Conteúdo publicado há 17 dias

Não recebi provas de que Maduro venceu, diz oficial eleitoral da Venezuela

Juan Carlos Delpino, diretor do CNE (Conselho Nacional Eleitoral) da Venezuela, denunciou "irregularidades" nas eleições de 28 de julho, quando Nicolás Maduro foi declarado reeleito. Ao jornal New York Times, ele disse não ter recebido nenhuma prova de que Maduro venceu e pediu desculpas à população venezuelana.

O que aconteceu

Para diretor do CNE, órgão eleitoral 'falhou' com o país. "Estou envergonhado, e peço perdão para o povo da Venezuela. Porque todo o plano que foi elaborado — realizar uma eleição aceita por todos — não foi alcançado", disse o advogado ao NYT. Delpino é um dos dois diretores do CNE alinhados à oposição de Maduro e está escondido, com medo de sofrer represálias do governo.

Delpino denunciou irregularidades no processo eleitoral. Em comunicado publicado no X (antigo Twitter), o diretor do CNE citou a retirada de testemunhas da oposição durante o encerramento das mesas receptoras e a interrupção da transmissão dos resultados devido a um suposto ataque hacker. Houve "silêncio e atrasos não explicados", criticou Delpino.

Oposição diz ter vencido a eleição com 67% dos votos. O número consta nas cópias das atas de votação publicadas na internet, consideradas "forjadas" pelo regime de Maduro. O Centro Carter, um dos poucos observadores independentes que acompanharam a eleição, analisou os documentos divulgados pela oposição e confirmou a vitória do Edmundo González Urrutia com mais de 60% dos votos.

Lamento profundamente que a eleição e seu reconhecimento não sirvam para todos os venezuelanos, que não resolvam as nossas diferenças, não promovam a unidade nacional e que, em vez disso, haja dúvidas entre a maioria dos venezuelanos e a comunidade internacional sobre os resultados.
Juan Carlos Delpino, do CNE, em comunicado publicado no X

Eleições na Venezuela

Maduro foi proclamado reeleito pelo CNE com 52% dos votos. Quase um mês depois, porém, o ditador ainda não publicou os detalhes da votação em cada seção porque afirma ter sofrido um "ciberataque terrorista". Já a oposição, liderada por María Corina Machado, alega ter provas de que houve fraude e da vitória do seu candidato Edmundo González Urrutia.

Após a publicação dos resultados, venezuelanos saíram às ruas. Até agora, 27 pessoas — incluindo dois militares — morreram nos protestos, e centenas ficaram feridas. Cerca de 2.400 manifestantes, chamados de "terroristas" por Maduro, foram presos.

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Opositor está sob a mira da Justiça e foi convocado a depor pelo MP. González Urrutia, que não aparece em público há três semanas, é investigado por usurpação de funções e falsificação de documento público. O Tribunal Supremo de Justiça (TSJ), acusado de servir aos interesses do governo, validou os resultados da eleição na última quinta-feira (22), atendendo a um recurso apresentado por Maduro.

Independência do CNE e do TSJ foi questionada por missão da ONU. Os EUA, dez países da América Latina e o chefe da diplomacia da União Europeia, Josep Borrell, rejeitaram a decisão do TSJ.

Brasil e Colômbia insistem para que Venezuela publique as atas. "Ambos os presidentes [Lula, do Brasil, e Gustavo Petro, da Colômbia] permanecem convencidos de que a credibilidade do processo eleitoral somente poderá ser restabelecida mediante a publicação transparente dos dados desagregados por seção eleitoral e verificáveis", diz uma declaração conjunta divulgada no sábado (24).

(Com AFP)

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