O artefato achado em ilha do Pacífico que pode reescrever a história humana
A migração feita pelos seres humanos há milhares de anos ainda é motivo de pesquisa e debate entre especialistas, que buscam entender o caminho feito para que nossa espécie se estabelecesse em diferentes territórios. Nova pesquisa liderada por arqueólogo da Universidade de Oxford, na Inglaterra, indica que a presença humana no Pacífico pode ser ainda mais antiga do que o que se pensava, principalmente pelos artefatos achados por lá.
O que aconteceu
Travessias feitas pelos Homo sapiens podem esclarecer como a espécie se espalhou por diferentes continentes. Pesquisadores de todo o mundo trabalham para entender como essas migrações feitas pelo mar aconteceram: em que momento da História e a direção desses caminhos são alguns dos detalhes mais cobiçados pelos especialistas.
Estudo feito na Ilha Waigeo, no arquipélago de Raja Ampat, encontrou evidências que podem mudar o que os arqueólogos sabiam até então. Localizada onde atualmente é a Papua Ocidental, província da Indonésia, a ilha pode ter sido lar de humanos há mais tempo do que se imaginava: datação em radiocarbono de objetos encontrados no local indicam que eles foram usados entre 50 e 55 mil anos atrás.
Projeto liderado por Dylan Gaffney, da Universidade de Oxford, se dedicou à caverna Mololo. A caverna de calcário de aproximadamente 46 metros de profundidade estava a 15 km em direção ao interior da Ilha Waigeo quando foi habitada pelos humanos. Segundo os pesquisadores, a caverna Mololo é formada por uma câmara externa, exposta ao sol por conta do desabamento de sua cobertura, e uma câmara interna escura, onde vivem diversas colônias de morcegos.
Nova tese explora também como os humanos passaram a frequentar as florestas tropicais de pequenas ilhas. Segundo a pesquisa, este era um "ambiente particularmente desafiador", que exigiu que os Homo sapiens se adaptassem a condições até então desconhecidas pela espécie.
Pesquisa foi publicada na revista científica Antiquity, especializada em temas arqueológicos. O estudo publicado em agosto contou com especialistas de diversas partes do mundo, como Indonésia, Nova Zelândia, Áustria, Austrália, Estados Unidos, Filipinas e Japão.
Objetos encontrados podem reescrever a História
Líder do estudo descreveu a importância dos achados. Em artigo publicado no portal The Conversation, Dylan Gaffney conta que os objetos encontrados na caverna Mololo foram datados com radiocarbono pelos especialistas da Universidades de Oxford e de Waikato, na Nova Zelândia.
A escavação revelou várias camadas de ocupação humana associadas a artefatos de pedra, ossos de animais, conchas e carvão - todos os restos descartados por humanos antigos que viviam na caverna Dylan Gaffney em artigo publicado no The Conversation
Descoberta mais importante da escavação foi um artefato feito de resina de árvore. Segundo Gaffney, o objeto foi feito no período em que os Homo sapiens moraram na Mololo, ou seja, 55 mil anos atrás. "Este é o primeiro exemplo de resina usada por pessoas fora da África", explica o professor.
Artefato de resina foi produzido em várias etapas. Segundo análise feita com microscópio eletrônico de varredura, o primeiro estágio feito pelos humanos foi cortar a casca de uma árvore produtora de resina. O líquido, então, escorreu pelo tronco e endureceu. A última etapa foi moldar a resina endurecida. Segundo os especialistas, a função do artefato é desconhecida, porém a hipótese mais provável indica que o objeto pode ter sido usado como fonte de combustível para fogueiras dentro da caverna. "Resina semelhante [à encontrada na caverna Mololo] foi coletada durante o século 20 em torno da Papua Ocidental e usada para fogueiras antes da introdução da iluminação a gás e elétrica", explica Gaffney.
Ossos de animais encontrados na caverna ajudam arqueólogos a entender hábitos alimentares dos Homo sapiens. O estudo feito nos pedaços de ossos indica que os habitantes locais caçavam aves que habitavam o solo, marsupiais e morcegos. Para os especialistas, este é um exemplo de adaptação e flexibilidade humana em condições desafiadoras. "Apesar da Ilha Waigeo abrigar pequenos animais difíceis de capturar, as pessoas estavam se adaptando ao uso dos recursos da floresta tropical juntamente com os alimentos costeiros que as ilhas oferecem".
A análise de restos de fauna e de um artefato de resina indica ainda que a exploração tanto da floresta tropical como dos recursos marinhos, em vez de uma especialização puramente marítima, foi importante para o sucesso adaptativo dos povos do Pacífico Trecho do estudo publicado na Antiquity
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Quero receberMigração humana teria dois caminhos diferentes
Estudo feito na Ilha Waigeo traz informações também sobre a migração dos humanos no Pacífico. Segundo Gaffney, o período exato em que o Homo sapiens migrou é motivo de debate intenso até hoje, pois os estudos sobre o tema buscam entender a "rapidez com que a nossa espécie se dispersou da África para a Ásia e a Oceania".
Arqueólogos têm duas hipóteses para a migração. Ambas as teses indicam corredores marítimos que teriam conduzido os Homo sapiens ao Pacífico: uma rota ao sul para a Austrália e uma rota ao norte para a Papua Ocidental, através das Ilha Raja Ampat. "No que hoje é o norte da Austrália, as escavações indicam que os humanos podem ter colonizado o antigo continente de Sahul, que ligava a Papua Ocidental à Austrália, há 65 mil anos", explica Gaffney.
O nosso trabalho apoia a ideia de que os primeiros marinheiros cruzaram a rota norte para a Papua Ocidental, descendo mais tarde para a Austrália Dylan Gaffney ao The Conversation
Equipe segue escavando a região. Segundo os paleontólogos envolvidos no projeto, o objetivo da continuidade da pesquisa é encontrar mais informações sobre a fauna local no período, os hábitos de caça dos humanos que ali viviam, e como as pessoas se adaptaram ao clima tropical e às mudanças no ambiente que encontraram ao chegar ao Pacífico.
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