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O que explica queda da popularidade do chavismo na Venezuela sob Maduro

O chavismo, movimento de esquerda que se popularizou na Venezuela durante o governo de Hugo Chávez entre 1999 e 2013, perdeu força sob Nicolás Maduro, segundo especialistas ouvidos pelo UOL.

O que aconteceu

O presidente venezuelano que sucedeu Chávez após a sua morte tem grande possibilidade de ser derrotado nas urnas para o opositor Edmundo González Urrutia na disputa eleitoral de hoje. Se essa tendência for confirmada nas eleições da Venezuela, isso representaria o fim de mais de duas décadas de chavismo no país.

Chavismo deu início a uma onda progressista em países da América do Sul. Com isso, houve rompimento com uma tendência de governos neoliberais, segundo cientistas políticos, especialistas em relações internacionais e historiadores.

Três anos após vitória de Chávez, Lula se tornou presidente no Brasil em 2002. No ano seguinte, Nestor Kirchner assumiu a presidência na Argentina, seguido de Tabare Vázquez (Uruguai em 2005), Evo Morales (Bolívia em 2006) e Michelle Bachelet (Chile em 2006) e Rafael Correa (Equador em 2007).

A vitória de Chávez na Venezuela deu início a um período de governos progressistas na América do Sul, chamado de 'onda vermelha'. A situação interna venezuelana levou a uma radicalização, com enfrentamento às elites e aos EUA. Nesse processo, Chávez se aproveitou da alta do petróleo e reverteu recursos para a economia interna, reduzindo desigualdades sociais.
Josué Medeiros, cientista político e professor da UFRJ

O Chávez conseguiu usar a riqueza gerada pelo petróleo em programas sociais, que trouxeram prosperidade para a população. Ele também exercia uma liderança carismática e de apelo popular.
Gilberto Maringoni, professor de Relações Internacionais da UFABC

Das lideranças de esquerda na América do Sul, o Chávez era o mais radical. Mas, ao mesmo tempo, ele também era o maior entusiasta da integração naquele momento de ascensão dos governos progressistas, usando a sua força não apenas para políticas públicas internas, mas também para fazer acordos de fornecimento a países latino-americanos que precisavam do petróleo.
Rafael Araújo, Historiador e professor da UERJ

Carisma, petróleo EUA e autoritarismo

Perda de popularidade após a morte de Hugo Chávez. "A população venezuelana vinculava a sua melhora de vida à figura dele. Quando o Maduro assume, não havia mais uma conjuntura tão favorável à esquerda. Com menos carisma, o Maduro também não tinha a mesma capacidade política para mobilizar a população", disse o cientista político Josué Medeiros.

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Efeito da baixa do petróleo e dos EUA. "O Maduro precisou lidar com a queda do valor do petróleo e com as sanções econômicas dos EUA, o que representou um baque econômico", explicou o historiador Rafael Araújo, que irá lançar ainda neste ano um livro sobre o chavismo pela editora Edupe.

Sem saída. Autor de dois livros sobre a Venezuela, Gilberto Maringoni entende que o governo Maduro enfrentou dificuldades devido aos embargos promovidos pelos EUA e pela dependência econômica em relação ao petróleo.

O governo Maduro é autoritário e tem problemas, mas enfrentou uma conjuntura desfavorável. É um país exportador de commodities, cujo centro dinâmico está no mercado externo. A esses fatores, some-se a incompetência gerencial interna e temos aí as bases da crise atual.
Gilberto Maringoni

O Chávez vinha de um processo de desenvolvimento das instituições políticas, com um projeto social mais amplo. Já o Maduro militarizou o chavismo e setores da economia, minando as organizações da sociedade civil e com uma ideia autoritária de se manter no poder. E ele não dá declarações indicando que vai aceitar o resultado das eleições.
Josué Medeiros

O chavismo está enraizado na Venezuela. É como o peronismo na Argentina. Sem o mesmo carisma de Chávez, Maduro precisou lidar com um cenário de queda do valor do petróleo e de sanções dos EUA. Aí, ele deu uma guinada autoritária, que desconstruiu a popularidade do chavismo.
Rafael Araújo

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