito, Abdel Fattah El Sisi, para falar na COP. A volta do petista ao poder é vista como esperança de retomada do protagonismo ambiental do país.
A ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva (Rede-SP), que é cotada para voltar ao cargo sob o governo Lula, disse hoje em entrevista à CNN que o papel do Brasil nas discussões ambientais será "não mais como chantagista, mas como protagonista", já que, segundo ela, o governo Bolsonaro costumava condicionar compromissos na área ao financiamento de países estrangeiros.
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