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Amazônia peruana sofreu em 2020 o desmatamento mais grave das últimas décadas

10/09/2021 00h26

Lima, 9 set (EFE).- Apesar das rígidas restrições impostas para combater a pandemia de covid-19, o desmatamento da Amazônia peruana alcançou em 2020 o índice mais alto das últimas duas décadas, enquanto as autoridades do país ainda não apresentam um plano para evitar que a tendência se mantenha, alertaram organizações civis à Agência Efe.

O Peru perdeu 203.272 hectares de floresta amazônica no ano passado, 54.846 a mais do que em 2019 e 177.556 além do que foi contabilizado em 2014, o que foi, até agora, o índice mais alto dos últimos 20 anos, segundo a associação civil Direito, Meio Ambiente e Recursos Naturais (DAR), com base em números oficiais.

"Esta perda de florestas está relacionada a várias causas, mas uma das fundamentais está ligada ao desenvolvimento das atividades agrícolas", disse Isabel Gonzales, coordenadora do programa de Mudanças Climáticas e Florestas da entidade.

Ao todo, entre 2001 e 2020, foram perdidos 2.636.585 hectares de floresta amazônica no Peru, problema que no ano passado se concentrou em 77% nos departamentos de Loreto, San Martín, Ucayali, Junín, Madre de Dios e Amazonas.

RAZÕES PARA O AUMENTO.

O aumento do desmatamento ocorreu apesar de o governo presidido por Martín Vizcarra (2018-2020) ter decretado uma das quarentenas mais rigorosas do mundo em meados de março de 2020, que durou quase quatro meses.

Dados do Ministério do Meio Ambiente indicam que entre 15 de março, quando a emergência sanitária nacional começou, e 15 de maio de 2020, o desmatamento acumulado foi de 7.119 hectares, 28,7% a menos do que os 9.981 hectares registrados no mesmo período em 2019.

Embora se pensasse que estes números pudessem marcar uma tendência descendente, os dados oficiais indicaram que a taxa anual chegou a 203.272 hectares.

Gonzales explicou que é provável que o elevado desmatamento tenha relação com a grande migração de pessoas para as suas cidades de origem devido à impossibilidade de cumprir o isolamento rigoroso em Lima e outras cidades.

"Vemos que a porcentagem de perda florestal em pequenas áreas aumentou no último ano em oito pontos percentuais, motivo pelo qual existe provavelmente uma questão ligada a este retorno de muitas pessoas ao campo, tentando encontrar uma fonte para o cultivo de alimentos", explicou.

Outro aspecto "fundamental" foi "menos ações de controle por parte do Estado nestas áreas" durante as restrições sanitárias, além do aumento de atividades ilegais.

MEDIDAS URGENTES.

"Isto é, de fato, bastante alarmante. Vimos que a partir de 2017 houve uma leve tendência para uma redução do desmatamento e o que vimos no último ano é que ela subiu na direção oposta. Há um efeito direto, sobretudo nas pessoas que dependem das florestas", como as comunidades nativas, "que estão cada vez mais ameaçadas e até perdem a vida nesta luta constante para evitar que os recursos sejam afetados", observou.

Em meio a esta situação, Gonzales acrescentou que as autoridades nacionais e regionais ainda não apresentaram um plano de contingência para impedir que esta tendência se mantenha.

Por esta razão, a DAR enviou uma carta ao presidente do Peru, Pedro Castillo, para pedir que "continue e reforce" as ações contra o desmatamento e para promover a governança dos recursos naturais "para uma gestão melhor, equitativa e sustentável dos investimentos". EFE

dub/vnm

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