Senadores de comissão do impeachment ignoram prisão de ex-ministro petista
A prisão do petista Paulo Bernardo, ex-ministro do Planejamento e das Comunicações dos governos Lula e Dilma Rousseff, foi ignorada durante a sessão desta quinta-feira (23) da comissão que julga o impeachment da presidente afastada no Senado.
Diferentemente de reuniões anteriores, quando menções a fatos alheios ao processo frequentemente provocaram intensas discussões entre senadores pró e contra o afastamento de Dilma, as conversas sobre a ocorrência da manhã desta quinta ficaram restritas aos corredores do Congresso.
O ex-ministro é marido da senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR), uma das mais ativas integrantes do colegiado. Ela não compareceu a nenhuma reunião da comissão nesta semana por estar em um encontro do Mercosul --a petista faz parte da comissão de assuntos econômicos do parlamento do bloco. Gleisi também não compareceu à sessão desta quinta.
Na opinião de um integrante da comissão, os opositores de Dilma sabem que, se atacarem, os defensores de Dilma "também vão partir para a pancadaria", lembrando da revelação, nesta quinta, de um vídeo que compromete o ex-presidente do PSDB Sérgio Guerra, morto em 2010.
O parlamentar também disse entender que há na comissão um certo respeito pela situação de Gleisi, que presenciou a prisão do marido ao lado dos filhos. Ainda segundo o senador, existe um "sentimento geral de consternação com relação ao que a Justiça está fazendo com os políticos".
O assessor de um senador pró-impeachment confirmou que o parlamentar não usaria do seu tempo de fala para perguntas na comissão para citar a prisão de Paulo Bernardo.
A única menção ao episódio foi feita de forma indireta pela advogada de acusação Janaína Paschoal, que é uma das denunciantes do impeachment.
"Todo santo dia tem um escândalo envolvendo o partido da presidente, isso não se pode negar", declarou a advogada durante questionamento à primeira testemunha de defesa, o subsecretário de Planejamento, Orçamento e Administração do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, Anderson Lozi da Rocha.
O ex-ministro foi preso no âmbito da Operação Custo Brasil, que é um desdobramento da fase Pixuleco 2 da Operação Lava Jato, de agosto de 2015. Além da PF, a ação é comandada pelo Ministério Público Federal e a Receita Federal.
Paulo Bernardo ocupou as pastas do Planejamento, entre 2005 e 2011, no governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e das Comunicações, entre 2011 e 2015, na gestão da presidente Dilma.
Testemunha dispensada
O clima da sessão foi tão tranquilo que a segunda testemunha convocada a falar, pela defesa de Dilma, foi dispensada sem contestação pelos integrantes da comissão.
O pedido para liberar o diretor da Associação Nacional dos Servidores de Carreira de Planejamento e Orçamento, Leandro Freitas Couto apresentado pelo relator do colegiado, Antonio Anastasia (PSDB-MG), logo após o primeiro depoimento. O senador justificou a medida lembrando ter solicitado a dispensa de outro depoente ligado a entidades de classe anterioramente, arroladas pelo juízo.
Advogado de Dilma, o ex-ministro da Justiça José Eduardo Cardozo lembrou que a entidade dirigida por Couto já se manifestou, em nota, pela legalidade dos atos da presidente afastada, e leu um trecho do documento. Em seguida, disse concordar com a dispensa, que logo foi aprovada pelo colegiado.
Última depoente do dia, a ex-secretária de Orçamento Federal, Esther Dweck, começou a falar por volta das 13h. Inicialmente convocada pelo senador José Medeiros (PSD-MT), que defende o impeachment, ela chegou a ser dispensada pelo colegiado no último dia 13, provocando revolta entre aliados de Dilma. Cardozo resolveu então incluí-la no rol de testemunhas de defesa.
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