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Oceano Ártico se divide entre a exploração econômica e a ecologia

Céline Serrat

Em Mônaco

09/10/2012 19h52

O oceano Ártico se tornou um campo de prospecção petrolífera e, em longo prazo, a navegação e a pesca podem ser desenvolvidas em suas águas, uma evolução com duras consequências ecológicas que precisa ser controlada, afirmam especialistas reunidos em Mônaco nesta terça-feira (9).

O futuro do Ártico e a pesca predatória, além dos recursos genéticos e de mineração de suas profundezas, representam os novos desafios econômicos dos oceanos, que pedem uma regulamentação para que os ecossistemas sejam preservados, explicaram em Mônaco os participantes de um colóquio no âmbito da Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar, 30 anos depois de sua adoção.

O oceano Ártico é "um exemplar típico" de colisão entre um desejo de desenvolvimento econômico e a inquietação em proteger a natureza, explicou Philippe Valette, oceanógrafo e diretor do Centro Nausicaá, de Boulogne-sur-Mer, no norte da França.

O progressivo recuo da calota polar modifica radicalmente os ecossistemas da fauna, da flora e das populações locais, e permite prever a longo prazo uma futura via marítima direta entre Europa e Ásia, enquanto as reservas de hidrocarbonetos no subsolo são cobiçadas pela indústria.

"O derretimento da calota polar pode tornar as explorações muito mais fáceis do que hoje em dia", afirmou Jean-Pierre Beurier, professor de Direito Marítimo da Universidade de Nantes (oeste da França). "Quando se fala em explorações minerais ou fósseis estamos falando de importantes contaminações, se não houver exigências drásticas sobre os atores econômicos", advertiu.

No Ártico, o apetite pelos recursos se inscreve em um âmbito ao mesmo tempo frágil e desconhecido. A calota polar, que ocupa boa parte do oceano Ártico, se vê afetada pelo aquecimento global. Sua extensão de gelo chegou a registrar este ano sua menor superfície, equivalente à metade do que era há 30 anos.

"Conhecemos muito pouco este meio, assim como a grande maioria dos oceanos", reforça Valette, que defende a ideia de uma moratória sobre o desenvolvimento econômico no Ártico. "Uma moratória seria prudente", também avalia Beurier, advertindo que "a exploração do Ártico é inevitável".

O estabelecimento de um tratado semelhante ao do oceano Antártico, espaço consagrado à pesquisa científica, não se apresenta como uma possibilidade. 

O Greenpeace luta pela proibição da pesca industrial e das atividades petroleiras e gasíferas. Nesta terça-feira, encerramento do colóquio, o príncipe Albert II de Mônaco fez uma defesa neste sentido, desejando "ver a parte do oceano Ártico situada mais além das zonas exclusivas como uma área protegida e dedicada à pesquisa".

"Os países costeiros (Rússia, Canadá, Noruega, Dinamarca e Estados Unidos) não aceitarão nunca que se crie uma reserva como na Antártida, o que está em jogo é muito importante. Então, por que não uma convenção regional à imagem do que se fez em 1974 para o mar Báltico ou o Mediterrâneo?", propôs Beurier.