Kassab é poupado por pré-candidatos em evento sobre como os paulistanos avaliam a cidade
O tom ameno à administração do prefeito Gilberto Kassab (PSD) marcou o encontro de pré-candidatos à Prefeitura de São Paulo, nesta quarta-feira (18), durante a apresentação de um estudo que mostra como o paulistano avalia a cidade.
O chamado índice de percepção do paulistano analisa 169 aspectos englobados em 25 áreas da cidade. De um modo geral, caiu a percepção do cidadão sobre a qualidade de vida em 2011, em relação a 2010, e aumentou a desconfiança na administração pública municipal.
O evento foi realizado no teatro Anchieta, no Sesc Consolação (região central), sob coordenação da rede Nossa São Paulo.
Desde 2008, a entidade encomenda ao instituto Ibope Inteligência o levantamento sobre o Irbem (Índice de Referência de Bem Estar no Município). É o estudo que serve de base ao plano de metas que o prefeito eleito apresenta à sociedade civil completados os primeiros 90 dias de gestão. A proposta da rede é que a pesquisa subsidie também o plano de governo dos futuros candidatos.
De pré-candidatos, estiveram à mesa apenas Gabriel Chalita (PMDB), Netinho de Paula (PCdoB) e Soninha Francine (PSB). Partidos como PSOL e PV, que ainda não referendaram o nome do candidato, foram representados pelos respectivos diretores de executiva.
Pelo PT, o líder da bancada na Câmara, Antonio Donato, fez as vezes de Fernando Haddad –que justificou a ausência por ainda não ter se desincompatibilizado do Ministério da Educação.
Pelo PSDB, apesar da confirmação do diretório ainda ontem, segundo os organizadores, não foi enviado nenhum representante ao evento.
Temas preferidos
Em dez minutos cada um, os participantes elegeram o transporte público, a transparência da classe política e a qualidade da saúde e da segurança pública, que obtiveram índices abaixo da média na pesquisa, como temas preferidos.
Mesmo com os indicadores e com um plano de metas ainda distante de ser totalmente cumprido, Kassab passou praticamente ileso de críticas diretas.
“Falamos do presente, e não do futuro --isso aqui não é um debate eleitoral. A expectativa é para que a cidade avance”, respondeu o líder da bancada do PT, ao fim do evento, indagado se havia amenizado o tom ao prefeito. Nos bastidores, o PSD está em conversa com o PT sobre eventual apoio a Haddad.
Pelo PMDB, que também está em negociação com partidos como DEM --hoje aliado do PSDB do governador Geraldo Alckmin --, Chalita também não polemizou sobre a administração e mesmo sobre ações mais recentes do Estado e do município, por exemplo, com os viciados da cracolândia, na região central da cidade.
“O problema lá não se resolve em um dia, mas proibir que a polícia atue onde tem de atuar não é o caminho. Só que a solução não é só da polícia --a questão central, que é tratar essas pessoas, não foi resolvida”, disse, propondo que “se faça uma parceria entre o prefeito, o governador e o governo federal” contra o problema.
Sobre alianças, o peemedebista admitiu a conversa com setores do DEM, afagou o senador Aécio Neves (MG), liderança tucana, mas avaliou como “estranhas” as tentativas do PSD com o PT. “Acho estranho, porque uma hora o Kassab se oferece para o PSDB, em outra, para o PT... Esses são elementos que fazem a população desconfiar da classe política”, concluiu.
Financiamento de campanha
Em tom mais ácido, o presidente do PV, Maurício Costa de Carvalho, arrancou aplausos demorados da plateia ao propor, na forma de um “desafio”, que os pré-candidatos se comprometessem a não aceitar verbas de empreiteiras. “Depois a gente vê a nota”, disse, referindo-se às notas da pesquisa de percepção.
Para o coordenador-geral da rede Nossa São Paulo, Oded Grajew, a contar pelo Irbem, a desigualdade terá de ter propostas de enfrentamento “nada fantasiosas” na campanha eleitoral. “Nesse sentido a gente espera um recuo positivo em não se prometer aquilo que não será cumprido, pois cobraremos no plano de metas depois”, disse.
Se o tom moderado sobre a administração atual surpreendeu? “Foi tudo meio dentro do esperado, porque falamos de um conteúdo vasto, foram discutidas propostas, e, agora, esperamos que eles cumpram”.
Nos próximos meses, conforme o coordenador, a Nossa Paulo fará a avaliação do plano de metas de Kassab. Devem ser agendados eventos também durante a campanha, com os candidatos já definidos.
Pesquisa de percepção
Pela pesquisa realizada pelo Ibope, caiu a percepção do paulistano em relação à qualidade de vida na cidade do ano passado em relação ao ano de 2010 – de 4,7 para 4,4, ambos os índices também abaixo de uma média de 5,5 na escala que vai de zero a dez.
Por outro lado, cresceu o percentual daqueles que afirmam que , se pudessem, deixariam a capital de 11,2 milhões de habitantes: de 51% para 56% em um ano.
As piores avaliações são em relação à transparência e à participação política (nota de 3,5), acessibilidade das pessoas com deficiência (3,9) e desigualdade (4).
A desconfiança sobre órgãos da administração pública municipal tiveram também avaliações ruins (as piores, em ordem, foram a Câmara, a Prefeitura, Subprefeiruras e Tribunal de Contas do Município), enquanto as melhores avaliações ficaram com Corpo de Bombeiros, Correios, Metrô e Sabesp.
A pesquisa foi aplicada de 25 de novembro a 12 de dezembro do ano passado, em todos os perfis sociais e em todas as regiões da cidade, com 1.512 entrevistados.
Segundo a diretora-executiva do grupo Ibope, Márcia Cavallari, apenas seis áreas avaliadas ficaram acima da média de 5,5: relações humanas (família, amigos e comunidades), religião e espiritualidade, tecnologia da informação, trabalho, sexualidade e consumo.
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