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Em reta final, Obama e Romney fazem corrida desenfreada que pode gerar exaustão, erros e gafes

 O Presidente dos Estados Unidos e candidato à reeleição, Barack Obama, mostra cópia do seu plano de geração de empregos durante evento de campanha em Dayton, Ohio (EUA) - Mandel Ngan/AFP
O Presidente dos Estados Unidos e candidato à reeleição, Barack Obama, mostra cópia do seu plano de geração de empregos durante evento de campanha em Dayton, Ohio (EUA) Imagem: Mandel Ngan/AFP

Michael D. Shear

27/10/2012 06h00

Mitt Romney atravessou quatro zonas horárias nos EUA na quarta-feira (24), enquanto o presidente Barack Obama varava a noite ligando para seus apoiadores do Air Force One, enquanto voava de um comício para outro em uma blitz de 48 horas.

Esse tipo de esforço desenfreado pode ser necessário nestas últimas semanas da corrida, e provavelmente é uma boa publicidade para os candidatos, que tentam provar que podem enfrentar qualquer coisa que a Casa Branca lhes atire.

Mas também há um perigo nisso, e os assessores de Romney e Obama o conhecem.

A campanha muito extensa eventualmente leva a um candidato exausto e pode causar lentidão, erros e gafes. As ramificações de um deslize no último minuto já eram altas  décadas atrás, quando os candidatos estavam se adaptando a fazer campanha na era da televisão.

Mas hoje, na política hiperveloz da era da Internet, as apostas são ainda mais altas se um candidato erra um fato ou parece mal no jogo ao rumar para o dia da eleição.

Ainda pior para os candidatos exaustos, o dia da eleição se tornou o mês da eleição. Costumava haver tempo para os membros da campanha tentarem reparar os danos de um comentário infeliz antes que os eleitores entrassem na cabine. Hoje, milhões já estão votando nos Estados que são os campos de batalha mais importantes.

E as expectativas são ainda mais altas para que os candidatos não deixem aparecer sua exaustão. Já não basta ter boa aparência para as redes às 18 horas. Há câmeras de telefones celulares em todo lugar, e canais a cabo 24 horas transmitem imagens em alta definição supernítidas que mostram olheiras quando elas existem.    

Cada um dos atuais candidatos teve sua parcela de gafes na campanha ao longo dos anos. Algumas se mostraram politicamente difíceis.
Mas nada teria tanta consequência quanto um erro nas últimas duas semanas de uma campanha presidencial que parece que será a mais disputada da história recente. Até um pequeno deslize poderá custar a presidência a Romney ou a Obama.    

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Os candidatos - e seus assessores - provavelmente não precisam de um lembrete sobre gafes relacionadas ao cansaço que eles e seus antecessores fizeram.

Mas aqui está, de qualquer modo:

- O senador John Kerry devia estar cansado naquele dia em agosto de 2004 quando chamou Lambeau Field (o campo dos Green Bay Packers) de Lambert Field, um aeroporto em St. Louis. Ele estava em Wisconsin naquele dia, fazendo campanha dura contra o presidente George W. Bush.

- Em maio de 2008, no auge de sua batalha contra a então senadora Hillary Clinton, Obama disse que se orgulhava de ter feito campanha em 57 estados. São apenas 50, é claro.

- George Romney, pai de Mitt Romney, estava no final de um dia difícil de campanha para a nomeação republicana em 1967, quando disse a um repórter que tinha recebido uma "lavagem cerebral" em uma viagem ao exterior. Ele não ganhou a nomeação.

- O governador Howard Dean estava cansado - mas conectado - quando gritou um selvagem "Hi-ha" depois de perder os cáucus em Iowa em 2004. Sua campanha nunca se recuperou realmente daquele momento.

- A duríssima eleição de 1976 estava apenas começando quando Jimmy Carter deu uma entrevista à revista "Playboy" (!). Na conversa, ele admite: "Já olhei para muitas mulheres com desejo". Mas ele ganhou a presidência de qualquer modo.

- E, é claro, Romney cometeu algumas gafes, provavelmente causadas em parte pelo cansaço. O "jet lágrimas" e a exaustão podem ter tido algo a ver com ele ter insultado a cidade de Londres na véspera das Olimpíadas.

Quão danosos são esses erros, na verdade?

Varia, é claro. Alguns erros ou gafes podem pôr fim a uma candidatura ou até uma carreira política. Outros podem ter um efeito mais limitado.

Mas todos roubam a única coisa que nenhuma campanha pode perder nos últimos dias de uma eleição muito disputada: tempo.

Os atuais candidatos conseguirão evitar momentos semelhantes enquanto encerram os últimos 12 dias da campanha presidencial de 2012?
Seus assessores estão com os dedos cruzados.