Pontes 'cairão como brinquedos' com crise climática - e isso já começou
Casos recentes nos Estados Unidos mostram que efeitos da mudança dos padrões climáticos podem causar danos a estruturas imponentes como pontes. Calor extremo e aumento de inundações são os principais fatores prejudiciais.
O que aconteceu
Calor extremo registrado recentemente provocou danos em pontes. Nos últimos meses, o hemisfério norte vem sofrendo com a sequência de altas temperaturas. Além dos perigos para a saúde, sendo responsável pela morte de milhares de pessoas anualmente, o calor pode afetar, também, estruturas físicas como edifícios e pontes.
Uma ponte ferroviária de aço que conectava North Sioux City, na Dakota do Sul, e Sioux City, em Iowa, desabou por conta do nível crescente da água abaixo dela. Já no estado do Maine, uma ponte foi fechada depois que o pavimento cedeu devido às flutuações de temperatura. As informações são do New York Times.
Em Nova York, a ponte Third Avenue permaneceu interditada por mais de três horas. Com temperaturas atingindo 35ºC em meados de julho, a estrutura, que liga a Terceira Avenida aos distritos do Bronx e Manhattan, ficou travada na posição aberta. Segundo autoridades ouvidas pela rede de TV norte-americana NBC News, a parte móvel da Third Avenue Bridge travou em decorrência do superaquecimento do aço.
Jatos d'água foram lançados em direção à ponte. Imagens da emissora mostraram agentes jogando água do rio Harlem na ponte, em uma tentativa de resfriar a estrutura de aço. Na ocasião, equipes do FDNY (o Corpo de Bombeiros) e do DOT (Departamento de Transportes de Nova York) atuaram em conjunto.
Altas temperaturas nos EUA são previstas também para setembro. Johnna Infanti, meteorologista da Administração Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos (NOAA, na sigla em inglês), declarou, no início do verão no hemisfério norte, que o país iria enfrentar temperaturas acima do normal durante toda a estação, que terminará no próximo dia 22. "A chegada precoce do calor na temporada de verão, a persistência do calor durante vários dias, os ventos leves e a nebulosidade limitada serão fatores agravantes", afirmou à época.
Calor extremo pode fazer com que pontes desabem
Efeitos das mudanças climáticas estão acelerando a deterioração das pontes. Segundo engenheiros ouvidos pelo New York Times, o calor extremo e o aumento do nível das águas fazem com que os movimentos de expansão e contração das estruturas aconteçam mais rapidamente, enfraquecendo essas estruturas. Paul Chinowsky, professor de engenharia civil na Universidade do Colorado em Boulder, é pesquisador sobre os efeitos das mudanças climáticas nesse tipo de infraestrutura. "Essas não são coisas que aconteceriam em circunstâncias climáticas normais", declarou ao jornal.
Está ficando tão quente nas peças que seguram o concreto e o aço, que essas pontes podem literalmente desmoronar como brinquedos de montar
Professor Paul Chinowsky, ao The New York Times
Superaquecimento das juntas de pontes pode causar danos permanentes. Hussam Mahmoud, engenheiro civil e professor da Universidade Estadual do Colorado (EUA) explicou ao jornal que juntas superaquecidas passam a se expandir ao redor de detritos que se acumulam entre elas. "Uma vez que isso acontece, a ponte pode ficar permanentemente danificada. O aço se deforma e torce, o deck racha, e a umidade passa por ele, causando corrosão". Nos casos em que as juntas de expansão ficam "entupidas", as vigas da ponte ficam rígidas e perdem a capacidade de distribuir uniformemente a carga que passa pela estrutura.
Resultado é uma "ameaça silenciosa, porém crescente". Os riscos inerentes ao desabamento de pontes podem ser fatais para aqueles que estão passando pela estrutura ou abaixo dela no momento de eventual acidente. Segundo estudo da revista PLOS ONE analisado pelo jornal norte-americano, uma a cada quatro pontes de aço nos Estados Unidos pode desmoronar até 2050.
Aumento das chuvas pode danificar colunas de sustentação das pontes. Além do calor, a precipitação crescente pode aumentar a erosão (deterioração do solo provocada por agentes naturais como a água) da região ao redor das fundações das pontes. Segundo o The New York Times, a erosão é a principal causa de falhas de pontes nos Estados Unidos.
Problema pode causar também prejuízos financeiros. Eventuais colapsos ou danos podem interditar pontes e alterar a rota de caminhões, aumentando o frete e, consequentemente, o preço final de produtos variados. Segundo Dan Murray, vice-presidente do American Transportation Research Institute, os custos adicionais nas viagens cujo trajeto foi alterado são repassados aos consumidores. "Com o fechamento de pontes, os caminhões precisam se desviar muito mais do que o normal", disse ao The New York Times. A adição de quilometragem à viagem representa o aumento do custo final, já que parte dos transportes cobra o valor por hora.
Reparos nas estruturas são fundamentais para evitar acidentes. Pontes mais antigas têm mais chances de colapsar, já que os materiais usados na construção podem não resistir a variações bruscas de temperatura. Segundo Pete Buttigieg, secretário de transportes dos Estados Unidos também citado pelo The New York Times, as pontes representam "uma das formas de infraestrutura que leva mais tempo para ser atualizada ou renovada".
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Quero receberEngenharia civil busca soluções para mitigar danos causados pelas mudanças climáticas. A construção de novas pontes e o reparo de estruturas antigas precisa levar em consideração o aumento crescente nas temperaturas e no nível do mar. A fundação das colunas, a largura e altura das pontes e os materiais utilizados são alguns pontos a serem discutidos pelos especialistas, na tentativa de evitar desmoronamentos ou falhas graves nas estruturas. O estado norte-americano do Colorado tem em seus projetos a exigência de resiliência climática na construção de pontes e estradas.
Cidades brasileiras também devem atuar na prevenção de acidentes. A Prefeitura de São Paulo divulgou que o valor investido para recuperação e manutenção em pontes e viadutos em 2023 foi o maior da história: o programa recebeu o montante de R$ 650 milhões. Segundo a prefeitura paulistana, até o fim de 2024 serão 300 intervenções nesse tipo de estrutura na cidade. "As novas juntas asfálticas são feitas de material mais moderno e com maior durabilidade, que estão substituindo as antigas juntas de dilatação. Para correção das fissuras no pavimento rígido, está sendo usada resina epóxi e aplicação de pó de quartzo, o que permite atuar em grandes áreas", explicou a prefeitura em nota oficial.
*Com informações da AFP.
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