Mais sujo que Déli, seco como o Saara: por que ar no Brasil está sufocante
Giovanna Arruda
Colaboração para o UOL
10/09/2024 05h30
A qualidade do ar na cidade de São Paulo e na região metropolitana nesta segunda-feira (9) foi pior do que os índices de cidades conhecidas pela poluição como Nova Déli, na Índia. E até o Saara está mais úmido do que algumas áreas do Brasil.
Soma de fatores
O calor, o tempo seco e a fumaça de incêndios derrubaram a qualidade do ar em São Paulo. Na segunda-feira, a cidade amanheceu com a qualidade do ar entre ruim e muito ruim, segundo dados da Cetesb (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo).
O site suíço IQAir pontuou, na segunda-feira, em 160 o índice de qualidade do ar em São Paulo, levando a capital a liderar o ranking de metrópoles mais poluídas do mundo. São Paulo ultrapassou por exemplo, Déli (Índia), Doha (Catar) e Jacarta (Indonésia). A lista não contempla todas as cidades do mundo —apenas algumas das maiores e mais conhecidas metrópoles do mundo. Cidades da região metropolitana, como Osasco e Guarulhos, também registraram índices acima do ideal.
A qualidade do ar foi considerada insalubre. Segundo os parâmetros do IQAir, índices entre 151 e 200 estão na categoria "insalubre"; índices de 201 a 300 são definidos como "muito insalubre"; enquanto marcações acima de 301 indicam a categoria mais crítica, chamada de "perigosa".
Ao longo da manhã, a capital paulista caiu para segundo lugar na lista. Apesar de ter mantido o índice de 160, a cidade de São Paulo foi ultrapassada por Lahore, no Paquistão, que alcançou 169. De acordo com os registros gerais do IQAir, Lahore é a quinta metrópole com os piores índices de poluição no mundo todo, atrás das cidades de Begusarai, Guwahati, Déli e Mullanpur, todas na Índia.
Bangladesh, Paquistão e Índia, respectivamente, foram considerados os países com as piores qualidades de ar em 2023 pelo relatório World Air Quality, elaborado pela IQAir. Nesses países, o nível de materiais particulados com diâmetro de até 2,5 micrômetros (MP 2,5) é até dez vezes maior do que o recomendado pela OMS (Organização Mundial da Saúde). Na medição desta segunda-feira, São Paulo chegou a ficar à frente de cidades dos três países.
Metrópoles conhecidas pela baixa qualidade do ar registraram índices melhores do que o de São Paulo. Dubai, nos Emirados Árabes Unidos; Adis Abeba, na Etiópia; Jacarta, na Indonésia; Doha, no Catar; Kinshasa, na República Democrática do Congo; Bagdá, no Iraque; Karachi, no Paquistão; e Nairóbi, no Quênia, são algumas das regiões cujo ar estava mais saudável do que o da capital paulista. Pequim, cuja névoa de poluição é conhecida pelos moradores e turistas, também estava com condições melhores do que a de São Paulo na segunda.
Norte do Brasil extrapolou índices de insalubridade. Porto Velho, capital de Rondônia, registrava índice ainda maior, de 237, no IQAir. A umidade do ar na cidade ficou em 12%. Rio Branco, capital do Acre, apresentou umidade ainda menor: apenas 10%. O índice da cidade foi definido em 188.
Secura e previsões
A umidade no Brasil tem sido pior do que a do Saara. De acordo com levantamento da MetSul Meteorologia divulgado na última sexta-feira (6), o fenômeno é resultado da combinação da estiagem prolongada no Brasil no mesmo período em que o deserto no norte da África registra índices de umidade mais altos do que o comum. Enquanto regiões de São Paulo marcaram 33% de umidade, regiões próximas ao deserto marcavam índices mais saudáveis: Cairo, capital do Egito, registrou 51% de umidade na tarde de segunda-feira.
Os primeiros dias do mês têm sido marcados por graves condições climáticas. Segundo dados da MetSul, o início de setembro tem apresentado níveis de umidade relativa do ar extremamente baixos, iguais ou inferiores a 10% em quase todas as regiões do Brasil.
A previsão do tempo indica que a qualidade do ar pode piorar ainda mais. Segundo a MetSul, uma massa de ar extremamente quente e seca cobre a maior parte do Brasil, provocando temperaturas superiores a 40°C e umidade relativa do ar inferior a 10%. A combinação de tempo muito seco e altas temperaturas pode agravar os incêndios florestais e espalhar fumaça em diferentes regiões.