Em nome do 'progresso', Brasil lidera massacre de ambientalistas
Sobrevoar a Amazônia brasileira em um pequeno avião monomotor é uma experiência verdadeiramente espetacular. Sob as copas das árvores, a cobertura da selva se estende até onde os olhos podem ver. Costurada pelos inúmeros rios, a minha visão da floresta é majestosa. Foi dessa forma que cheguei ao rio Tapajós, no Estado do Pará, e conheci o povo Munduruku, que resiste à construção da usina hidrelétrica de São Luiz do Tapajós.
Vendidas como sustentáveis e limpas, as grandes hidrelétricas construídas na Amazônia são exatamente o contrário. Em alguns pontos da região em que as usinas foram construídas, a diferença é gritante. A floresta foi substituída por um labirinto de estradas de terra com enormes canteiros de obras, e os rios não passam de áreas alagadas agora. A fauna, a flora e o modo de vida daqueles que moram na região foram irreversivelmente alterados.
Esse é o motivo da resistência, de aproximadamente 13 mil índios Munduruku, às barragens do rio Tapajós. O Greenpeace –por meio de uma campanha global que conta com o apoio de mais de um milhão de pessoas ao redor do mundo– apoia o movimento desse povo, que pode ter seu território sagrado alagado pela usina.
No entanto, é preciso reconhecer que muitos outros povos indígenas são ameaçados não só pelo governo, com suas hidrelétricas e outras grandes obras, mas por madeireiros, pelo garimpo ilegal e pelo avanço do agronegócio. Eles também precisam de um apoio semelhante. Quem dera se lideranças sociais em defesa do meio ambiente –indígena, quilombola, ribeirinha, castanheira, seringueira, entre tantas outras– não precisassem temer ameaças de morte, quase que diárias, por lutarem por seus direitos.
Minha passagem pelo Brasil se deu no momento em que o país foi anunciado como o líder mundial no assassinato de ambientalistas. Segundo a organização Global Witness, de um total de 185 ativistas ambientais mortos no mundo em 2015, 50 eram brasileiros, sendo que 47 deles estavam na Amazônia. O caso mais recente foi o de Nilce de Souza Magalhães, a Nicinha, uma ativista do Movimento dos Atingidos por Barragem. Seu corpo foi encontrado justamente nas águas da hidrelétrica de Jirau, em Porto Velho (RO), contra a qual ela liderava resistência após ter perdido a sua casa para a obra.
Além do crime, há também o fator da impunidade. Os verdadeiros mandantes desses e de muitos outros assassinatos continuam livres. Exemplo claro disso é o Eusébio Ka’apor, uma liderança do povo Ka’apor e que foi assassinado com um tiro nas costas, em abril do ano passado. Já faz mais de um ano que o crime ocorreu e, até agora, não há nenhuma notícia sobre o inquérito. Isso funciona como um incentivo para que o Brasil siga como o país que mais derrama sangue devido a conflitos no campo.
Com um martelo em mãos, ajudei os Munduruku a fixarem as últimas placas de autodemarcação de seu território, sinalizando que aquela terra tem dono. A expectativa é a de evitar a entrada das atividades ilegais de exploração de madeira e de mineração. Porém, sei que o massacre de ambientalistas brasileiros continua, assim como a destruição de florestas e de seus povos que é promovida por grandes obras que se dizem em nome do progresso. Após esse tempo no Brasil, ficou claro que precisamos trabalhar mais para que o desenvolvimento seja sustentável e para que não provoque tanta morte –seja de pessoas, florestas ou rios.
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