'Estamos destruídos', diz brasileiro em Gaza após suspensão de nova lista
O comerciante Hasan Rabee, 30, diz que pessoas que esperam pelo momento de deixar a Faixa de Gaza estão sem água, energia, combustível e gás de cozinha. Ele, que faz parte do grupo de 34 brasileiros que aguardava para retornar ao Brasil, diz que o sentimento é de "destruição" após a suspensão da nova lista com autorizações para sair do território.
O que aconteceu
Rabee afirma que o dia a dia em Khan Younis tem sido "cada vez pior". Na madrugada deste domingo (5), o embaixador do Brasil na Palestina, Alessandro Candeas, afirmou que não haveria lista de nacionalidades autorizadas a deixarem a Faixa de Gaza.
"A gente está destruído. É cada dia pior do que o outro. A gente come uma vez por dia, não tem gás de cozinha. As coisas estão complicadas. Não temos água encanada, nem energia", disse ele. Hoje é o quinto dia de espera de pessoas com dupla nacionalidade para obter autorização para deixar Gaza.
O grupo de brasileiros em Gaza é composto por 34 pessoas. Dessas, 24 são brasileiros, sete são palestinos com RNM (Registro Nacional Migratório) e três palestinos. Do total, 18 são crianças, 10 são mulheres e seis são homens. O grupo aguarda autorização para deixar Gaza dividido em duas cidades: 18 estão Rafah, cidade mais próxima da fronteira, e 16 estão em Khan Younis, no sul da Faixa de Gaza.
Em Rafah, são nove crianças, cinco mulheres e quatro homens aguardando autorização para deixar a cidade. Já em Khan Younis, são nove crianças, cinco mulheres e dois homens. O presidente da Federação Árabe Palestina do Brasil, Ualid Rabah, afirma que uma parte do grupo que aguarda a repatriação é composto por pessoas jovens. "São pessoas casadas há pouco tempo que tiveram filhos há pouco tempo", diz ele.
Falta de combustível e gás de cozinha
Rabee enviou um vídeo ao UOL no qual mostra alguns impactos da falta de combustível em Khan Younis. Em uma carroça, ele diz que animais têm sido usados como meio de locomoção. "Tá vendo, gente. É muito difícil achar carro. Então, isso é o carrinho que leva a gente. Tristeza e ao mesmo tempo a gente dá risada. Como que a gente 'tava' e como que a gente era."
O brasileiro afirma que usar animais para o transporte se tornou uma forma para quem precisa se locomover. "Esses carrinhos que levam a gente. Não existe carrinho, combustível, só existe este carrinho como usava antigamente. A gente atrasa, mas esse é o jeito."
Sem energia, o brasileiro afirma que carrega o celular em baterias de carro ou com energia solar. "Um amigo me ajudou a carregar baterias de celular e de internet. É muito difícil, muita gente aqui. Vamos agora procurar alguém para comprar alimentação", diz ele no vídeo.
Nesses 30 dias de conflito não temos previsão de saída. A gente está com esperança de na quarta-feira poder sair daqui.
Hasan Rabee, comerciante na Faixa de Gaza
O comerciante saiu de São Paulo para visitar a mãe na Faixa de Gaza no final de setembro e não conseguiu mais sair de lá. Com a intensificação dos bombardeios, ele, a esposa e suas duas filhas vivem agora com outros 18 familiares que vieram do norte de Gaza e se acomodaram na casa da mãe dele, em Khan Yunis.
"Os bombardeios estão bem piores, não existe segurança", diz. Segundo ele, os piores momentos são os bombardeios que ocorrem próximos ao prédio em que estão: "Houve dois bem perto de nós, muita gente ficou ferida e a gente assistiu isso". Candeas afirmou que as explosões atingem prédios e imóveis ao redor das casas protegidas, assustando a população.
O medo dos ataques também afeta o dia a dia das crianças em Gaza. Rabee é pai de duas meninas, de 3 e 5 anos. "No começo, falamos que eram fogos em jogos de futebol. Mas hoje elas estão muito assustadas. Quando passam os aviões, elas se escondem atrás do sofá e fecham as janelas. Elas se sentem protegidas com as janelas fechadas."
Repatriação de brasileiros
O acordo de saída de estrangeiros de Gaza começou na quarta-feira (1º). Até agora, nenhum brasileiro teve autorização para sair da região.
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Quero receberEm relação à repatriação de brasileiros em Gaza, a Embaixada de Israel no Brasil afirma que o governo israelense "está fazendo absolutamente tudo que pode e que está ao seu alcance para que todos os estrangeiros deixem a Faixa de Gaza o mais rapidamente possível."
"O Hamas está atrasando a saída de estrangeiros da Faixa de Gaza e os utiliza de maneira desumana para se apresentarem como vítimas."
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