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Com neto entre peritos, família de Jango prevê exumação inconclusiva

Christopher Goulart, neto do ex-presidente João Goulart: "a exumação não é a única prova nem a final" - Divulgação/PDT
Christopher Goulart, neto do ex-presidente João Goulart: "a exumação não é a única prova nem a final" Imagem: Divulgação/PDT

Do UOL, em Porto Alegre

30/11/2014 06h00

Depois de um ano de análises das amostras coletadas durante a exumação do corpo do ex-presidente João Goulart, o resultado deve ser conhecido nesta segunda-feira (1º). Entretanto, a família de Jango, que em 2007 pediu a abertura das investigações sobre a morte ao MPF (Ministério Público Federal) espera que o resultado não traga novidades. “É muito provável que a análise não seja conclusiva”, afirma o neto do ex-presidente trabalhista, o advogado Christopher Goulart.

Para a família de Jango, a perícia nos restos mortais é apenas um dos meios para chegar à conclusão sobre o que vitimou o ex-presidente. Christopher defende que outras medidas devem ser tomadas, como a abertura de arquivos secretos e a inquirição de ex-agentes das ditaduras do Cone Sul.

“A gente espera que o processo continue independentemente dos resultados [dos exames]. Tem arquivos para serem desclassificados, oitivas de agentes. Vamos fazer todos os esforços para que o processo continue. A exumação não é a única prova nem a final. Se for inconclusiva, isso não diz nem que foi [assassinado] nem que não foi. Diz apenas que em função do tempo que se passou desde a morte, essa ou aquela substância não foi encontrada”, explica o advogado.

A previsão de que o anúncio do resultado da exumação de Jango seja feita na próxima segunda-feira é do governo federal. A ministra da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência, Ideli Salvatti, anunciou que foram concluídos os laudos elaborados pela PF (Polícia Federal), peritos estrangeiros, e por laboratórios internacionais sobre a análise dos restos mortais. O médico João Marcelo Goulart, neto do ex-presidente, também participa da fase final dos trabalhos em Brasília.

“A partir de hoje [terça, 25] todos os peritos, tanto da PF quanto dos dois laboratórios internacionais e peritos de outros países vão abrir os laudos dos três laboratórios e vão fazer toda a confrontação, questionamento. Há requisitos técnicos que precisam ser confrontados e, a partir daí será feito um parecer final, de responsabilidade da PF”, informou durante coletiva de imprensa.

Porém, a informação pegou de surpresa a família Goulart, que trata o anúncio como um atropelo. “O governo apresentou um organograma que em princípio será atendido. Mas pode ser que seja necessária outra prova, outro laudo. Só quem trabalha na área tem essa dimensão. São várias análises, provas, contraprovas, comparações, peritos de diferentes visões que estão analisando e só eles podem determinar se haverá ou não algo para anunciar [na data estipulada]”, salienta  Christopher.

O anúncio será feito nesta segunda, às 11h, depois do retorno de Ideli de uma viagem ao Marrocos. Duas horas antes, a família de Jango deve ter acesso às conclusões – se houver -- dos peritos.

Exumação 37 anos após morte

A exumação de Jango ocorreu em novembro de 2013, 37 anos após sua morte, no cemitério de São Borja, cidade natal do ex-presidente, onde seu corpo está sepultado. Peritos da PF, da Argentina, do Uruguai, de Cuba, de Portugal e da Espanha, além de três laboratórios, um português, um espanhol e um paulista coletaram materiais e os analisam. Foram feitos testes toxicológicos em amostras de ossos e tecidos de Jango e a análise de gases retirados do jazigo.

João Goulart foi deposto em 1964 pelo golpe militar. Ele morreu 12 anos mais tarde, em 1976, durante exílio, na Argentina. Na época, o laudo do perito argentino que examinou o corpo constava apenas “doença” como causa da morte.

As suspeitas de que o ex-presidente tenha sido envenenado ganharam força depois que o ex-agente da ditadura uruguaia Mario Barreiro Neira passou a divulgar que participou da Operação Escorpião,