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Influente, Garotinho já fez greve de fome e foi condenado pela Justiça

O ex-governador foi preso nesta quarta-feira (16) acusado de comandar esquema de corrupção - Wilton Junior/Estadão Conteúdo
O ex-governador foi preso nesta quarta-feira (16) acusado de comandar esquema de corrupção Imagem: Wilton Junior/Estadão Conteúdo

Paula Bianchi

Do UOL, no Rio de Janeiro

16/11/2016 22h12

Apesar de não ter sido candidato à prefeitura do Rio de Janeiro, Anthony Garotinho (PR) foi um dos nomes mais citados durante toda a campanha. Debate sim, debate também, os candidatos questionavam qual seria a influência do ex-governador em um provável governo do senador Marcelo Crivella (PRB), eleito prefeito tendo um nome do PR indicado por Garotinho como vice. Preso nesta quarta-feira (16) acusado de comandar com "mão de ferro" um "verdadeiro esquema de corrupção eleitoral" em Campos dos Goytacazes, no norte do Estado, permanece desde o fim dos anos 1980 como um dos nomes mais influentes e polêmicos da política fluminense.

Desde então, Garotinho já foi duas vezes prefeito de Campos, onde ele e sua família formaram uma espécie de clã político, deputado federal, secretário estadual de segurança e governador. Em 2002, quando estava no auge político, concorreu à presidência pelo PSB, conquistando, com forte apoio do eleitorado evangélico, 15 milhões de votos.

Nascido em Campos em 1960, Anthony William Garotinho Matheus de Oliveira ganhou o apelido na adolescência, ao narrar preliminares de jogos de futebol na Rádio Cultura, de Campos, imitando o Garotinho José Carlos Araújo, da Rádio Globo do Rio de Janeiro. Entrou para a política nos anos 1980, primeiro filiando-se ao PT e, depois, por influência do então governador Leonel Brizola, ao PDT, partido pelo qual foi eleito prefeito de sua cidade natal em 1988 e no qual permaneceu até 2000, saindo após divergências com o padrinho político.

Em 1994, tentou pela primeira vez o governo do Estado, que conquistou na eleição seguinte ao derrotar Cesar Maia no segundo turno. Deixou o cargo em 2002 para concorrer à Presidência, emplacando a esposa, Rosinha Garotinho (PSB) como sucessora. Eleita no primeiro turno, ela nomeou o marido secretário de Segurança Pública.

Greve de fome

Ele chegou a fazer uma greve de fome de 11 dias durante o governo da esposa em protesto contra o que chamou de perseguição política e tentativa da mídia de desconstruir sua imagem. A greve de fome foi iniciada após a veiculação em diversos órgãos de imprensa de reportagens apontando irregularidades nas doações para a pré-campanha de Garotinho e a suposta ligação delas com contratos de prestação de serviços para o governo do Rio, administrado por Rosinha.

Rosinha também foi prefeita de Campos duas vezes e Clarissa Garotinho, uma dos nove filhos do casal – cinco deles adotivos --, foi a segunda deputada estadual mais votada do Rio de Janeiro na eleição de 2014. Atualmente, Clarissa é uma das lideranças do PR no Rio. Ela fez parte da costura política que marcou a aliança entre Crivella e o partido, que culminou na indicação do vice do senador na chapa, Fernando Mac Dowell (PR).

Já no começo do governo de Rosinha, os dois trocaram o PSB pelo PMDB. Garotinho chegou a presidir o partido no Estado, deixando a sigla em 2009 em prol do PR após divergências com Sérgio Cabral, que ajudou a eleger governador.

Condenação

No ano seguinte, foi condenado a dois anos e meio de prisão por formação de quadrilha, pena revertida em prestação de serviços -- a decisão, de primeira instância, não foi alcançada pela Lei da Ficha Limpa. Na mesma sentença, o ex-chefe da Polícia Civil na sua gestão, Álvaro Lins, foi condenado a 28 anos de reclusão por corrupção passiva, lavagem de bens e formação de quadrilha. Ainda assim, concorreu a deputado federal, tornando o candidato mais votado do Rio e o segundo mais votado do país, atrás apenas do palhaço Tiririca (PR-SP).

Em 2014, concorreu, mais uma vez, ao governo do Rio de Janeiro. Apesar de ter passado boa parte das pesquisas à frente, não conseguiu passar do primeiro turno, sendo superado pelo então vice-governador Luiz Fernando Pezão (PMDB) que se elegeu após vencer Crivella.

A decisão de prendê-lo nesta quarta é resultante de uma investigação da Polícia Federal que apura a suspeita de compra de votos em Campos durante as eleições deste ano –
Garotinho é secretário de Governo na gestão de Rosinha na cidade. O nome da operação, Chequinho, é uma referência ao programa Cheque Cidadão, que teria sido usado como moeda de troca para votos por candidatos à Câmara Municipal.

Garotinha ainda é alvo de três inquéritos no Supremo Tribunal Federal que apuram os crimes de peculato, lavagem de dinheiro, ameaça e crime eleitoral. Também é alvo de ações de improbidade na Justiça fluminense. Em 2013, o então procurador-geral da República, Roberto Gurgel, denunciou o casal por suspeita de desvio de dinheiro do Estado do Rio de Janeiro. Conforme a denúncia de Gurgel, os dois teriam participado das irregularidades com o objetivo de obter recursos para financiar a pré-candidatura do político à Presidência da República em 2006. À época, ele acabou desistindo de concorrer.