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Do Discord à prisão: o militar fã de games que vazou documentos dos EUA

Jack Teixeira é acusado de vazar documentos confidenciais do governo norte-americano - Reprodução
Jack Teixeira é acusado de vazar documentos confidenciais do governo norte-americano Imagem: Reprodução

Do UOL*

15/04/2023 04h00Atualizada em 15/04/2023 08h03

Agentes do FBI prenderam, nesta quinta-feira (13), um integrante da Guarda Nacional de 21 anos, suspeito de estar por trás do vazamento de documentos confidenciais do governo dos Estados Unidos, incluindo um material sigiloso sobre a guerra na Ucrânia. Fã de jogos de guerra, ele tinha um grupo no aplicativo Discord, de onde se rastreia o vazamento dos documentos.

Identificado como Jack Teixeira, o suspeito deve comparecer ao tribunal federal do Distrito de Massachusetts ainda hoje.

O que se sabe sobre Jack Teixeira?

Cresceu em North Dighton, Massachusetts. Neto de imigrantes açorianos, ele pertence à terceira geração de portugueses nos EUA, segundo The Portuguese American Journal. Ingressou no exército norte-americano após se formar na Dighton-Rehoboth Regional High School no verão de 2020

Entrou oficialmente na ativa 1º de outubro de 2021, na 102ª Divisão de Inteligência da Guarda Aérea Nacional de Massachusetts.

Foi treinado para o que os militares chamam de "Cyber Transport Systems Journeyman" ("Operador de sistemas de cibertransporte" na tradução livre). O site de carreiras do serviço diz que os especialistas em sistemas de cibertransporte são responsáveis por manter as redes de comunicação da força funcionando.

Alcançou o posto de aviador de 1ª classe, o terceiro mais baixo para membros da Força Aérea.

Vem de uma família que se considera "patriota", com vários parentes militares, segundo o Washington Post.

Rastros digitais

Uma trilha de provas levou o FBI ao jovem de 21 anos. Segundo o New York Times, nas redes sociais da irmã do aviador havia uma pista de que ele poderia ser o responsável pelo vazamento dos documentos. Uma publicação mostrava uma bancada de cozinha que parecia idêntica à superfície em que os documentos foram fotografados.

Ainda de acordo com a publicação, o "rastro de evidência digital" apontava Teixeira como o administrador de um grupo chamado "Thug Shaker Central" no Discord.

O suspeito, que se identificava como "OG" na plataforma, publicava regularmente documentos no grupo havia meses, segundo a imprensa. O grupo de cerca de 24 pessoas, inclusive da Rússia e Ucrânia, se uniu por sua "paixão mútua por armas, equipamento militar e Deus" e formou um "clube no Discord apenas para convidados em 2020", destacou o Washington Post. O grupo trocava memes — muitas vezes racistas — e jogava jogos de guerra.

Primeiro, Teixeira transcreveu o conteúdo dos documentos confidenciais para compartilhar com o grupo, mas logo começou a tirar fotos e pedir aos demais membros que não as compartilhassem, destacou o periódico.

  • Membros do grupo disseram que o objetivo do suspeito era informar e impressionar, de acordo com o NYT.
  • De outubro a março, Teixeira teria postado cerca de 350 documentos no grupo.
  • Os documentos vazaram e passaram a circular em outros grupos de bate-papo do Discord, incluindo um popular entre jogadores do jogo online Minecraft e outro de fãs de um youtuber britânico, até começarem a aparecer em canais do Telegram de apoiadores da guerra da Rússia contra a Ucrânia.
  • Teixeira começou a fechar suas contas online e a se despedir de seus amigos virtuais à medida que a notícia começou a se espalhar,

Um porta-voz do Discord disse à AFP que a segurança dos usuários é uma prioridade e que conteúdos que violam suas políticas podem acarretar usuários banidos, servidores interrompidos e alertas à polícia.

Agora, ele pode enfrentar acusações sob a Lei de Espionagem, que acarreta penas de até dez anos de prisão por documento.

"Ato criminoso deliberado"

O Pentágono disse que o vazamento representa um risco "muito sério" para a segurança nacional dos Estados Unidos e seu porta-voz, Pat Ryder, classificou-o como um "ato criminoso deliberado".

O Departamento de Defesa está "revisando e atualizando listas de distribuição, avaliando como e onde a inteligência é compartilhada", afirmou Ryder a repórteres.

O presidente dos EUA, Joe Biden, comentou os vazamentos durante uma visita à Irlanda e se disse "preocupado".

*Com informações da RFI