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Com prisões de Eike e Cabral e novos inquéritos, Rio vira foco da Lava Jato

Eike Batista chega à sede da PF no Rio para prestar depoimento na última terça-feira - Ricardo Borges/Folhapress
Eike Batista chega à sede da PF no Rio para prestar depoimento na última terça-feira Imagem: Ricardo Borges/Folhapress

Flávio Costa, Leandro Prazeres e Vinicius Konchinski

Do UOL, em Curitiba

04/02/2017 04h00

A prisão do servidor Ary Ferreira Filho, operador do esquema de corrupção chefiado pelo ex-governador Sérgio Cabral (PMDB)não deixa espaço para dúvidas: de todos os "filhotes" gerados pela Operação Lava Jato em Curitiba, nenhum tem dado mais frutos do que os inquéritos conduzidos no Rio de Janeiro.

São chamados de "operações filhotes" os processos abertos em outros Estados, a partir das descobertas das investigações iniciadas em 2014 na capital paranaense sobre casos de corrupção na Petrobras.

"É natural que aconteça um desdobramento da Lava Jato com 'filhotes' da operação por todo o país", afirmou em entrevista ao UOL o procurador da República Deltan Dallagnol, coordenador da força-tarefa da Lava Jato no Paraná.

Investigadores e advogados afirmaram à reportagem que os inquéritos abertos no Rio somados às informações contidas nas delações de empreiteiras, a exemplo das realizadas pelos 77 executivos da Odebrecht, vão tornar a capital fluminense protagonista da Lava Jato durante o ano de 2017. 

Os desdobramentos no flanco carioca resultaram também nas prisões do próprio Cabral, de sua atual mulher, a advogada Adriana Ancelmo, e do empresário Eike Batista, dentre outras pessoas.

Operador de Cabral é preso no Rio de Janeiro

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"A equipe da PF e do MPF avançaram suas investigações sobre o esquema no Rio, a partir do material recebido de Curitiba, mais do que em outros Estados", confidenciou um delegado federal que atua na Lava Jato em Curitiba.

Advogados negociam parcerias

"O esquema revelado em Curitiba mostra, mais do que qualquer outra coisa, uma tentativa de manter partidos no poder. Já no Rio o esquema é de corrupção pura e simplesmente, marcado pela ganância e despudor em relação ao trato com o dinheiro público", diz um dos advogados mais atuantes nos processos da operação, sob a condição de ter sua identidade preservada.

Uma das consequências do maior destaque do Rio no âmbito da Lava Jato é o fato de que criminalistas curitibanos e cariocas negociarem parcerias para uma atuação conjunta nos casos da Lava Jato nas duas cidades. "Tenho muitos clientes de Curitiba e no Rio e muitos advogados estão me procurando para propor parcerias", diz um criminalista do Rio, que também pediu para que seu nome fosse preservado.

Eike foi preso ao desembarcar no Rio, na última segunda-feira

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Outro fato exemplar dessa ponte "Curitiba-Rio" é a abertura de uma filial carioca do escritório do advogado curitibano Antonio Figueiredo Basto. "Estamos estudando isso. Acredito que até março deve estar ok", afirma Basto. "Temos muitos clientes no Rio. Facilita o trabalho", explica.

Figueiredo Basto é o advogado que tem como clientes vários delatores de destaque na Lava Jato: o doleiro Alberto Yousseff, o ex-senador Delcídio do Amaral e o ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró, entre outros. Ele ainda negocia com o MPF a delação Renato Duque, ex-diretor da Petrobras, atualmente preso.

Juiz linha dura

Outro dado importante para o avanço da Lava Jato no Rio é a atuação do juiz federal Marcelo Bretas, considerado por muitos ainda mais "linha dura" do que Sergio Moro, responsável por julgar as ações penais da operação em primeira instância na 13ª Vara Federal de Curitiba.

Tido como sério, severo e discreto, Bretas decretou as prisões de Cabral e Eike e outros acusados. Em outro processo ligado à Lava Jato, Bretas condenou o almirante Othon Luiz Pinheiro da Silva, ex-presidente da Eletronuclear, a 43 anos de prisão - uma pena muito mais dura que as de Moro, que condenou o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu a 23 anos de cadeia.