No G20, Lula critica gestão Bolsonaro e promete tirar país do mapa da fome

O presidente Lula (PT) criticou o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no discurso de abertura da Cúpula de Líderes do G20 nesta segunda-feira (18), no Rio. Ele citou que o Brasil voltou ao mapa da fome das Nações Unidas na gestão passada e afirmou que vai retirar o país dessa condição até 2026.

O que aconteceu

Lula prometeu retirar o Brasil do mapa da fome da ONU até 2026. Ele citou o dado de que a fome atingiu 33 milhões de pessoas no Brasil sob Bolsonaro e afirmou ter conseguido, no mandato atual, retirar 24,5 milhões da extrema pobreza. Lula não citou Bolsonaro diretamente, mas afirmou que o retorno do país ao mapa da fome se deu "em um contexto de desarticulação do Estado de bem-estar social".

O presidente disse que a fome é produto de decisões políticas. Ele afirmou que a persistência do problema é "inaceitável" diante dos gastos militares globais, que chegam a U$ 2,4 trilhões (cerca de R$ 13,8 trilhões no câmbio atual), e que a fome é "inadmissível" tendo em vista a quantidade de alimentos produzida pelo mundo.

O Brasil lançou no G20 a Aliança Global Contra a Fome e a Pobreza. A iniciativa já confirmou, até segunda (18), a adesão de 82 países, e o governo brasileiro espera novos apoios até o fim do evento. Todos os países membros do G20 adeririam — a Argentina havia ficado de fora inicialmente, mas anunciou sua entrada na iniciativa no início da tarde de hoje.

A aliança é focada na expansão de programas sociais. Com a entrada no pacto, os países se comprometem a adotar medidas internas contra a fome e pobreza ou a financiar iniciativas nesse sentido em outras regiões. No caso de países em desenvolvimento, a principal providência será a criação ou ampliação de programas de transferência de renda e medidas similares.

Conseguimos sair do Mapa da Fome da FAO em 2014, para o qual votamos em 2022 em um contexto de desarticulação do Estado de Bem-Estar Social. Foi com tristeza que, ao voltar ao governo, encontrei um país com 33 milhões de pessoas famintas. Em um ano e onze meses, o retorno desses programas já retirou mais de 24 milhões e meio de pessoas da extrema pobreza. Até 2026, novamente, sairemos do mapa da fome
Presidente Lula (PT), em discurso na abertura do G20

Cúpula segue até amanhã

A Cúpula de Líderes do G20 ocorre hoje (18) e amanhã (19). Além dos membros plenos do grupo (19 países mais a União Europeia e a União Africana), são esperados representantes de 55 outros países ou entidades. Os encontros da cúpula vão tratar de três temas essenciais: inclusão social e luta contra a fome e a pobreza; reforma da governança global; e transição energética e desenvolvimento sustentável.

O G20 representa dois terços da população mundial e cerca de 85% do PIB global. Os 19 países integrantes são África do Sul, Alemanha, Arábia Saudita, Argentina, Austrália, Brasil, Canadá, China, Coreia do Sul, Estados Unidos, França, Índia, Indonésia, Itália, Japão, México, Reino Unido, Rússia e Turquia.

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Aliança contra a fome e a pobreza

A aliança tem o apoio de 82 países e nove instituições financeiras. O BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) anunciou o maior aporte até o momento: US$ 25 bilhões (cerca de R$ 146 bilhões no câmbio atual), que deverão ser liberados em empréstimos para América Latina e Caribe. O Banco Mundial e o Banco dos Brics (dirigido pela ex-presidente do Brasil Dilma Rousseff), entre outros, também anunciaram compromisso com a aliança.

Segundo o governo Lula, a aliança deve beneficiar 500 milhões de pessoas. O Executivo não detalhou esse montante, mas ele se refere a iniciativas transferência de renda ou programas com finalidades específicas, como merenda escolar e para saúde materna e da primeira infância. O total previsto de beneficiários equivale a dez vezes o total atendido pelo Bolsa Família, o maior programa do tipo no mundo.

A iniciativa é vista com desconfiança. Quando assumiu a presidência do G20 e começou a articular a aliança, no final do ano passado, o governo Lula sofreu resistência de países que apontaram que já existem iniciativas globais com esse objetivo. Só na ONU existem duas importantes agências focadas no tema: a própria FAO e o PMA (Programa Mundial de Alimentos). O impacto dessas e outras medidas, porém, tem sido considerado limitado.

A criação da aliança foi anunciada oficialmente por Lula em julho. Por meio do Itamaraty e do MDS (Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome), o governo buscou convencer os membros do G20 de que a fome é persistente no mundo e que era necessária uma nova ação coletiva contra o problema.

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Recursos contra mudanças climáticas

O governo tenta convencer os países ricos a aumentarem o financiamento de medidas contra mudanças climáticas. O Brasil, que apresentou novas metas de redução de emissões poluentes na véspera da COP 29 em Baku, no Azerbaijão, na semana passada, lançou a BIP (Plataforma Brasil de Investimentos Climáticos e Transformação Ecológica), um painel que reunirá investidores, financiadores e projetos para transição e adaptação da economia brasileira.

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