Tiros, prostitutas: erros e escândalos envolvendo o Serviço Secreto dos EUA
Kimberly Cheatle renunciou na terça-feira (23) ao cargo de diretora do Serviço Secreto dos Estados Unidos após o atentado contra o ex-presidente americano Donald Trump durante um comício na Pensilvânia, em 13 de julho. Cheatle assumiu a responsabilidade pela falha de segurança ao não evitar o ataque mesmo após a agência ter sido informada do suspeito. Trump foi atingido na orelha. Ela liderava o Serviço Secreto desde setembro de 2022.
A falha que resultou no atentado ao candidato republicano não foi a primeira do Serviço Secreto americano. Ao longo da sua história, a agência federal tem colecionado erros operacionais e escândalos. Confira:
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Casos de erros e escândalos do Serviço Secreto dos EUA
O veterano de guerra Omar Gonzalez invadiu a Casa Branca em setembro de 2014, armado com uma faca. Ele pulou a cerca de segurança, correu pelo gramado, passou por agentes, entrou na residência presidencial e chegou a percorrer alguns cômodos antes de ser contido. O presidente Barack Obama e sua família não estavam no local. Após o incidente, a então diretora do Serviço Secreto Julia Pierson renunciou ao cargo.
Também em setembro de 2014, um homem armado e condenado por violência esteve num elevador com Obama. O incidente ocorreu durante a visita do presidente americano aos Centros de Prevenção e Controle de Doença, em Atlanta, na Geórgia. Kenneth Tale, trabalhador de uma empresa de segurança privada, gravou um vídeo no interior do elevador. Só então ele foi abordado pelo Serviço Secreto e se descobriu que estava armado.
Pelo menos dez agentes do Serviço Secreto levaram prostitutas ao hotel em que estavam hospedados durante viagem oficial do presidente Obama na Cúpula das Américas em Cartagena, na Colômbia, em abril de 2012. O escândalo ganhou a atenção da imprensa e ofuscou o evento. Os agentes foram exonerados.
Em novembro de 2011, um homem atirou contra a Casa Branca com um rifle semiautomático. Pelo menos sete balas atingiram a residência presidencial, porém o Serviço Secreto só percebeu quatro dias depois do ocorrido, quando um funcionário da residência descobriu um pedaço de vidro quebrado. O casal Obama não estava no local, mas a filha mais nova deles, Sasha, estava. Oscar Ortega-Hernandez foi identificado como suspeito e, três anos depois do incidente, foi condenado a 25 anos de prisão por tentativa de assassinato e terrorismo.
O casal Tareq e Michaele Salahi entraram de penetra no jantar de Estado oferecido pela Casa Branca ao primeiro-ministro indiano Manmohan Singh, em novembro de 2009. Sem convite, eles conseguiram passar por verificações de segurança, entrar no local e até cumprimentar Obama. O casal publicou as imagens no Facebook. O Serviço Secreto suspendeu três agentes por causa do incidente.
O presidente George W. Bush foi alvo de um atentado com granada durante visita oficial à Geórgia, em maio de 2005. Ele iria começar a discursar, quando um homem arremessou o explosivo no palco em que ele estava, ao lado do presidente georgiano, Mikheil Saakashvili. O artefato não detonou. O responsável pelo atentado, Vladimir Arutyunyan, nunca revelou suas motivações. Ele foi preso e condenado à prisão perpétua.
Em março de 1981, o presidente Ronald Reagan foi alvejado em Washington. Ele ficou gravemente ferido, mas se recuperou após uma cirurgia de emergência. O atirador John Hinckley Jr. foi preso imediatamente e mantido sob cuidados psiquiátricos até 2016, quando foi colocado em liberdade condicional. Reagan morreu em 2004.
O presidente Gerald Ford foi alvo de duas tentativas de homicídio em menos de um mês em 1975. A primeira tentativa ocorreu em 5 de setembro, quando Lynette "Squeaky" Fromme, uma seguidora do líder de culto Charles Manson, tentou atirar nele em Sacramento, na Califórnia, mas a arma falhou. Em 22 de setembro, Sara Jane Moore atirou contra Ford em São Francisco, mas errou o alvo. Moore já tinha sido avaliada pelo Serviço Secreto e não foi considerada um risco. As duas mulheres foram condenadas à prisão perpétua, mas, posteriormente, foram colocadas em liberdade condicional: Moore, em 2007, e Fromme, em 2009. Ford morreu em 2006.
O presidente John F. Kennedy foi alvejado durante desfile em carro aberto em Dallas, no Texas, em novembro de 1963. O atirador Lee Harvey Oswald morreu dois dias depois, assassinado por um outro homem chamado Jack Ruby. Kennedy estava no auge da popularidade e sua morte alimenta até hoje teorias conspiratórias sobre quem foi o mandante e a motivação. Essa é considerada a falha mais grave da agência federal.
O presidente Franklin Roosevelt foi alvo de uma tentativa de assassinato em fevereiro de 1933. O carro dele foi alvejado em Miami por Giuseppe Zangara, um veterano de guerra italiano naturalizado americano. Roosevelt não foi atingido, mas o prefeito de Chicago, Anton Cermak, que estava com ele, morreu. Zangara foi preso e condenado à morte na cadeira elétrica. Ele disse ter ódio de todos os homens no poder. Roosevelt morreu em 1945.
Qual a função do Serviço Secreto?
O Serviço Secreto tem dupla função. Investigar crimes financeiros e cuidar da segurança do presidente, do vice-presidente e de seus familiares. Ex-presidentes e seu cônjuge têm proteção vitalícia. Candidatos presidenciais também estão no escopo de atuação. O trabalho da agência federal ocorre em coordenação com outras agências e órgãos federais e locais.
Falhas nas operações ocorrem devido à complexidade da atividade, que envolve um alto grau de sensibilidade e coordenação entre órgãos, explica Clarissa Forner, professora de Relações Internacionais da Universidade São Judas Tadeu.
A questão dos EUA chama atenção por haver um cenário de violência exacerbada na sociedade, que mostra a dificuldade do sistema [de segurança] para conter. A resposta é sempre mais financiamento, o que não resolve. Para mim, deveria ser uma questão estrutural, como controle de armas e educação. Clarissa Forner