'Hotel da morte' só aceita check-in de quem está nos momentos finais

O hotel Mukti Bhawan, ou Casa da Salvação, localizado na cidade de Varanasi — mais conhecida como Benares —, na Índia, é uma hospedagem que tem como premissa receber pessoas em uma condição específica: que estejam a menos de duas semanas de sua morte.

Detalhes sobre o hotel

A despedida na "Casa da Salvação"

Cremação de mortos às margens do rio Ganges em Varanasi, na Índia
Cremação de mortos às margens do rio Ganges em Varanasi, na Índia Imagem: Grant Faint/Getty Images
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'A morte é um tabu'

Para Martinho Tota, doutor em Antropologia Social pela UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e professor e coordenador do Laboratório de Antropologia da Morte da UFC (Universidade Federal do Ceará), diferentemente dos hinduístas, a morte para os ocidentais impõe um limite à nossa compreensão, se tornando um tabu para quem vivencia.

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Para ele, embora haja uma variação muito grande de como a morte é compreendida no mundo, ainda existe um padrão que pode ser visto em quase todos os rituais: "As sociedades promovem uma série de rituais no sentido de separar o espírito do morto do mundo dos vivos. [...] Há um complexo ritualístico no sentido de fazer com que esse morto vá em paz para o mundo dos mortos. Como esses rituais vão se dar, isso varia enormemente. Mas existe, de fato, um padrão".

E assim é no hinduísmo. A cremação dos corpos faz, segundo a crença, com que o espírito se desprenda da matéria (corpo).

Os rituais também são um processo de purificação da própria sociedade. Isso é dito em muitos trabalhos antropológicos. Ou seja, a morte polui. Ela contamina a própria sociedade. A sociedade entra em desordem, e ela se desorganiza principalmente em sociedades de pequena escala.
Martinho Tota

Para ele, o "Hotel da Salvação" humaniza a morte principalmente de pessoas idosas. Citando o sociólogo alemão Norbert Elias, que retratou moribundos em uma de suas obras, ele traz a reflexão de que essas pessoas já se desconectam da sociedade antes mesmo da morte: "Todo esse complexo ritualístico é para purificar o morto e a sociedade. É para conduzir o morto a uma outra ordem no mundo dos mortos e para reorganizar e restabelecer a ordem social, comprometida com a morte daquele ente querido".

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