Escondidas na mala: belas e dóceis, caranguejeiras podem valer fortuna
Cinquenta aranhas caranguejeiras foram apreendidas pelo Ibama em São Paulo, que abortou uma tentativa de tráfico dos animais. Segundo especialistas ouvidos pelo UOL, elas são procuradas por sua beleza e docilidade.
'Valorizadas no mercado clandestino'
As aranhas foram apreendidas pelo Ibama na sexta-feira (18), no Centro de Triagem Internacional dos Correios, em São Paulo. Os animais estavam escondidos entre brinquedos, roupas infantis e alimentos na bagagem de um brasileiro que voltava da Bélgica. A apreensão ocorreu durante a Operação Hermes, conduzida pelo Ibama, que combate o tráfico ilegal de animais silvestres e exóticos.
O tráfico de aranhas caranguejeiras é motivado pela beleza dessas espécies. Segundo Cláudia Xavier, pesquisadora do Laboratório de Aracnologia do Museu Emílio Goeldi, elas são frequentemente alvo de colecionadores de animais exóticos, principalmente pela aparência e padrões de cores únicos.
Algumas espécies são bastante valorizadas no mercado clandestino, com colecionadores dispostos a pagar milhares de dólares por caranguejeiras raras ou com colorações diferenciadas.
Cláudia Xavier, pesquisadora do Laboratório de Aracnologia do Museu Emílio Goeldi
Além disso, a docilidade das aranhas caranguejeiras facilita o tráfico. "Essas aranhas também são muito dóceis, facilitando a criação em cativeiro e isso aumenta seu valor no comércio ilegal", diz o biólogo César Favacho.
As aranhas caranguejeiras não são perigosas para humanos. Antonio Brescovit, diretor do Laboratório de Coleções Zoológicas do Instituto Butantan, afirmou que, apesar de seu grande tamanho e aparência intimidadora, as aranhas caranguejeiras não são agressivas. Mesmo em casos de picada, o efeito geralmente é apenas dor local e inchaço, sem grandes complicações.
Há uma crença popular de que elas são perigosas, mas isso não é verdade. O veneno delas não tem relevância médica para humanos.
Antonio Brescovit, diretor do Laboratório de Coleções Zoológicas do Instituto Butantan
As caranguejeiras têm pelos urticantes que podem causar desconforto. "Elas possuem cerdas no dorso do abdome, que, quando liberadas, podem irritar a pele e até os olhos de quem entrar em contato com elas", explicou Xavier. "Em algumas pessoas, essas cerdas podem causar reações alérgicas mais sérias."
Essas aranhas têm grande valor científico e medicinal. Antonio Brescovit afirma que o veneno e a hemolinfa (fluido que circula no organismo) das aranhas caranguejeiras estão sendo estudados em laboratórios ao redor do mundo. "Pesquisas já identificaram moléculas no veneno de algumas espécies que têm potencial para tratar doenças humanas", disse Brescovit. "Em uma espécie chilena, por exemplo, o veneno mostrou propriedades que ajudam a regularizar o batimento cardíaco em pacientes com arritmia. Outras espécies estão sendo estudadas por seu potencial anticancerígeno e antibacteriano".
Impacto ecológico
O impacto ecológico do tráfico de aranhas é significativo. "O tráfico de aranhas silvestres, como as caranguejeiras, pode levar à extinção local de populações inteiras", alertou Favacho.
Quando indivíduos são removidos de seus habitats, há uma redução populacional que compromete o equilíbrio ecológico, já que essas aranhas têm um papel fundamental no controle de populações de insetos e outros pequenos animais.
César Favacho, biólogo
Essas aranhas podem sobreviver fora de seus habitats naturais, mas isso pode causar desequilíbrios ecológicos. "Dependendo das condições ambientais, algumas espécies de aranhas caranguejeiras podem sobreviver em locais onde não são nativas", explicou Cláudia Xavier. "Se forem soltas ou escaparem, podem se tornar espécies invasoras, competindo com a fauna local e provocando desequilíbrios ecológicos".
Transportar essas aranhas em condições inadequadas também representa riscos. "As aranhas caranguejeiras podem morrer facilmente durante o transporte, principalmente se forem expostas a calor excessivo, falta de ventilação ou condições de umidade inadequadas", explicou Cláudia Xavier.
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Quero receberO tráfico de animais silvestres, incluindo aranhas, é crime ambiental no Brasil. "O transporte e comércio ilegal de animais silvestres são proibidos pela Lei de Crimes Ambientais (Lei 9.605/1998)", explica Cláudia. "Os envolvidos nesse tipo de crime estão sujeitos a multas que podem variar conforme a gravidade da infração, além de penas de prisão que podem chegar a um ano."
A fiscalização é essencial para combater o tráfico de animais. Antonio Brescovit destacou a importância de operações como a Hermes, que ajudam a frear o comércio ilegal de aranhas e outros animais silvestres. "Embora seja difícil erradicar completamente o tráfico de animais, aumentar a fiscalização e educar a população sobre a importância de preservar a biodiversidade são passos essenciais para reduzir o impacto desse crime."
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