Inação de Conselho da ONU causa perda de vidas inocentes, diz Vieira no G20

O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, criticou a "inação" da ONU (Organização das Nações Unidas) em meio aos conflitos em curso, dizendo que o Brasil não aceita um mundo onde as diferenças são resolvidas pelo uso da força militar. As declarações foram feitas na abertura dos trabalhos da Cúpula de Chanceleres do G20, no Rio de Janeiro.

O que disse o chanceler

Brasil está 'profundamente' preocupado com questões de paz e segurança. Citando "algumas estimativas", Vieira afirmou que o mundo atingiu um número recorde de conflitos em andamento — mais de 170 —, "enquanto as tensões políticas também estão aumentando".

'Inação' das instituições multilaterais implica na morte de inocentes. O chefe do Itamaraty também criticou o que chamou de "inaceitável paralisia" do Conselho de Segurança da ONU frente aos conflitos em curso no mundo — em especial, às guerras na Ucrânia e entre Israel e Hamas. "Esse estado de inação implica diretamente em perda de vidas inocentes", discursou.

País 'não aceita' um mundo onde diferenças são resolvidas com força militar. "Uma parcela muito significativa do mundo fez uma opção pela paz e não aceita ser envolvida em conflitos impulsionados por nações estrangeiras. O brasil rejeita a busca de hegemonias, antigas ou novas", reforçou o chanceler.

'Não é razoável' que mundo invista US$ 2 trilhões ao ano para gastos militares. O valor equivale a cerca de R$ 9,8 trilhões e, de acordo com Vieira, é muito maior do que o investido em programas de assistência social (US$ 60 bilhões, ou R$ 296,2 bilhões) e no combate às mudanças climáticas (US$ 100 bilhões, ou R$ 493,7 bilhões).

As instituições multilaterais, contudo, não estão devidamente equipadas para lidar com os desafios atuais, como demonstrado pela inaceitável paralisia do Conselho de Segurança [da ONU] em relação aos conflitos em curso. Esse estado de inação implica diretamente em perda de vidas inocentes. (...) Não é do nosso interesse viver em um mundo fraturado.
Mauro Vieira, chanceler do Brasil, em cúpula do G20

Veto dos EUA na ONU

Discurso do chanceler vem um dia após veto dos EUA a cessar-fogo em Gaza. Na terça-feira (20), os Estados Unidos rejeitaram uma resolução de trégua na Faixa de Gaza proposta pela Argélia durante reunião no Conselho de Segurança da ONU. Dos 15 membros, 13 votaram a favor. O Reino Unido se absteve.

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Foi a 3ª vez que os EUA usaram seu poder de veto para barrar a trégua. Uma das propostas de cessar-fogo foi apresentada pelo Brasil em outubro do ano passado. Ontem, a justificativa foi de que uma trégua nos termos propostos pela Argélia — que não condenou o ataque do Hamas — atrapalharia as negociações de paz discutidas por EUA, Egito e Catar.

Nós queremos esse acordo o mais rápido possível, mas, às vezes, a diplomacia precisa de mais tempo.
Linda Thomas-Greenfield, embaixadora dos EUA na ONU

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