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Lamento que seja um governo brasileiro em escândalo de corrupção, diz Cunha

Leandro Prazeres

Do UOL, em Brasília

19/10/2015 17h35Atualizada em 19/10/2015 19h02

Um dia depois de a presidente Dilma Rousseff (PT) dizer lamentar que o escândalo das contas secretas na Suíça atribuídas ao presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), envolva “um brasileiro”, Cunha rebateu nesta segunda-feira (19) as declarações da petista usando a mesma frase. “Eu lamento que seja com um governo brasileiro o maior escândalo de corrupção do mundo”, disse Cunha em entrevista coletiva. 

No último domingo (18), Dilma disse lamentar que as denúncias de que Cunha mantenha contas secretas na Suíça envolvam um cidadão brasileiro. “Eu lamento que seja um brasileiro”, disse na viagem à Suécia

Na última semana, Cunha foi alvo de mais uma denúncia feita pela PGR (Procuradoria Geral da República), desta vez pelas suspeitas de que ele e integrantes de sua família mantinham contas secretas na Suíça. Segundo a PGR, há suspeitas de que as contas eram abastecidas com recursos provenientes do pagamento de propinas do esquema investigado pela operação Lava Jato. Além de Cunha, foram denunciadas a mulher dele, a jornalista Cláudia Cruz e sua filha Danielle Cunha. 

Questionado por jornalistas nesta segunda-feira sobre se ele se sentia à vontade para continuar no comando da Câmara mesmo depois das revelações de que ele e integrantes de sua família mantinham contas na Suíça, Cunha disse não se sentir incomodado. “Não tenho nenhum problema”, disse. Ao falar sobre uma eventual renúncia, Cunha voltou a dizer que vai não pretende se afastar do cargo. “Jamais. Não há essa possibilidade”, afirmou.

Cunha foi questionado sobre os documentos colhidos pelo Ministério Público da Suíça e que foram transferidos para a PGR para auxiliar na investigação sobre as contas secretas atribuídas a ele. De acordo com a PGR, as autoridades suíças conseguiram cópias do passaporte do presidente da Câmara que, segundo as investigações, foram utilizadas para a abertura de contas no país europeu. “A própria nota [publicada na sexta-feira] diz. Eu vou ter acesso [aos documentos] e meus advogados contestarão. E sobre esse assunto eu só falarei ou por nota ou por meus advogados”, disse.

Em agosto, Cunha já havia sido denunciado pelos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro, também por seu suposto envolvimento no esquema da Lava Jato. Cunha nega ter contas no exterior e ter recebido “vantagens indevidas”. 

As declarações de Dilma Rousseff foram vistas como uma manifestação de que o Planalto quer se afastar de Cunha enquanto ele sofre um processo por quebra de decoro parlamentar no Conselho de Ética da Câmara, que pode determinar sua cassação. O presidente da Câmara é suspeito de ter mentido durante seu depoimento à CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) da Petrobras em março, quando disse que não tinha contas no exterior. 

Nos últimos dias, no entanto, Cunha se encontrou com integrantes do governo, entre eles o ministro-chefe da Casa Civil, Jaques Wagner, no que foi visto como uma tentativa de o governo se aproximar de Cunha para evitar que ele dê início a um eventual processo de impeachment contra Dilma. 

Esta não é a primeira vez que Cunha ataca o governo desde que ele se transformou num dos principais alvos da operação Lava Jato. Em julho, quando vieram à tona os depoimentos do lobista Júlio Camargo, que disse ter pago US$ 5 milhões em propinas a Cunha referentes ao fretamento de navios-sonda para a Petrobras, o parlamentar anunciou seu rompimento com o governo e disse estar sendo alvo de uma “perseguição” feita pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, que seria orquestrada junto ao Planalto. 

Nos últimos dias, Cunha reforçou os ataques feitos à PGR alegando que as informações sobre os seus processos estariam sendo alvo de “vazamentos seletivos” e que a divulgação sobre suas supostas contas bancárias no exterior seriam uma tentativa de “desqualificar” sua decisão sobre os pedidos de impeachment que tramitam na Câmara contra a presidente Dilma.