Topo

Dirceu compara julgamento do mensalão com inquéritos que teriam levado Getúlio Vargas ao suicídio

Carlos Eduardo Cherem

Do UOL, em Belo Horizonte

31/01/2013 23h01Atualizada em 01/02/2013 01h10

O ex-ministro José Dirceu reforçou o discurso de que não só continuará recorrendo contra a decisão do STF (Supremo Tribunal Federal) no julgamento do mensalão – e que mantém o petista em liberdade – como vai continuar percorrendo o país e denunciando o que considera um desrespeito à democracia.

“A Ação Penal 470, o mentirão, e não mensalão, não foi concluída. Se estivesse, estaríamos presos. Os embargos, os embargos declaratórios, os embargos de revisão...", disse Dirceu. "A ação penal não está concluída”.

As declarações do ex-ministro foram feitas na noite desta quinta-feira (31), em Belo Horizonte, em encontro que reuniu aproximadamente 300 pessoas, entre deputados federais, deputados estaduais, prefeitos, vereadores, lideranças e militantes da legenda em Minas Gerais, além de representantes da CUT (Central Única dos Trabalhadores).

É o terceiro ato público que o ex-ministro realiza em sua defesa e de outros petistas em janeiro. Além de Belo Horizonte, Dirceu participou de reuniões similares em São Paulo e no Rio de Janeiro.

Dirceu ainda comparou o julgamento do mensalão aos diversos inquéritos enfrentados pelo governo do ex-presidente Getúlio Vargas, em 1954.

“Getúlio Vargas foi levado ao suicídio porque um mar de lama existia por debaixo do Palácio do Catete (então sede do governo federal, no Rio de Janeiro). Mas o povo deu a resposta no dia 25 de agosto, indo para as ruas. Depois elegeram Juscelino Kubitschek e João Goulart, de vice, que era o herdeiro de Getúlio Vargas. Nós elegemos dois presidentes. É sintomático”, afirmou.

O petista também manteve os ataques à mídia que, segundo ele, faz campanha contra a legenda. Para Dirceu, a imprensa,o julgou e condenou,  premeditadamente, antes mesmo que o STF tomasse a decisão pela condenação dele e de outros envolvidos no escândalo de compra de votos no Congresso Nacional para favorecer o governo Luiz Inácio Lula da Silva.

“Não é só a imprensa. Eles (a oposição) estão criando literatura, teatro, cinema, institutos, centros de pensamento, revistas. Construindo através dos meios de comunicação uma bolha, um mundo irreal, fictício, onde há um modo de vida, onde há valores, que está dirigido à nova classe trabalhadora, que tem o nome de classe C, tem o nome de nova classe média”, afirmou Dirceu.

Caixa dois

Na ocasião, o ex-ministro voltou a afirmar que não houve compra de votos no Congresso Nacional, e que o erro do PT foi ter feito caixa dois na primeira eleição de Lula.

“Não há uma prova de compra de votos no Congresso. Os empréstimos que o PT fez, que o Genoíno (José Genoíno, ex-presidente nacional da legenda e deputado federal) e o Délubio (Soares, ex-tesoureiro do partido) assinaram, foram legais. Tanto são legais, que os bancos executaram o PT e bloquearam seus bens. O PT fez acordo e pagou. Tanto são legais, que o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) exigiu que o PT prestasse contas de que o dinheiro foi emprestado pelos bancos, foram gastos segundo a legislação eleitoral. Inclusive, dosou um gasto secundário que o partido teve de restituir. Nada de desvio de recursos ou de uso indevido, nada de ilícito", argumentou Dirceu.

Ainda de acordo com ele, "as empresas de Marcos Valério tomaram nos bancos R$ 45 milhões e repassaram esses recursos para o PT. Aí está a ilegalidade. A questão fiscal, a questão tributária e a questão eleitoral do caixa dois. Os deputados do PT não podiam ser acusados de corrupção ativa”.

Dirceu comparado a Olga Benário

O deputado estadual Durval Ângelo (PT), secretário-geral da legenda em Minas Gerais, também se pronunciou sobre os temas, mas, segundo ele, como presidente da Comissão de Direito Humanos da Assembleia Legislativa de Minas Gerais, e não como petista.

“O julgamento de Dirceu foi mais uma injustiça cometida pelo Supremo. É o mesmo Tribunal que entregou Olga Benário aos nazistas”, afirmou Ângelo, se referindo à ex-mulher do líder do então PCB (Partido Comunista Brasileiro), Luís Carlos Prestes, que teve sua extradição para a Alemanha aprovada pela corte, durante o primeiro governo de Getúlio Vargas (1930-45).

Já para o presidente do Diretório Estadual do PT em Minas Gerais, Reginaldo Lopes, “Dirceu recebeu uma condenação pelo que significa. Não pelo que ele fez”.  

O ex-ministro dos Transportes e ex-prefeito de Uberaba (MG), Anderson Adauto  --julgado e absolvido no processo do mensalão--  esteve presente, mas não discursou nem deu entrevistas.

“Querem nos acantoar. Mas não vamos deixar. Vamos continuar lutando”, afirmou o presidente do Diretório do PT de Belo Horizonte e ex-vice-prefeito, Roberto Carvalho.