Vereadora reaparece no Paraná; polícia diz que ela forjou próprio sequestro
Desaparecida desde terça-feira (1), logo após tomar posse como vereadora reeleita em Ponta Grossa (cidade de 317 mil habitantes a 103km de Curitiba), Ana Maria Branco de Holleben (PT) internou-se voluntariamente num hospital da cidade nesta quarta (2) à tarde. A polícia acredita que a vereadora forjou o próprio sequestro – que chegou a ser comunicado às autoridades pelo filho dela.
“Foi um auto-sequestro. Apesar de estar hospitalizada e sedada, ela recebeu voz de prisão e foi autuada em flagrante por falsa comunicação de crime, fraude processual e formação de quadrilha”, disse o delegado Luiz Alberto Cartaxo Moura, que comanda o grupo antissequestro da Polícia Civil, em entrevista à imprensa realizada nesta quarta à noite, em Ponta Grossa.
Três pessoas foram presas por envolvimento no caso. Uma delas, identificada pela polícia como Idalécio Valverde da Silva, trabalha como motorista da parlamentar. Dois parentes dele, também suspeitos de participar da trama, estão detidos. Outro suspeito, Reginaldo da Silva Nascimento, está foragido e é procurado.
“Não houve sequestro, mas uma simulação, o que chamamos de autossequestro. O objetivo foi proteger o interesse pessoal (de Ana Maria), provavelmente político, de votar nas eleições da Mesa Diretora da Câmara Municipal”, afirmou o delegado.
A eleição, porém, não chegou a ocorrer. Quando se noticiou o desaparecimento da vereadora, outros integrantes da bancada de oposição ao prefeito eleito Marcelo Rangel (PPS) se retiraram da sessão, na terça. Não houve acordo para que a votação fosse realizada nesta quarta.
A disputa pelo comando do Legislativo é acirrada em Ponta Grossa. Dos 23 vereadores, 12 estão na base de apoio, e 11 na oposição. Rangel conquistou o mandato, em outubro passado, numa disputa apertada com o deputado estadual Péricles de Holleben Mello (PT) – primo de Ana Maria. Procurado pela reportagem após a notícia de que se tratou de um autossequestro, o parlamentar não atendeu às ligações.
Quebra de decoro
“Idalécio preparou o quadro da simulação, e produziu provas, como furar os pneus e mexer no motor para impedir o funcionamento do carro. Isso foi constatado por perícia. Já Reginaldo dirigia o carro que levou a vereadora, de forma que o esquema para que a mãe dela, que a acompanhava, achasse que fosse um sequestro”, falou Cartaxo.
“Ana Maria nunca esteve sob cárcere privado, mas ainda não sabemos onde ficou neste período. Ela se apresentou voluntariamente no hospital, levada pelo filho, alegando estresse emocional e desidratação”, disse. O policial disse ser “prematuro” falar no envolvimento de familiares no caso.
“Mesmo no hospital, a vereadora está presa. Existe uma situação jurídica a se considerar, mas quero crer que os advogados dela terão de defendê-la da quebra de decoro parlamentar”, opinou o delegado.
Com o reaparecimento da vereadora, o esquadrão antissequestro do Paraná (conhecido como Grupo Tigre) deixa o caso, que passará a ser investigado pela 13.ª Subdivisão Policial de Ponta Grossa. O delegado Danilo Cesto informou, na coletiva, que, por ser vereadora, Ana Maria irá falar, no inquérito policial, “se desejar”.
“Estamos estarrecidos”, diz deputado petista
Ao UOL, o deputado federal Ângelo Vanhoni (PT), que pediu a ajuda das autoridades para localizar a resgatar Ana Maria, comentou o desfecho do caso. “Surpresos? Todos os dirigentes do partido estão estarrecidos. Amanhã vou à Ponta Grossa, inclusive para conversar com o delegado”, informou.
“De qualquer maneira, acho que a vereadora tomou uma decisão que a prejudica de forma irreversível. Acredito que uma perturbação enorme tenha ocorrido para que ela fizesse isso”, ponderou Vanhoni.
Professora aposentada, com participação no movimento sindical da categoria, Ana Maria Branco de Holleben foi eleita vereadora pela primeira vez em 2004.
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