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A misoginia nossa de cada dia... até quando?

Misoginia. Para muitas pessoas, esta é uma palavra ainda desconhecida. Para as mulheres, tem se incorporado ao vocabulário cotidiano e conquistado cada vez mais espaço em debates, campanhas e na compreensão de situações concretas.

Com pequenas variações entre autoras, misoginia significa o ódio e a aversão a nós, mulheres.

Na última segunda-feira (11), os ataques de ódio e desrespeito contra Janja Lula da Silva nas redes sociais alcançaram outro patamar. Ao ter sua conta do X hackeada, foram publicadas "mensagens misóginas e violentas", típicas de "quem despreza as mulheres", como descreveu a própria Janja no dia seguinte ao episódio.

Os ataques a Janja não são de hoje e vêm em diversas formas, de maneira discreta em artigos na imprensa, debochados, vulgares e por meio de fake news, muitas delas com montagens grotescas que chegam a simular pornografias. O objetivo é certo: tentar diminuir seu papel enquanto mulher e sujeito político no processo de reconstrução do país.

A hostilização da mulher na política institucional ou em espaços públicos não é um fenômeno recente. Em uma sociedade habituada com os homens ocupando os espaços públicos e as mulheres restritas ao ambiente privado, romper a estrutura patriarcal traz vivências violentas para aquelas que estão nos espaços de poder.

Afinal, o que esperam de nós? Parece absurdo, mas talvez seja necessário lembrar que estamos no século 21 e que a luta do movimento de mulheres garantiu a nós o direito de estudar, ter profissão, comprar casas e carros, votar e ser votada e principalmente
trabalhar em espaços que não o lar.

Nós, mulheres, somos hoje 47,9 milhões no mercado de trabalho (IBGE), apesar de ainda recebermos salário 22% menor que o dos homens. Somos maioria como estudantes nas universidades e na conquista de títulos acadêmicos, apesar de menos representativas em cargos de liderança. Somos 51,5% da população e 53% do eleitorado, mas menos de 20% nos espaços legislativos — federal, estaduais e municipais. E assim podemos falar a respeito de tantos ambientes.

Além da realidade de desigualdade de gênero no país, tem aumentado assustadoramente o número de ataques às mulheres que se lançaram na vida pública nos últimos tempos.

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Denúncias envolvendo discurso de ódio misógino na internet tiveram incremento de 251% em 2022, enquanto os demais discursos de ódio, sem recorte de gênero, tiveram aumento de 61% (SaferNet).

Levantamento realizado em 80 países entre 2017 e 2022 pelo Pnud (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento) revelou que cerca de 85% dos entrevistados no Brasil, independentemente de gênero, têm algum tipo de preconceito contra as mulheres.

Sobre a participação feminina na política, a pesquisa aponta que mais de 39% dos entrevistados acreditam que mulheres não desempenham esse papel tão bem quanto os homens.

Além de desqualificar, ofender e humilhar as mulheres, a misoginia também dá lucro. Em redes sociais, perfis de grupos masculinistas — a chamada "machosfera" — investem horas diárias para disseminar desinformação sobre e contra mulheres e discurso de ódio manipulado, nunca explícito, de modo que consigam escapar de punições pelas plataformas.

Essa monetização da misoginia online precisa ser interrompida imediatamente. Por isso o Ministério das Mulheres estimula estudos e pesquisas sobre o tema; acabamos de firmar parceria com o NetLab/UFRJ (Laboratório de Estudos de Internet e Redes Sociais vinculado à Universidade Federal do Rio de Janeiro), que analisará o ecossistema da misoginia nas redes e o perfil da receita gerada em decorrência de conteúdo audiovisual de ódio e desinformação de gênero, além da identificação de múltiplos golpes e fraudes direcionados a mulheres.

A misoginia é um dos fatores que geram e potencializam a desigualdade de gênero em todos os níveis da sociedade: desde a definição e perpetuação dos papéis sociais estabelecidos aos espaços a serem ocupados, e posturas "adequadas".

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É nesse contexto misógino que a esposa do presidente da República, Janja Lula da Silva, incomoda tantos homens e diversos setores da sociedade.

O mesmo acontece com a atuação de centenas de mulheres que hoje detêm espaço de visibilidade e poder de fala como vereadoras, prefeitas, parlamentares, lideranças comunitárias. Todas têm algo em comum: capacidade de liderar e interferir na vida política de suas cidades, regiões e do país.

Minha solidariedade a Janja e a todas as mulheres que sofrem violência política de gênero, na internet e fora dela.

*Cida Gonçalves é ministra de Estado das Mulheres

Opinião

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