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Em 10 anos, PR vai de principal aliado do governo a oposição

Maurício Savarese

Do UOL, em Brasília

19/03/2012 06h00

Fundado há 27 anos, o Partido Liberal queria atrair intelectuais ligados ao Regime Militar (1964-1985), críticos do estatismo dos generais. Nas eleições presidenciais de 1989, Guilherme Afif ficou em sexto lugar. O auge veio em 2002, com José Alencar na chapa vencedora de Luiz Inácio Lula da Silva. Hoje, com a presidente Dilma Rousseff e um novo nome, os tempos de glória parecem ter acabado.

Mesmo ofuscados pela crise do governo com o PMDB e a substituição dos líderes no Congresso, os sete senadores do partido anunciaram que migraram para a oposição depois do fracasso das negociações para emplacar um novo ministro dos Transportes. O atual ocupante do cargo, Paulo Sérgio Passos (BA), é filiado à legenda, mas não é próximo do principal dirigente do PR, o ex-ministro e senador Alfredo Nascimento (AM), afastado por suspeitas de corrupção.

Como primeira medida anti-Dilma, tentaram emplacar a convocação da ministra do Planejamento, Miriam Belchior, para depor em uma comissão do Senado a respeito de uma siderúrgica no Pará, financiada pelo PAC (Programa de Aceleração do Crescimento). A decisão sobre o pedido, feito pelo PSDB, será tomada esta semana. Já na Câmara, a ampla maioria do partido prefere a independência formal em relação ao Palácio do Planalto.

O líder do partido no Senado, Blairo Maggi (MT), nem escondeu que a discordância se deu pelo cargo no primeiro escalão. “Decidi que não quero mais negociar. O governo empurra com a barriga o tempo todo”, disse. O próprio ex-governador mato-grossense recebeu proposta para ser ministro, mas recusou. Os outros nomes oferecidos foram riscados pela ministra das Relações Institucionais, Ideli Salvatti.

Procurados, Nascimento e Blairo não responderam aos pedidos de entrevista do UOL. Nos bastidores, deputados da legenda duvidam da disposição dos colegas senadores de manter a oposição ferrenha por muito tempo. “Ajudamos a eleger esse governo, não podemos fingir que isso não aconteceu por causa de um desprestígio neste momento”, disse um deles. Anos atrás, um telefonema de Alencar para Lula resolvia casos de desprestígio. Hoje, mal chegam a Dilma.

O PR elegeu 44 deputados em 2010 –sendo que um deles foi o grande sucesso da votação, o palhaço Tiririca (SP). Desde então, com menos controle sobre verbas do ministério, só encolheu. Hoje tem 36 membros na Casa. São nove a menos que o recém-criado PSD (Partido Social Democrático, recém-fundado, e que também declara independência na Câmara apesar de ter votado consistentemente a favor de projetos do governo.

Assessores próximos à presidente Dilma duvidam da disposição dos senadores do PR de se manterem na oposição. “Eles não têm vocação para isso”, afirma um deles. “É questão de esperar o tempo passar e ver se eles vão ser necessários mesmo”, diz outro. “Até porque o PSD não existia quando o PR era essencial para a governabilidade. Hoje existe mais margem. Eles vão ter de decidir se querem ser o partido de 89 ou o que cobra cargos em público.”

De Afif a Dilma

Nas eleições de 1989, o então PL ganhou atenção nacional. Mas só veio a participar do governo federal com a eleição do tucano Fernando Henrique Cardoso, em 1994. Naquela mesma votação, conquistou sua primeira cadeira no Senado, com Romeu Tuma. Pouco depois, discordâncias com a condução da economia e falta de cargos, o partido rompeu. Nas eleições de 1998, aliou-se ao ex-governador cearense Ciro Gomes, então no PPS.

Na definição da chapa, o PL recebeu a proposta de indicar um candidato a vice-presidente. Recusou e deixou a incumbência para Roberto Freire. "Tudo o que o PL pediu foi para estar na linha de frente durante a campanha em alguns Estados, participar da direção programática do programa de televisão e dar sugestões para a área de educação", disse Ciro em julho daquele ano. A premissa ideológica de 1989 ainda não saciava a fome do partido por cargos.

O afastamento em relação a FHC reeleito aproxima o PL do PT de Lula. Até que em 2002 os dois partidos selam uma incomum aliança, com o empresário José Alencar, eleito senador em 1998 pelo PMDB e recém-incorporado, como candidato a vice. A amizade entre os dois serviu bem ao partido, que ganhou o Ministério dos Transportes –um dos mais ricos de toda a esplanada. O homem forte era o deputado Valdemar Costa Neto (SP), presidente do PL.

Pois foi ele o pivô do primeiro escândalo envolvendo o partido: o mensalão, em 2005. Após as denúncias do presidente do PTB, Roberto Jefferson, brotaram acusações de uso de caixa dois, de compra do apoio do partido na eleição e na Câmara dos Deputados e de enriquecimento pessoal supostamente irregular de Valdemar e de seu tesoureiro, Jacinto Lamas. O impacto foi tão pesado que o homem forte do partido renunciou ao mandato.

Um ano depois, rebatizado de Partido da República por conta de uma fusão com o PRONA do falecido Enéas Carneiro, a legenda foi preterida no projeto reeleitoral de Lula, devido à transferência de Alencar para o Partido Republicano Brasileiro (PRB). Ainda assim, embora menos poderoso, manteve a pasta dos Transportes no segundo mandato do petista. Esperava fazer o mesmo com Dilma no Palácio do Planalto. Pelo menos até agora, não deu certo.

Veja as mudanças no governo de Dilma Rousseff

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