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O que causou o maior nº de incêndios florestais no país em quatro anos?

Carlos Madeiro

Colaboração para o UOL, em Maceió

21/12/2015 06h00Atualizada em 21/12/2015 12h40

Os incêndios florestais foram uma preocupação constante das autoridades ambientais no segundo semestre de 2015. Até o dia 10 de dezembro, foram registrados 225 mil focos no ano, segundo dados do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) --mais de 80% deles ocorridos a partir de agosto. O número de 2015 é o maior desde 2010, quando foram 249 mil casos. 

Segundo autoridades e especialistas ouvidos pelo UOL, a seca, a falta de recursos e principalmente a ação do homem foram responsáveis por esses números do ano. O mês de setembro registrou o maior índice do ano, com média de cem novos focos por hora, e pelo menos 300 mil hectares foram destruídos nos maiores incêndios do ano (cada hectare equivale a 10 mil m²), o que é igual a duas vezes a área da cidade de São Paulo. 

Segundo dados do Inpe, o bioma mais afetado foi a Amazônia, com 48% dos casos. Outros 36% ocorreram no Cerrado. O Estado com mais queimadas foi o Pará, com 41 mil casos registrados. Mato Grosso e Maranhão vêm logo em seguida, com 31 mil e 28 mil focos, respectivamente.

Veja abaixo os maiores incêndios florestais do ano:

Arariboia (MA)

Entre o final de setembro e o final de outubro, um grande incêndio destruiu boa parte a terra indígena Arariboia, no Maranhão. Cerca de 300 pessoas participaram da Operação Awá. Segundo o Ibama, a área afetada foi de 220 mil hectares, cerca de metade da reserva. No local vivem índios isolados, que nunca fizeram contato com a civilização, mas que não foram afetados. O fogo teria sido provocado por madeireiros.

O principal causador do fogo, segundo o coordenador de emergências ambientais do ICMBio, Christian Berlinck, é o ser humano. “Nós, homens, colocamos fogo, quer seja porque gosta e acha bonito, quer seja como ferramenta da agropecuária, quer seja por conflito fundiário ou uma disputa com o vizinho. Quase todos eles são criminosos”, afirmou.

Chapada dos Guimarães (MS)

O Parque Nacional da Chapada dos Guimarães foi vítima de um incêndio no início de setembro. O fogo durou dez dias e começou na Morraria do Coxipó do Ouro, entorno do parque. Após o fogo chegar à área protegida, atrativos como o Mirante do Véu de Noiva e Cachoeirinha foram fechados à visitação. O fogo destruiu aproximadamente 3.300 hectares do parque, 12,4 mil da APA (Área de Proteção Ambiental) e 9.600 de áreas externas. A suspeita é que o incêndio tenha origem criminosa.

Segundo Berlinck, 2015 foi atípico em relação aos últimos anos. “Aliado à falta da chuva e ventos muitos fortes, qualquer foguinho acaba tomando grandes proporções. E temos um ano de problemas orçamentários do governo federal, estaduais e dos municípios. Não temos mais os recursos que tínhamos, e isso dificulta o acionamento de algumas estruturas", explicou.

Floresta Amazônica (AM)

Em setembro, em Manaus, a população sofreu por uma semana com fumaça na área urbana por conta dos vários focos de incêndio em municípios próximos, em áreas da floresta Amazônica. Escolas chegaram a suspender aulas por conta do problema. “Foi um ano difícil para todas as áreas protegidas federais e reservas biológicas”, disse o coordenador do ICMBio.

Serra Rola do Moça (MG)

Durante seis dias de outubro, focos de incêndio atingiram 25% do Parque Estadual da Serra do Rola Moça, em Belo Horizonte, destruindo mil dos 4.000 hectares da unidade de conservação. Os dados são Instituto Estadual de Florestas. Mais de 150 pessoas combateram o incêndio, que teria tido início criminoso. Um homem não identificado foi visto colocando fogo na vegetação.

Entre os motivos para os incêndios provocados, estão a renovação de pastagem para plantio ou para o gado. “Isso é passível de autorização, mas normalmente não se pede e se usa o fogo de forma indiscriminada”, explica Berlinck.

Serra do Cipó (MG)

Ainda em outubro, por cinco dias, o Parque Nacional da Serra do Cipó teve 6.000 hectares destruídos do parque. Ao lado, a APA do Morro da Pedreira teve mais 4.000 hectares destruídos.

“Este ano teve uma configuração climática diferente, muito parecida com 2010, que é uma interferência do El Niño. Ele atrasou as chuvas, além de mudar o regime de ventos e causar uma estiagem mais prolongada”, afirma o coordenador do ICMBio.

Chapada dos Veadeiros (GO)

Em novembro, um incêndio destruiu pelo menos 15 mil hectares do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros. O local precisou ser fechado para visitação. Segundo o ICMBio, os focos do incêndio tiveram início por raios que caíram na noite do dia sete de novembro, e o fogo durou dez dias.

O chefe do Prevfogo (Centro Nacional de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais) do Ibama (Instituto Nacional do Meio Ambiente e Recursos Renováveis), Gabriel Constantino Zachariaso, ressalta que os ecossistemas, em especial o Cerrado, têm grande poder de estabilidade e capacidade de se recuperar de um impacto. “O tempo que ele leva para se restabelecer vai depender do tipo do solo, do relevo, da disponibilidade de nutrientes e de extensão do período chuvoso e da não ocorrência de outros incêndios em anos vindouros”, disse. Segundo ele, a quantidade de focos de incêndio em 2015 obrigou o órgão a contratar mais 1.413 brigadistas. Ao todo, sete brigadas especializadas estão prontas para atuar em qualquer situação.

Chapada Diamantina (BA)

Em novembro, o parque Nacional da Chapada Diamantina foi atingido por pelo menos seis focos de incêndio --alguns que duraram mais de 20 dias. Segundo o ICMBio, cerca de 30 mil hectares foram destruídos pelo fogo, mas apenas 10 mil desse total fica dentro do parque --dois terços ficam fora dos limites. A unidade tem, ao todo, 152 mil hectares. Antes, em setembro, outro incêndio destruiu cerca de 9.000 hectares do parque. O fogo atingiu uma região conhecida como Gerais do Vieira.

“Não tivemos até agora chuvas suficientes --o normal seria, no Centro-Oeste, por exemplo, estar chovendo todo dia agora em dezembro, mas elas estão bem esparsas”, explicou o coordenador do ICMBio Christian Berlinck.

Lago Piratuba (AP)

Um incêndio de grandes proporções atingiu, no final de novembro e início de dezembro, a Reserva Biológica do Lago Piratuba, no norte do Amapá. A área atingida não foi divulgada. Foi o segundo grande incêndio no local no ano. Em janeiro, após dois meses de fogo, 7.000 hectares foram devastados. A unidade tem 395 mil hectares. A suspeita é que o fogo teve início fora da unidade e foi criminoso. "Medidas de precaução não são tomadas, e os incêndios surgem por imperícia, imprudência, ou mesmo dolo, como é o caso dos conflitos fundiários" completou Berlink.