Flerte descuidado e munição com mensagem: o que se sabe da morte de CEO

Brian Thompson, 50, CEO da UnitedHealthcare, uma das maiores companhias de seguros médicos privados dos EUA, foi morto a tiros na quarta-feira (4) em frente a um dos maiores hotéis da cidade, o New York Hilton Midtown. A polícia investiga o caso e acredita que o crime foi premeditado.

O crime

Brian Thompson estava em frente ao Hilton de Midtown, onde uma conferência de investidores era realizada. Ele faria uma apresentação no evento, mas foi atingido pouco antes das 7h (9h, no horário de Brasília).

O atirador chegou ao local cerca de 10 minutos antes dos disparos e esperou pelo executivo, mostram imagens obtidas pela polícia.

Câmeras gravaram momento em que homem atira no CEO. Ele atinge Thompson pelas costas, que se vira para o agressor, dá alguns passos e cai. O atirador se aproxima e aponta a arma para Thompson mais uma vez, mas não dispara e foge do local.

These are images of the individual sought in connection to this investigation. If anyone has information as to the identity or location of this individual please contact @NYPDTips at 1(800)577-TIPS. pic.twitter.com/sm2GuEOYk1

-- NYPD NEWS (@NYPDnews) December 4, 2024

Policiais tentaram reanimar Thompson e o levaram a um hospital, onde a morte foi confirmada. "Estamos profundamente tristes e chocados com o falecimento de nosso querido amigo e colega Brian Thompson, diretor-executivo da UnitedHealthcare", disse a empresa em comunicado.

A investigação

Autoridades oferecem recompensa de US$ 10 mil (R$ 60 mil) por informações que levem à prisão do suspeito. Imagens divulgadas pela polícia mostram o homem mascarado, usando um casaco com capuz e uma mochila. "Se você tiver qualquer informação, por favor, entre em contato", diz o perfil da NYPD nas redes sociais.

Polícia está refazendo os passos do atirador. Ele teria chegado a Manhattan, distrito de Nova York, 10 dias antes do crime — às 21h de 24 de novembro — e fez check-in no HI New York City Hostel utilizando uma carteira de motorista falsa de Nova Jersey, segundo a CNN. Ele deixou o albergue no dia 29, mas voltou a se hospedar no dia 30.

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Cartaz da polícia oferecendo recompensa por informações sobre o assassino de Thompson
Cartaz da polícia oferecendo recompensa por informações sobre o assassino de Thompson Imagem: Alex Kent/Getty Images

Suspeito pode ser do sul do país. Apesar do documento de Nova Jérsei, fontes policiais informaram a rede americana ABC que o atirador chegou à cidade em um ônibus da empresa Greyhound vindo de Atlanta, no estado americano da Geórgia, e desembarcou no terminal de Port Authority. Ainda não há certeza, contudo, se ele apenas embarcou ali ou se mora na região.

Flerte: encapuzado 'baixou a guarda' para recepcionista. O jovem teria flertado com uma das funcionárias do lobby do albergue, que pediu para que ele abaixasse a máscara para que ela visse seu rosto. Ele a removeu e sorriu para a recepcionista, o que forneceu à polícia as imagens mais claras que se tem de seu rosto até agora — e que podem definitivamente ajudar a identificá-lo.

O assassino do CEO Brian Thompson sorrindo para a recepcionista do albergue, em imagens obtidas pela polícia
O assassino do CEO Brian Thompson sorrindo para a recepcionista do albergue, em imagens obtidas pela polícia Imagem: Divulgação/NYPD

Atirador pode ter tido treinamento com armas de fogo. Após análise das imagens do crime obtidas câmeras de segurança, autoridades acreditam que o assassino tinha pelo menos algum treinamento prévio com armas de fogo e experiência com armas. Além disso, a arma usada no crime estava equipada com um silenciador, disse um policial à agência Associated Press.

Bicicleta do suspeito pode ter sido posicionada como plano de fuga. Ele escapou justamente nela e foi visto pela última vez entrando no Central Park. Andrew McCabe, ex-vice-diretor do FBI, opinou à CNN que é possível que ele tenha entrado no parque e usado o local amplo e movimentado para uma troca de roupas.

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A entrada do hotel Hilton onde Brian Thompson foi assassinado
A entrada do hotel Hilton onde Brian Thompson foi assassinado Imagem: Spencer Platt/Getty Images

Assassino deixou marcas. A polícia encontrou uma impressão digital em uma garrafa de água que o atirador pode ter deixado para trás, mas ela está borrada, o que torna a identificação mais complexa sem um suspeito em mente com que possam compará-la, segundo a CNN. Também foi achado um celular no beco por onde o assassino fugiu.

Arma pode ter sido comprada em Connecticut. Investigação encontrou pistas de que a arma usada se assemelha a uma vendida recentemente no estado, informaram autoridades ao NYT. Além disso, a polícia de Nova York recorre a imagens de câmeras de segurança da cidade e de estabelecimentos comerciais, como uma cafeteria Starbucks em que esteve antes dos disparos, para reconstituir seus passos. O GPS da bicicleta elétrica utilizada por ele no início da fuga também foi monitorado, assim como drones auxiliam nas buscas.

O motivo

Balas guardavam mensagens. As autoridades encontraram palavras escritas nas balas, mas as versões de quais seriam elas divergem. Fontes da polícia ouvidas pela CNN afirmam que havia duas palavras: "depose" (destituir) e "delay" (postergar). Já o NYT apurou se tratarem de "deny" (negar) e "delay". A rede ABC News fala em "deny", "defend" (defender) e "depose".

"Código" vem de livro de práticas de convênios médicos. Todas as palavras citadas como mensagens do atirador viriam da obra "Delay, Deny, Defend", de Jay M. Feinman, cujo subtítulo explica "por que convênios não pagam reivindicações [de pacientes] e o que você pode fazer sobre isso". Feinman, professor emérito da Faculdade de Direito Rutgers, publicou o trabalho em 2010. O interesse pela obra pode ajudar a levar a polícia ao assassino de Thompson.

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Polícia acredita que atirador pode ter sido ex-funcionário ou usuário do convênio da UnitedHealthcare. Também é possível que ele fosse afeito a teorias da conspiração, informaram autoridades ao NYT. A motivação para o crime ainda não foi esclarecida, contudo.

O assassino do CEO Brian Thompson, da UnitedHealthcare, visto em câmeras de segurança pela polícia de Nova York
O assassino do CEO Brian Thompson, da UnitedHealthcare, visto em câmeras de segurança pela polícia de Nova York Imagem: Divulgação/NYPD

Suspeita de crime premeditado. O chefe de detetives do Departamento de Polícia de Nova York, Joseph Kenny, relatou à agência Associated Press que o atirador chegou a pé cinco minutos antes de Thompson, que aparentemente caminhava sem seguranças em frente ao hotel Hilton.

Vingança pode ter sido motivação. Sua esposa, Paulette Thompson, relatou à NBC que o marido estava recebendo ameaças antes do crime. "Basicamente, não sei... Uma falta de cobertura médica? Não sei os detalhes. Só sei que ele disse que havia algumas pessoas que o estavam ameaçando". Além de Paulette, ele deixou dois filhos.

Casa de Thompson em Minnesota teve ameaça de bomba após a morte. Cerca de 12 horas após o atentado contra o CEO, sua residência em Maple Grove recebeu uma ameaça de bomba. Um esquadrão revistou a propriedade, mas não encontrou nada, descreveu um relatório da polícia de Mineápolis obtido pelo NYT.

Quem era a vítima

CEO estava há 20 anos no UnitedHealth Group. Desde abril de 2021, ele ocupava o cargo de direção da UnitedHealthcare, a seguradora de saúde privada da empresa. Anteriormente, ele foi CEO dos programas governamentais do grupo, que inclui os convênios Medicare e Medicaid, financiados pelo governo dos EUA para pessoas idosas e de baixa renda. Sua divisão atual tinha quase 140 mil funcionários nos EUA e em outros países.

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Thompson também era responsável pelo crescimento de programas de benefícios governamentais geridos pelo grupo. De acordo com um anúncio divulgado pela empresa quando ele assumiu o cargo, o executivo ainda lidava com negócios globais da companhia, como seguros para empregadores, individuais e especializados. O UnitedHealth Group faturou US$ 100 bilhões no terceiro trimestre de 2024.

Brian Thompson, CEO assassinado da UnitedHealth Group
Brian Thompson, CEO assassinado da UnitedHealth Group Imagem: Divulgação/UnitedHealth Group

Durante sua carreira, ele ainda atuou como diretor financeiro de uma divisão da empresa. Na época, ele geria outros seguros, como aposentadorias, mas também o convênio Medicare, para maiores de 65 anos. Antes de entrar para o grupo em 2004, ele ainda trabalhou como contador público da firma PwC. Ele se formou em administração de empresas pela Universidade de Iowa, em 1997.

Enfrentava acusações de "insider trading". Prática consiste no uso de informações privilegiadas, obtidas dentro de uma empresa, para facilitar a compra ou venda de suas ações. Em maio, um fundo de pensionistas do Corpo de Bombeiros de Hollywood, na Flórida, entrou na Justiça contra ele e outros altos executivos do grupo acusando-os de vender US$ 120 milhões em ações antes que uma investigação de monopólio do Departamento de Justiça dos EUA fosse levada a público, prejudicando investidores. A informação é da rede NBC.

Polícia de Nova York divulgou imagens de homem que atirou em CEO da UnitedHealthCare
Polícia de Nova York divulgou imagens de homem que atirou em CEO da UnitedHealthCare Imagem: NYPD/Reprodução

Ele ganhou um salário total de US$ 10,2 milhões (R$ 61 milhões) em 2023, segundo dados públicos do UnitedHealth Group. Nos últimos dez anos, a empresa havia adquirido mais de 35 outras seguradoras de saúde, segundo a BBC, um "sucesso" que alertou as autoridades para a possibilidade de que a gigante estivesse usando seu enorme capital para eliminar a concorrência.

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O UnitedHealth Group, gigante do setor de saúde de Minnesota, era dono da Amil até o final de 2023. O convênio brasileiro foi vendido por R$ 11 bilhões na época ao empresário José Seripieri Filho. Segundo a rede americana CBS, o grupo americano está avaliado em US$ 562 bilhões (R$ 3,36 trilhões) e atende a milhões de americanos.

Bandeiras a meio-mastro marcam o luto na sede da UnitedHealthcare em Minnesota, nos EUA, após o assassinato de Brian Thompson
Bandeiras a meio-mastro marcam o luto na sede da UnitedHealthcare em Minnesota, nos EUA, após o assassinato de Brian Thompson Imagem: Stephen Maturen/Getty Images

Thompson era descrito como um diretor discreto pela imprensa americana. Ainda segundo a CBS, ele teria anunciado a investidores em uma reunião em 2023 que planejava mudar o foco da UnitedHealth, pagando médicos e profissionais de saúde para manter pacientes saudáveis, através do cuidado preventivo, em vez de tratá-los apenas quando estivessem doentes.

Sua empresa foi alvo de um relatório do Senado em outubro por se recusar a pagar por tratamentos de idosos que se recuperam de quedas ou derrames. As investigações do Legislativo americano apontaram que o número de coberturas negadas para tratamento pós-doença ou evento agudo aumentou de 10,9% em 2020 para 22,7% em 2022.

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