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O que explica o encolhimento dos protestos pelo Brasil em nove meses?

Adriano Machado/EFE
Imagem: Adriano Machado/EFE

Ryader Bragon

Colaboração para o UOL, em Belo Horizonte

21/12/2015 06h00Atualizada em 22/12/2015 12h38

Pelo número de participantes --em torno de 2 milhões-- a primeira grande manifestação contra o governo Dilma Rousseff e contra a corrupção, em março de 2015, dava a impressão que o ano seria marcado por atos cada vez mais aglutinadores e marcantes. Mas o que se viu, na sequência, foram eventos nos quais o número de manifestantes foi perdendo força, a ponto de um deles ter se resumido a um protesto em frente ao Congresso Nacional, no dia 15 de novembro, com aproximadamente 2.000 pessoas.

Especialistas ouvidos pelo UOL apontam como causas para o esvaziamento a ausência de propostas dos partidos de oposição ao governo e, em seguida, a frustração com a figura de Eduardo Cunha (PMDB-RJ), presidente da Câmara dos Deputados e opositor do governo Dilma. Eles elencam ainda a resignação das pessoas diante de tantas denúncias de corrupção, além da falta de união entre as entidades que coordenam os protestos.

No entanto, os profissionais descartaram a possibilidade de o governo poder se dar ao luxo de “cantar vitória” por causa da baixa adesão e achar que não precisa se preocupar com o recado das ruas. Relembre como foi cada uma das cinco manifestações nacionais contra a presidente Dilma:

15.mar.2015  2 milhões de pessoas

A primeira manifestação contra o governo Dilma Rousseff e contra a corrupção, motivada principalmente pelo escândalo de corrupção na Petrobras, foi a que registrou o maior número de participantes. Ao menos 2 milhões de pessoas saíram às ruas, segundo cálculo feito pelas polícias militares dos Estados onde ocorreram os atos, que incluíram todas as capitais. Os movimentos “Vem pra Rua”, “Revoltados Online” e “MBL” (Movimento Brasil Livre, contrários ao governo e ao PT, ganharam notoriedade. Outros grupos pediram a intervenção militar no país.

“As pessoas acharam que, a partir da manifestação de março, a presidente cairia na semana seguinte. Os partidários do impeachment foram percebendo que o processo político é muito mais complexo e envolve outros interesses e atores”, disse Wagner de Mello Romão, chefe do departamento de ciência política da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas). 

12.abr.2015 – 560 mil pessoas

A segunda manifestação contra o governo Dilma Rousseff e contra a corrupção teve aproximadamente 560 mil manifestantes. Termômetro dos atos, a avenida Paulista, em São Paulo, registrou 275 mil pessoas, segundo a PM. Principal adversário da petista na campanha eleitoral presidencial de 2014, o senador Aécio Neves (PSDB-MG) limitou-se a gravar vídeos de convocação para as manifestações.

Para o cientista político Rubens Figueiredo, o surgimento de vários casos de corrupção amorteceu o sentimento de indignação de boa parte das pessoas, o que pode explicar o esvaziamento das manifestações. “O noticiário intenso sobre casos de corrupção, feito todo dia, satura. Ninguém se surpreende com mais nada”, declarou.

16.ago.2015 – 795 mil pessoas

A terceira grande manifestação contra o governo Dilma e contra a corrupção reuniu ao menos 795 mil pessoas e foi marcada pelo uso, em Brasília, de um grande boneco inflável, batizado de “pixuleco”, caracterizando o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva vestido com roupa de presidiário.

O senador Aécio Neves (PSDB-MG) participou, pela primeira vez, de ato contra o governo, em Belo Horizonte. Já em São Paulo, o senador José Serra (PSDB-SP) esteve na avenida Paulista, onde 350 mil manifestantes se concentraram, segundo a PM.

“Creio que eles [oposição] perderam uma oportunidade de apresentar, de fato, uma alternativa, ao que estamos vivenciando. Simplesmente se colocaram contra. O cavalo passou arreado e a oposição não subiu nele”, afirmou Malco Camargos, doutor em ciência política e professor da PUC-MG (Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais).

15 de novembro de 2015 – 2.000 pessoas

A quarta manifestação contra o governo Dilma e contra a corrupção foi a menor do ano em número de participantes nos locais onde ocorreu. Em Brasília, resumiu-se a grupo concentrado em frente ao Congresso Nacional. Segundo os organizadores, 3.000 pessoas participaram do ato; a PM, no entanto, informou 2.000. Manifestantes apontaram falta de divulgação como motivo para a baixa adesão ao protesto.

 “As entidades foram se multiplicando e começou a existir uma divisão entre as lideranças. Essas entidades passaram a disputar quem tinha mais força. Houve uma certa fragmentação em torno delas. Tanto que, nesse segundo semestre de 2015, esperavam-se manifestações bem maiores, mas elas não aconteceram”, disse o consultor político Gaudêncio Torquato.  

13 de dezembro de 2015 – 46,9 mil pessoas

Última grande manifestação contra o governo Dilma Rousseff, em 2015, esse ato foi o primeiro após a acolhida do processo de impedimento dela pelo presidente da Câmara. Conforme dados das PMs das principais cidades onde ocorreram os eventos, em torno de 46,9 mil pessoas estiveram nas ruas. Os organizadores denominaram os atos do domingo de “esquenta’, em alusão a 2016, ano em que manifestações maiores são esperadas.

“O cenário que a gente vê para o primeiro semestre de 2016 é de um governo e de uma política econômica cada vez mais pressionados. Isso pode levar mais gente favorável ao impeachment para as ruas, bem como pode haver uma pressão muito forte dos movimentos sociais, do PT e da esquerda, que entendem que a atual política econômica é equivocada e suicida”, disse Wagner Romão.