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Índios devem ter maior protagonismo para evitar desmatamento na Amazônia

Em Lima

04/12/2014 20h14

Os povos indígenas devem ter maior protagonismo na preservação das florestas e na redução do desmatamento na Amazônia, uma das causas das mudanças climáticas, revela um informe elaborado por entidades ambientais e indigenistas.

Apesar de não existir um reconhecimento das contribuições dos povos indígenas à preservação florestal, os governos não avançam em programas de manejo florestal comunitário, nem no reconhecimento das terras indígenas, destaca o estudo realizado pela Associação Nacional de Povos Indígenas do Peru (AIDESEP) e da organização internacional Forest Peoples Programme (FPP).

No Peru, mais de 75% do desmatamento amazônico ocorre fora dos territórios indígenas e em áreas naturais protegidas, segundo o estudo, apresentado à margem da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP20), que se celebra em Lima até 12 de dezembro.

"Foram feitas promessas, as soluções existem e os recursos estão disponíveis, mas a vontade parece ausente se continuarem ignorando as causas reais da destruição das florestas", disse Michael Valqui, do Centro para a Sustentabilidade Ambiental da Universidade peruana de Cayetano Heredia, um dos autores do estudo.

O informe, intitulado "Tornando visível o invisível: perspectivas indígenas sobre o desmatamento na Amazônia Peruana" (Haciendo visible lo invisible: perspectivas indígenas sobre la deforestación en la Amazonía Peruana, no original em espanhol), estima que em 2013 ao menos 20% do desmatamento no Peru foi atribuído à mineração ilegal de ouro em Madre de Dios (sudeste) e ao desenvolvimento de palma para produção de azeite nas regiões amazônicas de Loreto e Ucayali (nordeste).

Está previsto que estas taxas de desmatamento aumentarão maciçamente, advertiram os pesquisadores, indicando que pelo menos 100.000 hectares da floresta de Loreto são solicitadas para plantações de palmeira para produção de óleo e mais de 50 grandes represas estão planejadas (cada uma com capacidade maior a 100MW), ameaçando inundar milhares de hectares de floresta e deslocar seus habitantes indígenas.

"O manejo florestal comunitário tem sido uma experiência positiva para evitar o desmatamento e as queimadas na Bolívia", disse Natalia Calderón, especialista da Fundação Amigos da Natureza (FAN), durante apresentação nesta quinta-feira na COP20.

Os territórios indígenas concentram apenas 2% do desmatamento na Bolívia, segundo a FAN.

A organização boliviana revelou que 32 milhões de hectares de florestas foram queimados entre 2000 e 2013 neste país, especialmente por causa da agricultura e da pecuária.

Devido aos efeitos climáticos, "esperamos nos próximos anos mudanças extremas na temperatura e nas precipitações em regiões norte-amazônicas" bolivianas, disse Calderón.