Homem é preso com 320 tarântulas no corpo: por que elas são tão cobiçadas?

Um homem sul-coreano foi detido no Peru com 320 tarântulas presas ao corpo. O mercado ilegal milionário de aranhas explora o fascínio por esses animais e ameaça sua sobrevivência.

O que aconteceu

Um homem foi detido no Peru enquanto tentava contrabandear 320 tarântulas (também conhecidas como aranhas-caranguejeiras) e outros animais. No dia 8 de novembro, no Aeroporto Internacional Jorge Chávez, em Lima, a polícia encontrou os animais presos ao corpo do traficante, como reportado pela CNN.

Eles foram capturados na Amazônia e seriam transportados para a Coreia do Sul via França, segundo o Serfor (Serviço Nacional de Florestas e Fauna Silvestre) do Peru.

Por que elas são tão populares?

As tarântulas, carismáticas para uns e assustadoras para outros, se tornaram populares nas últimas décadas. Inicialmente criadas como pets exóticos, hoje sua comercialização se expande para mercados de souvenirs e pesquisas. Espécies também são vendidas mortas para quadros de entomologia e outras finalidades.

Casos semelhantes mostram como o tráfico dessas aranhas é frequente e crescente. A CNN destacou que, em 2021, autoridades colombianas apreenderam 230 tarântulas e outros animais escondidos em malas no aeroporto de Bogotá. Mais recentemente, 50 aranhas-caranguejeiras foram interceptadas pelo Ibama em São Paulo. Elas estavam escondidas entre brinquedos e roupas infantis na bagagem de um brasileiro vindo da Bélgica.

As tarântulas atraem colecionadores por sua beleza, cores vibrantes e comportamento dócil. Chris Hamilton, da Universidade de Idaho, explicou à BBC News que elas são vistas como animais carismáticos. Alice Hughes, da Universidade de Hong Kong, apontou que fóruns online conectaram compradores e traficantes, facilitando o mercado ilegal.

Além da aparência, as caranguejeiras têm grande valor científico e medicinal. Antonio Brescovit, diretor do Laboratório de Coleções Zoológicas do Instituto Butantan, afirma que o veneno e a hemolinfa de algumas espécies estão sendo estudados para tratamentos médicos. Ele citou pesquisas que investigam moléculas com potencial anticancerígeno, antibacteriano e para regulação de arritmias cardíacas.

A criação em cativeiro ajuda na comercialização, mas incentiva o tráfico ilegal. O biólogo César Favacho explicou ao UOL que a docilidade dessas aranhas facilita sua criação e aumenta sua demanda no mercado clandestino. Algumas espécies raras são vendidas por milhares de dólares, segundo ele.

Continua após a publicidade

O impacto ecológico do tráfico

A captura ilegal dessas aranhas afeta o equilíbrio ecológico. Como relatado pela BBC News Brasil, as caranguejeiras desempenham papel fundamental no controle de populações de insetos e pequenos animais. A retirada desses predadores de seus habitats causa desequilíbrios significativos, podendo levar à extinção local de espécies.

O transporte inadequado também ameaça as aranhas durante o tráfico. Cláudia Xavier, do Museu Emílio Goeldi, disse que muitas aranhas morrem devido ao calor, à falta de ventilação e umidade inadequada. Essa mortalidade agrava a reposição populacional, que já é lenta devido à baixa taxa de reprodução das caranguejeiras.

O tráfico ameaça ainda espécies endêmicas que nem sequer foram descritas cientificamente. Carol Fukushima, taxonomista da Universidade de Turku, afirmou à BBC que muitas aranhas traficadas não são catalogadas, dificultando sua proteção. Ela citou o caso da "Electric Blue Tarantula", descrita apenas em 2023, após anos de comercialização ilegal.

O combate ao tráfico e os desafios legais

Leis ambientais visam coibir o tráfico, mas sua aplicação enfrenta desafios. No Brasil, a Lei de Crimes Ambientais (Lei 9.605/1998) prevê multas e penas de até um ano de prisão para os envolvidos no tráfico de animais silvestres. Segundo Brescovit, porém, é preciso intensificar a fiscalização e a educação ambiental.

Continua após a publicidade

A internet e métodos de contrabando dificultam a fiscalização. Alice Hughes explicou à BBC News que práticas como "brownboxing" —envio de animais com etiquetas falsas— tornam o rastreamento quase impossível. Fóruns online ampliaram o alcance do mercado clandestino, conectando traficantes e compradores globalmente.

Educação e conscientização pública são passos cruciais para preservar essas espécies. Veronica Nanni, especialista em conservação, destacou à BBC que a mídia perpetua visões negativas sobre aranhas, afastando o público de sua importância ecológica. Ela diz que campanhas educativas podem ajudar a frear o tráfico e destacar o papel vital das aranhas no equilíbrio dos ecossistemas.

Deixe seu comentário

O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.