Brasil diz lamentar que Israel divulgue 'informação incorreta' sobre Lula

O Itamaraty afirmou hoje lamentar que Israel divulgue "informações incorretas" sobre Lula. A declaração ocorreu após um representante da diplomacia israelense ter dito que o presidente do Brasil teve falas antissemitas.

O que aconteceu

Governo brasileiro disse que as alegações de que Lula teve falas "antissemitas" não procedem. "Além de sua histórica amizade com Israel, como demonstração de reverência à história do povo judeu, o presidente Lula prestou homenagem no Museu do Holocausto em 2010, em visita àquele país", disse o Itamaraty, por meio de nota.

O Ministério das Relações Exteriores do Brasil lamentou o que chamou de informações incorretas do governo Benjamin Netanyahu. "O governo brasileiro lamenta a divulgação, por parte de autoridades do governo Netanyahu, de informações incorretas sobre o presidente de um país amigo, em redes sociais e contatos com a mídia."

A diplomacia de Israel manteve as críticas ao presidente, mas disse que quer retomar relações. O representante da diplomacia de Israel, Jonathan Peled afirmou em encontro com que o governo local está disposto a "restaurar as relações com o Brasil", abaladas após declarações do presidente Lula.

O diplomata disse que o momento é de retomar as negociações como eram antes. Vice-diretor da divisão de América Latina e Caribe do Ministério das Relações Exteriores de Israel, Peled ressaltou que os países não romperam relações. "Nós queremos soluções diplomáticas", afirmou na sede do Ministério das Relações Exteriores, em Jerusalém.

Críticas a Lula e presidentes da América Latina

Peled criticou as falas de Lula, que comparou ao Holocausto os ataques de Israel contra os palestinos. "Quando há uma declaração antissemita como a do presidente Lula ou quando nossa existência é posta em questão, trata-se de uma linha vermelha", disse Peled, em referência à declaração dada pelo brasileiro no mês passado.

"Comparar atividades de Israel aos nazistas de Hitler, para nós, é uma declaração inaceitável", afirmou o diplomata. No dia 19 de fevereiro, o ministro das relações exteriores, Israel Katz, declarou Lula como "persona non-grata".

Peled também destacou que a fala de Lula "não é uma posição de todos os brasileiros". "Vemos na opinião pública, no Congresso, nos governantes, então sabemos que não é uma posição de todos os brasileiros, mas uma posição que fazemos oposição e condenamos."

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Diplomata disse que a fala de Lula ocorreu após "colaboração para a retirada de cidadãos brasileiros" de Israel e a Faixa de Gaza. "O que recebemos em troca? Declarações antissemitas do presidente Lula", disse Peled. O diplomata mencionou que o brasileiro Michel Nisembaum, 59, ainda é mantido refém pelo Hamas.

Críticas aos presidentes de Colômbia e Chile. Peled citou também outros líderes latino-americanos, como o da Colômbia, Gustavo Petro, e o Chile, Gabriel Boric. Segundo o diplomata, eles também têm falas antissemitas.

Uma potência regional, talvez uma potência global, não pode desempenhar o papel de tomar partido contra qualquer dos lados. Se você isola Israel ou aposta contra Israel, não pode se considerar uma potência regional ou global que possa ter qualquer papel de negociação ou intermediação.
Jonathan Peled, vice-diretor da divisão de América Latina e Caribe do Ministério das Relações Exteriores de Israel

Israel diz lutar contra 'radicalismo islâmico'

O diplomata israelense disse ainda que o país luta contra a ameaça do "radicalismo islâmico". "Isso é uma guerra que Israel está enfrentando como a única democracia no Oriente Médio e lutando em nome de todas as democracias no mundo Ocidental contra essa ameaça de radicalismo islâmico, Jihad."

O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores afirmou que a "ameaça" pode chegar à Europa. "Amanhã, se não superarmos essa ameaça, os próximos países serão Egito, Jordânia, Líbano, Síria e, depois disso, a Europa."

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Diplomata diz que guerra não é somente contra o Hamas. Para ele, um dos objetivos é evitar uma ofensiva no norte do país. "É uma guerra contra o Irã. Nós vemos isso no norte com o Hezbolah. Nós vemos isso na Síria e no Iraque, na parte norte, nordeste, nos vemos com os houthis, no Iêmen."

Ajuda humanitária em Gaza

Peled disse que Israel entende a gravidade da crise. "Estamos fazendo o possível para prover assistência humanitária para a população de Gaza, porque nosso inimigo não é a população de Gaza, é o Hamas."

Ajuda humanitária do Brasil e outros países foi bloqueada na entrada de Gaza, segundo deputado italiano. Contudo, a diplomacia de Israel negou que o país seja responsável pelo bloqueio e acusou o Egito.

"Nós não controlamos isso", disse outra representante da diplomacia israelense. "Só escutamos a segurança e, então, os egípcios são quem decide o que vai entrar, a prioridade e a ordem. Isso não está nas mãos de Israel", disse Judith Galili Metzer, diretora do departamento de relações com agências da ONU e organizações internacionais do Ministério das Relações Exteriores de Israel.

*A jornalista está em Jerusalém, Israel, a convite da ONG StandWithUs Brasil.

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