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Gravação de Jucá "deixa evidente caráter golpista do impeachment", diz Dilma

Do UOL, em São Paulo

23/05/2016 22h07

A presidente afastada Dilma Rousseff (PT) afirmou na noite desta segunda-feira (23) que a gravação envolvendo o ministro afastado do Planejamento, Romero Jucá, e o ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado "deixa evidente o caráter golpista e conspiratório que caracteriza esse processo de impeachment".

Na gravação, revelada nesta segunda-feira pelo jornal "Folha de S.Paulo", Jucá sugeriu que uma "mudança" no governo federal poderia levar a um pacto para "estancar a sangria" representada pela Operação Lava Jato. Jucá e Machado são investigados pela Lava Jato. Na conversa, os dois concordam com que a melhor forma de alcançar esse objetivo seria uma substituição no comando do país, com o impeachment de Dilma.

"Agora, mais do que nunca, está claro o caráter golpista, o caráter verdadeiramente golpista desse processo de impeachment", acusou Dilma, em discurso para o público do Congresso de Trabalhadores na Agricultura Familiar do Brasil, em Brasília, organizado pela Federação Nacional dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura Familiar, vinculada à CUT (Central Única dos Trabalhadores).

Dilma lembrou que, "desde o iniciozinho desse processo, nós viemos denunciando o desvio de poder que está na base desse processo de impeachment, que não tem crime de responsabilidade para segurar qualquer das suas bases".

Para a presidente, "se alguém ainda não tinha certeza de que há um golpe em curso, baseado no desvio de poder, na fraude, as declarações fortemente incriminadoras de Jucá sobre os reais objetivos do impeachment, sobre quem está por trás dele, eliminam qualquer dúvida".

A presidente afastada citou e comentou trechos específicos da transcrição, como o que aproxima o presidente interino Michel Temer (PMDB) do deputado afastado Eduardo Cunha (PMDB-RJ): "Eduardo Cunha ainda dá as cartas", interpretou Dilma.

Ela afirmou que continuará nas ruas, no campo e nas cidades, para defender seu mandato: "Estarei em paz, mas firme em minhas convicções e clara em meus objetivos. Firme, portanto, para impedir o golpe, para impedir que eles mudem os direitos e as conquistas tão lutados por todos vocês. Quero que o país volte a crescer, destravar a economia".

Dilma disse ainda que, em conjunto com os movimentos sociais, vai "derrotar os golpistas": "Vamos juntos fortalecer a democracia nesse país. Lutei a minha vida inteira, acho que a luta dignifica as pessoas. Tenho certeza de que nós lutaremos para reconquistar aquilo que nos foi tirado através de um golpe, que tem a mania de não querer ser chamado de golpe, mas que a realidade demonstra, como é o caso dessa gravação do senador Jucá, que mais do que um golpe, é uma farsa e uma tentativa de iludir o povo do nosso país".

A presidente afastada afirmou que vai "voltar de uma forma ou de outra". E encerrou, aos gritos de "Fora, Temer!" da plateia, lembrando a legitimidade que só as urnas conferem a um governo: "Sem passar pelo voto não há nada legítimo sobre o Brasil. Sou a presidenta do governo eleito por 54 milhões de pessoas".