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The Last of Us chegou? Médicos alertam para fungo comedor de carne nos EUA

Zombie formado por infecção de fungo parasita, na série "The Last of Us" - Reprodução/HBO
Zombie formado por infecção de fungo parasita, na série "The Last of Us" Imagem: Reprodução/HBO

Mateus Omena

Colaboração para o UOL, em São Paulo

06/02/2023 04h00Atualizada em 10/04/2023 10h36

A série da HBO "The Last of Us" gerou preocupação entre os telespectadores sobre a possibilidade de uma ameaça de infecções fúngicas dizimarem a humanidade.

Embora não haja nenhum fungo conhecido que possa transformar humanos em zumbis com esporos, especialistas em saúde afirmam que um patógeno nos Estados Unidos pode se tornar predominante devido às mudanças climáticas e alertaram para uma espécie que pode até se alimentar de carne humana.

Relatos da "febre do vale" são divulgados pelo menos desde 2013, mas o sucesso da série fez os médicos explicarem ao público por que não é preciso temer um cenário apocalíptico.

O programa de TV se concentra em uma infecção fúngica parasitária, chamada cordyceps, que toma conta do cérebro de alguns insetos em razão do aquecimento global, e posteriormente se espalha nos corpos humanos, transformando-os em zumbis. No entanto, existem semelhanças entre a infecção fictícia e uma real vem sendo notada nos últimos anos.

Febre do vale: o que é a doença causada por fungo?

A febre do vale é uma infecção causada por coccidioides, um fungo que geralmente se desenvolve em climas quentes e áridos e vive predominantemente no solo empoeirado do sudoeste dos EUA, informou o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC, na sigla em inglês).

O fungo se espalha rapidamente por meio da inalação de minúsculos esporos do fungo. Embora a maioria das infecções seja leve, a exposição apresenta sintomas semelhantes aos da covid-19, como fadiga, tosse, febre e dores musculares. Além de erupção cutânea.

Em casos graves, a doença pode levar o paciente à morte, quando o fungo passa dos pulmões ao cérebro. Cerca de 200 pessoas morrem de febre do vale a cada ano, sinalizou o CDC, que classifica a febre do vale como uma epidemia silenciosa.

A organização registrou cerca de 20 mil casos de febre do vale em 2019, a maioria nos estados da Califórnia e Arizona. Em 2011, mais de 22 mil casos da infecção foram registrados em todo o país, mesmo assim grande parte se concentrou no sudoeste.

Existem riscos?

À emissora NBC, o Dr. Paris Salazar-Hamm, pesquisador de medicina da Universidade do Novo México, explicou, com base em um estudo, que a endemicidade da febre do vale pode se espalhar de 12 para 17 estados nos EUA e o número de casos pode aumentar em 50% até 2100 em um cenário de alto aquecimento.

"Os patógenos fúngicos são um grupo que é amplamente negligenciado e a febre do vale é um modelo interessante porque está associado ao clima".

Em entrevista ao USA Today, o Dr. Manish Butte, chefe da divisão de imunologia e alergia da Universidade da Califórnia, aponta que, apesar de o fungo causar sintomas leves, em casos raros o fungo "se espalha rápida e destrutivamente por todo o corpo", comendo a carne do corpo para se manter nutrido.

"Caso se espalhe para o cérebro ou medula espinhal, cerca de 40% das pessoas morrem", explicou. Esse processo pode levar até duas semanas a partir da exposição.

Não está claro o motivo de apenas uma fração das pessoas expostas aos esporos fúngicos desenvolverem sintomas graves, mas o Dr. Butte sugere que isso pode estar relacionado com o sistema imunológico de cada indivíduo.

Alguns especialistas dizem que a possibilidade de uma futura pandemia fúngica não pode ser descartada, mas observam que é bastante improvável.

"Acho que estamos naquele ponto de inflexão em que nunca descartamos nada como uma possibilidade. A chance de uma infecção em grande escala existe, mas a questão é: quão provável é? Não acho que seja o caso", declarou o Dr. Kamal Singh, presidente de microbiologia e virologia da Cook County Health.