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Multidão na Paulista teve clima de Carnaval, mas poucos viram Carreta Furacão

Em cima de palcos, lideranças de movimentos conduziram multidão em dia de votação - Nelson Almeida/AFP
Em cima de palcos, lideranças de movimentos conduziram multidão em dia de votação Imagem: Nelson Almeida/AFP

Emanuel Colombari

Do UOL, em São Paulo

18/04/2016 12h52

A concentração para acompanhar os votos do impeachment na Câmara, realizada na avenida Paulista (região central de São Paulo) no domingo, teve tom de Carnaval de rua. Reuniu famílias e amigos, em clima animado; em vez de protestar, tiraram a tarde para torcer por 342 votos favoráveis.

A multidão foi empurrada por trios elétricos e palcos montados sobre calçadas.

No principal palco, diante da sede da Fiesp, um animador conduzia as manifestações da multidão, entoando palavras de ordem como “quem não pula é petista”. Nos trios do Movimento Brasil Livre e do Vem Pra Rua, personalidades como o humorista Danilo Gentili e o escritor Flavio Morgenstern discursavam para a multidão, alternando entre o humor e a inflamação.

Manifestantes na Paulista comemoram aprovação do impeachment

Band Notí­cias

Quando a contagem de votos começou, o público parou para acompanhar cada deputado em um dos telões. A cada "sim," bandeiras do Brasil eram agitadas, e aplausos e comemorações tomavam conta das pistas. A cada "não" ou abstenção, o carinho irônico das faixas “Tchau, querida”  era deixado de lado:

“Vagabundo!”

“Comunista!”

“FDP”

“Traidor!”

Com o cair da noite, o ânimo do público foi diminuindo --pudera, a votação começou mais tarde e foi mais longa do que o esperado. Aos poucos, a multidão se dispersou de determinados trechos (notadamente entre as alamedas Campinas e Pamplona) e foi se concentrando diante dos telões. Ali, os animadores se concentravam em manter o pique e explicar quem era cada um que votava contrário ao impeachment de Dilma Rousseff.

“Olha esse aí, tá vendo? Esse aí era um dos indecisos. Esse aí é amigo do PT! Esse aí recebe pra votar!”, narravam.

Quando o deputado Bruno Araújo (PSDB-PE) declarou seu sim, o 342º do domingo, a multidão explodiu em festa. Bandeiras tremulavam, amigos se abraçavam, casais se beijavam, crianças faziam festa. Apitos. Buzinas.

No palco da Fiesp, o presidente da entidade, Paulo Skaf, apareceu para comemorar a votação do impeachment. Sua imagem apareceu no telão, acompanhada da mensagem “O Brasil venceu”. Mesmo proibida pela Comissão de Proteção à Paisagem Urbana (CPPU), a entidade projetou a imagem da bandeira do Brasil em seu prédio.

Imagem da bandeira do Brasil no prédio da Fiesp - J. Duran Machfee/Futura Press/Estadão Conteúdo - J. Duran Machfee/Futura Press/Estadão Conteúdo
Fiesp foi proibida, mas exibiu imagem da bandeira do Brasil para comemorar na Paulista
Imagem: J. Duran Machfee/Futura Press/Estadão Conteúdo

Nas caixas de som, alternavam o Tema da Vitória e o sucesso "Viva la Vida", da banda britânica Coldplay.

“Eu costuma rolar os dados,
Sentir o medo nos olhos dos meus inimigos.
Escute como a multidão canta:
‘Agora o velho rei está morto; vida longa ao rei’.”

Àquela hora, perto das 23h30, o público nem acompanhou os últimos votos. O resultado estava garantido, e o metrô ia logo fechar. Famílias e amigos então caminharam até as estações Consolação e Paulista para embarcar rumo a suas casas.

A anunciada apresentação da Carreta Furacão, sucesso da internet, só aconteceu depois da votação --mas bem menos gente ficou na rua para ver.

Votação do impeachment tem torcida contra, a favor e "nem ai?"

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