"'Fora, Dilma' é pouco, é preciso apontar um caminho"; veja análises
As manifestações pelo Brasil neste domingo (12) podem ter tido uma menor presença de público do que há quase um mês, mas o governo ainda vai demorar a recuperar a confiança da população. É o que avaliam cientistas políticos ouvidos pelo UOL para analisar os protestos ocorridos em 24 Estados e o Distrito Federal.
Segundo Fernando Antônio Azevedo, cientista político e professor da UFScar (Universidade Federal de São Carlos), o fato de as manifestações terem sido menores ainda não é um sinal de que a crise passou.
"Evidente que uma manifestação com a mesma intensidade da anterior ou ainda maior colocaria mais pressão política sobre o governo. Mas, apesar do número mais reduzido, a pesquisa Datafolha, publicada hoje, mostra que a popularidade da presidente e o apoio ao governo se encontra num patamar muito baixo e que a erosão do apoio político atinge todos os segmentos do eleitorado, inclusive as camadas e regiões que até as eleições do ano passado apoiavam Dilma", disse.
Azevedo também afirmou que a presidente tem pouco espaço de manobra para reagir aos protestos e que uma possível recuperação da popularidade do governo depende, em grande parte, de a economia voltar a crescer, do controle da inflação e da manutenção da renda e do emprego, além da oferta de bens públicos, como educação e saúde.
"São coisas que demandam tempo, e creio que antes de 2016, 2017 não teremos um quadro favorável nesse cenário. Por outro lado, o escândalo da Petrobras e o seu desdobramento jogarão também um peso importante na avaliação do governo", disse.
Para o cientista político Carlos Melo, falta para as manifestações apontar um caminho.
"As reivindicações são claras, mas é preciso apontar um caminho. O 'Fora, Dilma' me parece pouco", afirmou o cientista político Carlos Melo. "Seria necessário algo mais concreto nesse sentido, mas é preciso apontar para objetivos mais completos."
Melo também não diz acreditar que a crise tenha passado. "Uma coisa é a situação abrandar. Houve solução ou a presidente parou de sangrar? O que houve é uma situação em que no último mês a coisa não progrediu. Você precisa de lideranças do governo ou fora dele que indiquem um caminho", afirmou.
Segundo Marco Antonio Carvalho Teixeira, cientista político e professor da FGV, o menor número de pessoas nas manifestações contra o governo mostra que o debate em torno de algumas bandeiras, como o impeachment da presidente, é mais complexo e precisa de condicionantes.
"Sinaliza ainda que as respostas buscadas pelo governo federal, como a sanção da lei anticorrupção e trocas em alguns ministérios, surtiram efeito, ainda que a insatisfação da população tenha crescido", afirmou.
"A rejeição das pessoas em relação ao governo não diminuiu. O governo continua muito mal avaliado, mas, como não existe um fato que justifique o impeachment, as pessoas se questionam se vale todo o esforço porque o resultado não é concreto", disse Teixeira.
De acordo com Azevedo, é muito difícil “manter as pessoas nas ruas sem que haja um cenário de crise institucional, de governabilidade ou caos econômico”.
"Nenhum desses elementos estão presentes no cenário atual. O que há é um forte descontentamento com o governo e seu principal partido. Assim, não é surpresa que os protestos de rua sejam menores do que o anterior e provavelmente, se não ocorrerem novos acontecimentos deflagradores, os protestos tenderão a refluir, como aconteceu em 2013, até mesmo porque não há uma direção partidária capaz de traduzir os protestos em propostas políticas concretas."
Daniel Aarão Reis, historiador e professor na UFF (Universidade Federal Fluminense), vê um caminho semelhante.
“Ainda é cedo para dizer que as manifestações menores de hoje [domingo, 12] indiquem a superação da crise de confiança no governo – que continua atestada pelas pesquisas de opinião pública. Mas podem indicar que a crise diminuiu de intensidade.”
Em todo o caso, disse ele, manifestações sucessivas e sempre crescentes de tamanho e de intensidade só “costumam acontecer num quadro de aprofundamento progressivo das contradições sociais e políticas”. “Não me parece ser o caso, inclusive em função das medidas recentes tomadas por Dilma.”
*Com Estadão Conteúdo
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