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Carlos Nobre diz que Brasil não vai cumprir meta de redução do desmatamento

Do UOL, em São Paulo

29/10/2019 00h23

O cientista Carlos Nobre afirmou no Roda Viva de hoje que o Brasil não deve cumprir a meta de redução de desmatamento estipulada pelo Congresso em 2010. A ideia era de que até 2020, o país reduzisse o desmatamento para menos de 3,9 mil quilômetros quadrados.

Nobre, que fez parte do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas), órgão que recebeu o Prêmio Nobel da Paz em 2007, explica que até 2014, o Brasil mostrava uma grande queda no desmatamento e que até aquele instante a comunidade científica brasileira acreditava que as metas seriam cumpridas, inclusive com folga.

"Mas a partir de 2015 a curva se inverteu. Neste ano ela subiu muito. Então é impossível imaginar que vamos conseguir no ano que vem reduzir o desmatamento abaixo de 4 mil quilômetros quadrados", garante.

Esse foi um dos objetivos que o Brasil apresentou no Acordo de Paris, em 2015. Segundo Nobre, naquele momento, o país estava entre os protagonistas no debate sobre a preservação ambiental, o que fez com que o governo brasileiro apresentasse metas "muito ambiciosas".

O órgão que divulga os dados sobre o desmatamento no Brasil é o INPE, instituição que já sofreu desgaste com o governo de Jair Bolsonaro. O governo já anunciou que pretende fazer mudanças no INPE. Para Nobre, essas mudanças precisam ser em tom de melhoria e com mais investimentos para a ciência brasileira, em geral.

Nobre não vê risco de invasão estrangeira na Amazônia

O cientista, formado em engenharia eletrônica pelo ITA (Instituto Tecnológico da Aeronáutica), conta que conhece a Amazônia desde as épocas de estudante, na década de 1970, e mesmo naquele período os militares brasileiros temiam que os EUA pudessem invadir a Amazônia.

Mas ele diz não acreditar que isso seja possível, tampouco que outros países possam interferir na soberania brasileira.

"Eu nunca vi nenhuma ameaça real de uma invasão estrangeira na Amazônia", garante.

Nobre afirma que, nesse quesito, não há risco para a soberania brasileira. Por outro lado, ele sugere uma nova concepção da palavra.

O cientista explica que no mundo contemporâneo, a soberania está ligada ao avanço tecnológico.

Assim, para ele, é importante que a floresta amazônica seja preservada e seu potencial de biodiversidade seja usado de forma economicamente viável pelo país.

Ambientalista pede suspensão de pescaria no Nordeste

Sobre o vazamento de petróleo que atingiu cerca de 250 praias no nordeste, Nobre afirmou que ainda não é possível rastrear definitivamente o local onde o vazamento aconteceu e as investigações para definir a autoria deste crime ambiental precisam ser "policiais".

Além disso, o cientista falou que a pescaria precisa ser interrompida nas praias atingidas, já que os peixes estão contaminados e o contato com o óleo pode afetar também a saúde dos pescadores.

"Em todas as praias tradicionais de pesca artesanal, ali tem que ser suspensa totalmente a pesca porque as substâncias desse petróleo contaminam em um nível terrível", explica o cientista

Ele defendeu que os pescadores recebam seguro-pesca e que o governo coloque serviços à disposição dos atingidos, para reduzir os danos de contaminação e possíveis doenças.