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PF afasta hipótese de envolvimento de deputado com cocaína em helicóptero

Momento em que o helicóptero foi flagrado pela Polícia Federal em uma fazenda no município de Afonso Cláudio (ES), no último domingo - Divulgação/Polícia Federal no Espírito Santo
Momento em que o helicóptero foi flagrado pela Polícia Federal em uma fazenda no município de Afonso Cláudio (ES), no último domingo Imagem: Divulgação/Polícia Federal no Espírito Santo

Guilherme Balza

Do UOL, em São Paulo

28/11/2013 18h51

A Superintendência da Polícia Federal no Espírito Santo mantém afastada, neste momento, a hipótese de envolvimento do deputado estadual Gustavo Perrella (Solidariedade-MG) no transporte de 450 kg de cocaína em um helicóptero da Limeira Agropecuária, empresa de propriedade do parlamentar mineiro.

A droga foi encontrada por policiais federais em uma fazenda no município de Afonso Cláudio (ES) no último domingo (24). O flagrante ocorreu logo após o pouso, no momento em que a cocaína era transferida do helicóptero para um carro. Quatro pessoas foram presas, entre elas o piloto Rogério Antunes e o copiloto Alexandre de Oliveira.

Embora não descarte a possibilidade de envolvimento do deputado, que é filho do senador e ex-presidente do Cruzeiro Zezé Perrella (PDT-MG), esta hipótese está afastada neste momento porque não há indícios contra o parlamentar, segundo afirmou ao UOL o delegado Leonardo Damasceno, titular da DRE (Delegacia de Repressão a Entorpecentes) da PF no Espírito Santo.

“Não descartamos a participação, mas não é uma linha de investigação viável no momento. A história tem uma pertinência sobre a utilização do helicóptero. O deputado não estava no local e a contratação do frete foi feita pelo copiloto, que subcontratou o piloto”, afirmou o delegado.

Leonardo Damasceno disse que o piloto e o copiloto assumiram ter ciência da origem ilícita do material transportado e não citaram a participação de Gustavo Perrella. Rogério Antunes era funcionário de confiança do parlamentar e também tinha um cargo na Assembleia Legislativa de Minas Gerais.

Piloto diz que recebeu R$ 106 mil

De acordo com Damasceno, Rogério disse à PF que foi contratado por Alexandre e recebeu R$ 106 mil para levar a droga. “O Rogério admitiu que foi contratado pelo Alexandre para buscar o ilícito. Ele disse que não sabia propriamente o que era, mas, pelo valor que recebeu, desconfiava que era droga”, afirmou o delegado.

Segundo o delegado, o copiloto admitiu ter sido contratado por traficantes para transportar a droga. “Ele efetivamente teve o contato com o dono da droga e admite que contratou o Rogério.”

O flagrante só ocorreu porque, no momento da aterrissagem, policiais federais estavam em uma propriedade vizinha, fazendo uma diligência relacionada à outra investigação. Como não é comum a aterrissagem de helicópteros, a movimentação chamou a atenção dos agentes. Nenhuma das fazendas pertence à família Perrella, segundo o delegado.

Gustavo Perrella será ouvido pela PF por carta precatória, já que o deputado reside em Minas Gerais. O depoimento deverá ser feito até o início da próxima semana. Perícias estão sendo realizadas nos aparelhos telefônicos dos quatro detidos e no GPS do helicóptero.

A PF quer descobrir qual o percurso feito pela aeronave até o local do pouso. Recibos de abastecimento mostram que o helicóptero passou por Divinópolis, no interior mineiro, antes de chegar ao Espírito Santo. O delegado acredita que, antes de chegar em Minas Gerais, o veículo passou pelo aeroporto Campo de Marte, em São Paulo.

A perícia no GPS permitirá descobrir se o helicóptero passou por regiões de fronteira. Segundo o delegado, os traficantes se comunicaram com o copiloto por celulares modelo BlackBerry, que impedem a interceptação das comunicações.

Piloto de aeronave trabalha na Assembleia de Minas Gerais

Outro lado

A reportagem telefonou para o escritório do advogado Marco Antônio Gomes, que defende o copiloto, mas ele não estava. Até o fechamento da reportagem, o advogado não havia retornado o contato.

Ontem, advogado do copiloto Alexandre José de Oliveira Júnior, que foi preso pela PF durante a operação, disse que seu cliente acreditava que levava "muamba" do Paraguai na aeronave.

O advogado Nicácio Tiradentes, que defende o piloto, não atendeu as ligações feitas para dois celulares e para o seu escritório. Na última terça-feira (26), ele afirmou ao UOL que Rogério não tinha ciência de que a carga transportada era ilícita e que avisou o deputado sobre o frete.

Combustível com dinheiro público

Desde que o caso veio à tona, o deputado responsabiliza o copiloto pelo transporte da droga. Perrella afirmou, inicialmente, que não foi comunicado pelo piloto sobre o frete. Ontem, o parlamentar recuou e disse que Rogério lhe avisou da viagem por meio de uma mensagem de celular. O deputado disse que não se opôs porque acreditava que seu funcionário referia-se a outro frete, que seria realizado no dia seguinte.

Neste ano, Perrella gastou R$ 14 mil de verba indenizatória da Assembleia Legislativa de Minas Gerais para abastecer o helicóptero que foi apreendido pela Polícia Federal.

Em entrevista ao UOL por telefone, Perrella confirmou o uso do dinheiro para este fim, mas afirmou que o combustível utilizado nesse voo foi pago "em dinheiro pelo piloto no aeroporto" e que não foi utilizado dinheiro público.

A Mesa da Assembleia de MG decidiu hoje proibir a indenização pelo combustível do deputado e determinou à Comissão de Ética e Decoro Parlamentar da Casa que investigue a conduta de Gustavo Perrella.