Gaza: qual o papel dos ingleses na origem do conflito entre judeus e árabes

O conflito entre os diferentes povos árabes e os judeus é relativamente recente. Até o final do século 19, eles viviam como "primos" (o que supõe, claro, conflitos ocasionais), não só no Oriente Médio, mas também na Espanha ocupada pelos árabes até o fim do século 15.

Os problemas vieram com a crise dos grandes impérios (russo, turco-otomano e austro-húngaro), depois da 1ª Guerra Mundial (1914-1918) que redesenhou o mapa do Oriente Médio.

Os ingleses receberam um mandato da Liga das Nações para ocupar por 30 anos os atuais Iraque, Jordânia e Palestina. A França ficou com o que hoje são a Síria e o Líbano.

O problema é que a Grã-Bretanha prometeu a mesma coisa para os dois lados na tentativa de conquistar apoio na 1ª Guerra: aos árabes, um grande Estado independente, o que suporia a inclusão da Palestina, e aos judeus, um "lar nacional" na Palestina.

As duas comunidades passaram então a disputar espaço na Palestina sob mandato britânico.

Isso permitiu o avanço de inúmeros movimentos nacionalistas, sendo os principais:

- o nacionalismo árabe, que defendia a criação de um grande estado árabe independente dos turcos;
- o movimento sionista, que defendia a volta à Palestina dos judeus --dispersos por todo o mundo desde a destruição de seu Estado independente, no início da era cristã.
Entre os judeus, a maioria vivendo na Europa Oriental e na América do Norte, o sionismo era bastante minoritário. As correntes políticas mais fortes eram as compostas por:

- socialistas, defensores da integração dos judeus à luta dos trabalhadores contra o capital
- liberais, favoráveis à integração da população judaica em cada país
- religiosos ortodoxos

Mas os sionistas traziam jovens pioneiros da Europa Oriental para cultivar terras compradas dos árabes por milionários judeus.

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Os nacionalistas árabes lançavam ataques armados contra as novas comunidades judaicas.

Os britânicos ficavam no meio do caminho, ora limitando a imigração judaica, ora restringindo os ataques dos militantes árabes.

E então veio o Holocausto, quando mais de seis milhões de judeus foram massacrados pelos nazifascistas na Europa, ao lado de milhões de russos, poloneses, homossexuais e dissidentes políticos.

No final da 2ª Guerra Mundial (1939-1945), com a Europa arrasada, o sionismo tornou-se rapidamente majoritário entre os judeus sobreviventes, que contavam com a simpatia da opinião pública mundial devido ao Holocausto.

Com a retirada das tropas britânicas da Palestina marcada para 1947, eles conseguiram costurar o apoio dos dois grandes vencedores do conflito, União Soviética e Estados Unidos, à divisão do território.

A Assembleia Geral da ONU, então presidida pelo ex-chanceler brasileiro Oswaldo Aranha, votou pela partilha da Palestina em dois Estados —um árabe e outro judeu.

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Em maio de 1948, o futuro primeiro-ministro David Ben Gurion anunciou a criação do Estado de Israel.

O mundo árabe não aceitou a partilha e, nos dias seguintes, sete Estados árabes declararam guerra a Israel, que foi invadido por cinco exércitos.

Os israelenses venceram a guerra e expulsaram muitos palestinos do que deveria ser seu Estado.

Desde então, houve três grandes guerras na região. Na Guerra dos Seis Dias, em 1967, Israel ocupou a Faixa de Gaza, o deserto do Sinai (Egito), as colinas do Golan (Síria), as fazendas de Shebaa (Líbano), Jerusalém Oriental e a Cisjordânia (Jordânia).

Em 1979, Israel assinou a paz com o Egito e devolveu o Sinai.

Desde então o mundo árabe não conseguiu mais unir-se contra o Estado judeu. Sucessivos governos israelenses incentivaram a criação de colônias judaicas nos territórios ocupados, principalmente na Cisjordânia.

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A resistência palestina optou então pela luta armada, lançando mão por vezes do terrorismo —com ataques a alvos civis dentro e fora de Israel.

No fim dos anos 90, as negociações entre israelenses e palestinos evoluíram, com extrema dificuldade, até um ponto que parecia mais perto da paz, mas o acordo foi desfeito.

De lá para cá, a OLP (Organização para a Libertação da Palestina), que defendia um acordo com Israel, perdeu espaço nos territórios ocupados para o movimento fundamentalista islâmico Hamas, que tem apoio do Irã e da Síria e rejeita a paz com o Estado judeu. E o cenário político israelense deslocou-se para a direita, com as forças pacifistas perdendo espaço.

Para entender em mais detalhes, acesso o artigo publicado originalmente em Pesquisa Escolar - História, de UOL Educação.

* Jayme Brener é jornalista, sociólogo, diretor do Observatório Judaico dos Direitos Humanos no Brasil (OJDHB) e autor de "Os Cinco Dedos de Tikal - Comunistas, Judeus, Putas e Índios às Vésperas da Segunda Guerra" (Ex-Libris) e "Um Homem, Um Rabino", autobiografia de Henry Sobel.

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