Brasileiro fazia aniversário quando Marrocos tremeu: 'Prédio de gelatina'

O designer brasileiro Fausto Sposito completou 41 anos minutos depois de um terremoto atingir a cidade de Marrakech, no Marrocos, onde ele passava férias com a mulher, Juliana.

A viagem do casal começou no dia 1º e deveria terminar hoje, mas foi encurtada pelo desastre, que deixou quase 2.500 mortos. No momento do tremor, o designer estava na piscina do hotel esperando seu aniversário, comemorado em 9 de setembro.

"A gente estava na piscina, no último andar do hotel, esperando dar meia-noite para comemorar meu aniversário, no dia 9. Umas 23h20 começou uma vibração, como a daqueles cinemas em que passa um metrô por baixo. Essa vibração começou a aumentar muito, de um jeito bizarro, mas você demora a perceber que é um terremoto", contou Fausto, em entrevista ao UOL.

A piscina em que Juliana e Fausto estavam no momento do tremor
A piscina em que Juliana e Fausto estavam no momento do tremor Imagem: Arquivo Pessoal

Ele e Juliana estavam hospedados em um riad, casa tradicional nos centros históricos do Marrocos.

Ao entender o que estava acontecendo, o casal saiu rapidamente da piscina para buscar uma muda de roupa. Eles se trocaram, pegaram os passaportes, e saíram do hotel sem levar nenhum outro pertence.

"O prédio balançava muito, como se fosse uma gelatina. Você fica torcendo para o prédio não desabar. Quando finalmente acabou, eu me lembro de olhar para a cidade e ver uma névoa branca das casas que caíram e começamos a escutar gente pedindo ajuda. Me lembro de perguntar para o gerente do hotel se era normal ter terremoto ali, mas ele falou que nunca tinha visto aquilo acontecer."

 A cidade histórica de Marrakech  sofreu danos decorrentes do forte terremoto que atingiu o Marrocos na sexta-feira
A cidade histórica de Marrakech sofreu danos decorrentes do forte terremoto que atingiu o Marrocos na sexta-feira Imagem: ABDELHAK BALHAKI/REUTERS

'O melhor e o pior do ser humano'

Os riads de Marrakech ficam dentro da medina, área antiga da cidade pensada para protegê-la de invasores. Isso faz com que as ruas do bairro sejam estreitas, dificultando o escape das pessoas em momentos como o do terremoto.

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Fausto, Juliana e outras dezenas de turistas decidiram correr até uma praça, em busca de uma área mais aberta para fugir de desabamentos e de uma possível réplica do terremoto.

A gente passou a noite na praça com outros turistas e todo mundo foi se ajudando, inclusive senhorinhas marroquinas, que ofereceram cobertor. Tinha também alguns guardas, porque a gente ficou em frente a um prédio do governo, mas eles estavam tão perdidos quanto a gente. Não vimos mortos, mas tinha alguns feridos, e a primeira ambulância chegou só umas 3 horas, 4 horas da manhã.
Fausto Sposito

Durante a madrugada, ele e a esposa decidiram tentar sair da cidade. Fausto voltou ao hotel em que estava hospedado e conseguiu recuperar as malas do casal, que pegou um trem para Fez — a mais de 500 km de Marrakech.

"Algumas outras pessoas mais corajosas voltaram para os seus riads para dormir, mas acho que a gente tomou uma decisão acertada ao sair da região. Nós pensamos em sair pela estrada também, mas nessas horas a gente vê o melhor e o pior do ser humano, porque as senhorinhas ajudavam, mas os taxistas estavam cobrando preços abusivos."

Às 5 horas da manhã, o casal de brasileiros entrou no trem para Fez. Lá, eles conseguiram trocar o voo que os levaria de volta para Barcelona por um que ia até Alicante, também na Espanha. Eles desembarcaram ontem no país europeu.

Em meio à experiência traumática, Fausto destaca a solidariedade que viu entre os marroquinos, que sofriam com a falta de preparo para enfrentar o terremoto — o pior das últimas seis décadas no país.

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"As pessoas trataram a gente muito bem. Eles estavam perdidos como nós, mas recomendavam lugares mais seguros e tentavam ajudar como era possível. Os funcionários dos riads levavam cobertor, água, davam frutas, e pediam também para a gente manter contato. A gente se sentiu acolhido na medida do possível."

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