Reinaldo: Ao falar em milagre, Trump se põe acima das instituições humanas
O ex-presidente republicano Donald Trump se põe acima das instituições humanas ao falar em milagre após atentado sofrido e invalida sua existência na Terra em prol de uma vontade divina, como ocorria com os reis absolutistas, afirmou o colunista do UOL Reinaldo Azevedo no Olha Aqui! desta segunda-feira (15). Trump sobreviveu a uma tentativa de homicídio durante comício em Butler, na Pensilvânia (EUA), no último sábado (13). Sua orelha direita foi atingida por um tiro.
[Trump] Tá vivo, felizmente. E eu digo felizmente, não é só retórico. A gente não tem ideia do que poderia acontecer se [ele] morresse em um país conflagrado como está os Estados Unidos. Que seria uma comoção, não há dúvida. (...) O rapaz, o jovem de 20 anos que atirou, Thomas Crooks, não há nenhuma vinculação conhecida com política. Ele era, aliás, filiado ao Partido Republicano e fez uma doação mixuruca para um grupo ligado ao Partido Democrata. As pessoas que o conheciam não têm informação de que houvesse militância de qualquer natureza. Isso me parece que é mais uma ocorrência de uma alezi que há nos EUA em relação às armas. A fixação que existe na cultura americana com as armas, que é um troço pavoroso. Reinaldo Azevedo, colunista do UOL
Há essa visão de que ele está vivo em razão de um milagre. Ora, quando você atribui a sobrevivência das pessoas a forças superiores, a uma vontade que não é humana e está acima de nós, você está dizendo ao mesmo tempo que toda existência dessa pessoa no universo nosso aqui da Terra não vale, porque ela já tem uma determinação que é divina. É a antiga concepção do poder divino dos reis. De onde vinha o poder superior dos reis? Vinha da vontade de Deus, portanto, eles podem ser reis absolutistas porque nenhuma força humana tem competência para enfrentar a vontade de Deus. Temos hoje essas forças políticas nos Estados Unidos (...) e que há milhões de pessoas com essa visão religiosa primitiva do poder do líder. Trump sabe explorar isso muito bem. Reinaldo Azevedo, colunista do UOL
O rapaz, não tendo matado Trump, do mesmo modo disparou mecanismos muito graves e sérios que põem em risco sim a democracia americana. Se eleito, Trump chega ao poder com poderes absolutos por decisão da Suprema Corte. O único que poderia fazer frente seria o Congresso, tudo indica que ele pode ter a maioria das duas casas. (...) Peço que as pessoas ouçam direito aqui para evitar distorções, mas não existe centrão nos EUA. O centrão, sob certo ponto de vista, pode fazer falta: é um leilão que negocia com quem está no poder e de algum modo contém as vontades de quem está no poder. [No Brasil] Ajudou a conter as de Bolsonaro em alguns momentos. Reinaldo Azevedo, colunista do UOL
Reinaldo Azevedo diz que o candidato do Partido Republicano para presidente nas eleições americanas de 2024 sai fortalecido do atentado sofrido.
É claro que ele sai fortalecido, então ele chama isso de milagre. O que também é muito comum nessas circunstâncias quando personalidades dessa natureza, a gente viu isso acontecer aqui no Brasil, conseguem se salvar e se livrar de uma situação muito grave em que quase morreram. Aconteceu com Jair Bolsonaro aqui, aconteceu ele lá. Se livra [disso] e diz que é um milagre. Como lembrava o ex-ministro Delfim Neto, milagre é um acontecimento sem causa. É isso que é um milagre. Não se trata de um milagre. Apenas que naquela hora a cabeça dele não estava na trajetória da bala, estava a orelha. Reinaldo Azevedo, colunista do UOL
No livro 'Ecce Homo', de Nietzsche, há uma frase que depois virou um clichê. (...) Num dado momento, ele falando de si mesmo na terceira pessoa, ele diz: 'O que não mata, o fortalece'. E isso é absolutamente verdade nesses casos. Não matando, fortalece. Essa é a gênese do suposto milagre. Não é um milagre. Existe uma razão objetiva para ele estar vivo, a cabeça dele não estava ali naquele momento. Certamente não foi Deus que disse: 'Trump, vire a cabeça para ver o gráfico'. Se Deus falasse assim com as pessoas, eu duvido que falasse assim com Trump. Reinaldo Azevedo, colunista do UOL
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