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Prefeito de Blumenau diz que não sabia de fraudes em contratos; ele é contra uma CPI na Câmara

Prefeito de Blumenau, Napoleão Bernardes, durante entrevista em seu gabinete - Renan Antunes de Oliveira/UOL
Prefeito de Blumenau, Napoleão Bernardes, durante entrevista em seu gabinete Imagem: Renan Antunes de Oliveira/UOL

Renan Antunes de Oliveira

Do UOL, em Blumenau (SC)

09/05/2013 16h04

O prefeito de Blumenau (130 km de Florianópolis), Napoleão Bernardes (PSDB), disse nesta quinta-feira (9), em sua primeira entrevista sobre a Operação Tapete Negro, que investigou a Máfia do Asfalto em Santa Catarina, que "já tinha ouvido rumores de irregularidades na prefeitura e na URB [empresa pública alvo da investigação], mas elas eram só isso, rumores, boatos sem consistência". "Saber, eu não sabia de nada", afirmou. Ele disse ainda ser contrário à abertura de uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) na Câmara para investigar o caso.

O MPE (Ministério Público Estadual) investiga um megaesquema de corrupção com o objetivo de desviar dinheiro público, instalado na administração de Blumenau. O grupo já teria desviado pelo menos R$ 100 milhões dos cofres públicos, valor equivalente a 7% do orçamento de 2012 da cidade.

Na entrevista, Bernardes afirmou que não pretende intervir na Câmara para que haja uma investigação do caso pelo Legislativo. "Eu fui vereador. Minha posição sempre foi de olhar para o presente e para o futuro."  

Hoje, na Câmara, dos 15 vereadores, quatro estão dispostos a assinar o requerimento que pede a abertura da CPI --são necessários cinco. Os demais vereadores estão divididos em cinco que apoiavam a gestão anterior e seis que apoiam a prefeitura. Falta um. "Não posso interferir. Mas não vejo necessidade. O que faria uma CPI? Produziria um documento que iria para o MPE, que então abriria uma investigação? A investigação já existe. A do MPE iria para o Judiciário? Irá quando for necessário. Logo, não vejo razão para criá-la."

Entenda o esquema

A eleição de Bernardes surpreendeu a política catarinense. Ele foi vereador de 2008 a 2012, na base de apoio do então prefeito João Paulo Kleinubing (PSD), rompendo com ele para sair candidato contra o escolhido do PSD, Jean Kuhlmann. Vereador em primeiro mandato e com apenas 30 anos, saiu em terceiro lugar nas pesquisas para chegar ao segundo turno na frente do PT, elegendo-se com 70% dos votos válidos.

Como vereador, Bernardes atuou defendendo Kleinubing. Hoje mantém distância do antigo aliado. "Eu estava na base, mas não estava ligado a nenhuma das secretarias e empresas que deram problemas [Obras e URB]. Eu era um vereador da comunidade. Votava favorável aos projetos que eram do interesse público, mas mantinha independência e muitas vezes critiquei a administração", afirma.

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Bernardes atendeu a reportagem do UOL em seu gabinete nesta quinta às 13h30. Ele também fez questão de se manter distante do escândalo. "Quando assumi, o  Ministério Público Estadual já estava investigando a URB, meu papel foi abrir as portas da prefeitura para acusados e defensores acessarem todas as informações disponíveis, é o interesse público que fala mais alto."

Ele contou que sua relação com o Kleinubing continua bem no plano institucional porque "para o bem da cidade eu quero pleitear as verbas a juro zero que o Badesc oferece. Tenho que pensar em Blumenau". Kleinubing foi nomeado, pelo governador de Santa Catarina,  Raimundo Colombo (PSD), em fevereiro deste ano, diretor-presidente do Badesc, uma agência de fomento estadual, de onde parte das verbas desviadas pelo esquema saiu.

Ele disse que a transição (Kleinubing passou a gestão para Bernardes em 1º de janeiro) "foi em alto nível". "O prefeito sabia de minha postura por um novo modelo de gestão, mais transparente, e até me ajudou na posse: entre a eleição, em outubro, e minha posse, em janeiro, ele aprovou uma reforma administrativa nos termos que eu pedi, facilitando minha administração. No meu primeiro dia pude assinar um ato enxugando o número de secretarias e cortando 157 cargos em comissão."

Suspensão de obras

Bernardes afirmou que logo depois de assumir suspendeu obras que não tinham sido iniciadas. "Quando assumi, já tinha havido apreensão de documentos na prefeitura. Então, a única coisa que fiz foi mandar suspender todas as obras ainda não iniciadas e as recém-iniciadas. Numa delas, recontratá-la representou uma economia de 10%, o que mostra que de fato havia alguma coisa errada", disse.

Bernardes disse que quer fazer da sua uma administração transparente. "Eu estou adotando um sistema de concorrência eletrônica, aberta, pela internet, ao vivo, em que todo mundo poderá saber o que está acontecento e reclamar na hora. É uma exigência da administração moderna."

Demissão de investigado

Sobre o pedido de demissão do ex-secretário de Obras Alexandre Brollo, flagrado em gravações, hoje engenheiro concursado da prefeitura, feito pelo vereador Ivan Naatz (PDT) na tribuna da Câmara, o prefeito abre os braços em sinal de impotência.

"Como é que vou fazer isto ? Ele nem foi processado ainda. Qualquer coisa que aconteça ele pode processar a prefeitura por assédio moral e levar uma indenização. Temos que seguir a lei. Quando e se ele for condenado, vamos tomar as providências necessárias".